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EU ESTAVA COM medo de estar frio demais para ficarmos na casa na árvore por muito tempo, mas está fazendo um calor incomum, tanto que papai começa um de seus discursos sobre mudanças climáticas, e depois de certo tempo Sophi e eu passamos a ignorá-lo.

Depois da falação, pego uma pá na garagem e começo a cavar embaixo da árvore. A terra está dura, e demoro um tempo para pegar no ritmo, mas finalmente, depois de algumas dezenas de centímetros, alcanço a cápsula do tempo. Ela é do tamanho de um cooler pequeno; parece uma garrafa térmica futurista. O metal erodiu por causa da chuva, neve e terra, mas não tanto quanto se esperaria, considerando que se passaram quase quatro anos.

Levo-a para casa e lavo na pia, para que fique brilhando de novo. Perto de meio-dia, encho um carrinho de compras com sanduíches de sorvete, caixinhas de sucos de frutas e salgadinhos e levo tudo para a casa na árvore. Estou atravessando o quintal até a casa dos Pearce, tentando equilibrar a sacola de compras, os alto-falantes portáteis e meu celular, quando vejo Gabriel Bak McClaren em frente à casa na árvore, olhando para ela de braços cruzados. Eu reconheceria a parte de trás daquela cabeça platinada em qualquer lugar.

Paro, nervosa de repente e insegura. Achei que Bárbara ou Miih estariam comigo quando ele chegasse e que isso fosse diminuir o constrangimento. Mas não dei sorte.

Coloco todas as coisas no chão e me aproximo para dar um tapinha no ombro dele, mas Bak se vira antes disso. Dou um passo para trás.

— Ah! Oi!

— Oi! — Ele me olha por um tempo. — É você mesmo?

— Sou eu.

— Minha correspondente, a elusiva Carolina Voltan Marzin, que aparece no Projeto das Nações Unidas e some sem nem dizer oi?

Eu mordo o lábio.

— Tenho certeza de que eu disse pelo menos oi.

— Tenho certeza de que não — responde Bak, provocando.

Ele está certo: eu não disse. Estava nervosa demais. Meio como agora. Deve ser a distância entre conhecer uma pessoa quando se é criança e vê-la agora que os dois estão mais crescidos, mas não totalmente, e existem tantos anos e cartas entre os dois, e você não sabe como agir.

— Ah, sei lá. Você parece... mais alto.

Ele está mais do que mais alto. Agora que posso olhar para ele de verdade, reparo em mais coisas. Com o cabelo diferente, a pele meio amorenada e as bochechas rosadas, ele podia ser o filho de um fazendeiro inglês. Mas é magro, então o filho sensível do fazendeiro que foge para o celeiro para ler. A ideia me faz sorrir, e Bak me olha com curiosidade, mas não pergunta por quê.

Com um aceno, ele diz: — Você está... exatamente a mesma.

Engulo em seco. Isso é bom ou ruim?

— Estou? — Fico nas pontas dos pés. — Acho que cresci pelo menos uns três centímetros desde o oitavo ano.

E meus peitos estão um pouco maiores. Não muito. Não que eu queira que Bak repare, só estou dizendo.

— Não, você está... do jeito que me lembro de você. — John Ambrose estica o braço, e acho que ele vai me abraçar, mas só está querendo pegar a sacola, e há uma dança curta e estranha que me envergonha, mas ele não parece perceber. — Obrigado por me convidar.

— Obrigada por vir.

— Quer que eu leve isso lá para cima?

— Claro — respondo.

Bak pega a sacola da minha mão e olha dentro.

— Uau. Todas as coisas que a gente comia! Por que você não sobe primeiro e eu passo para você?

P.S.: Ainda amo você |ADAPTAÇÃO BABITAN|Where stories live. Discover now