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AS REGRAS SÃO estas: nossas casas são zona segura. A escola também, mas não o estacionamento. Ao passar pela porta, o jogo está valendo. Você perde se for tocado com as duas mãos. E, se não cumprir o desejo, sua vida já era. Heloísa inventa essa última parte, e sinto arrepios.

Bianca Lula dá de ombros e diz: — Garotas são assustadoras.

— Não, as garotas da família delas são assustadoras — diz Bárbara, indicando Milena e Heloísa. As duas sorriem, e, nesses sorrisos, vejo a semelhança familiar.

Olhando de esguelha para mim, Bárbara fala, esperançosa: — Mas você não é assustadora. Você é um doce, não é, loirinha?

De repente, me lembro de uma coisa que Stormy disse. Não deixe que ela fique segura demais em relação a você. Bárbara é muito segura em relação a mim. Tão segura quanto uma pessoa pode ser.

— Eu também posso ser assustadora — respondo baixinho, e ela fica lívida. Para o resto das pessoas, digo: — Vamos só nos divertir.

— Ah, vai ser divertido — garante Bak. Ele coloca o boné dos Orioles na cabeça e ajusta a aba. — Valendo. — Ele me olha nos olhos. — Se você me achou bom no Projeto das Nações Unidas, espere para ver minhas habilidades de A Hora Mais Escura.

Ando com todo mundo até onde os carros estão estacionados, e ouço Bárbara mandar Heloísa pegar carona com Miih, o que faz as duas reclamarem.

— Se virem — diz Bárbara. — Eu vou ficar com a minha namorada.

Heloísa revira os olhos, e Miih resmunga.

— Aff. Tudo bem. — Para Heloísa, ela diz: — Entra.

Miih está dando a ré quando Bak pergunta para Bárbara: — Quem é sua namorada?

Meu estômago despenca.

— Voltan. — Bárbara olha para ele de um jeito engraçado. — Você não sabia? Que estranho.

Agora, os dois estão me olhando. Bárbara está confusa, mas Bak entende, seja lá o que for. Eu devia ter contado para ele. Por que não contei?

• • •

Todo mundo vai embora logo depois, menos Bárbara.

— A gente vai conversar sobre isso? — pergunta ela, me seguindo até a cozinha. Estou com o saco de lixo com todas as embalagens de sanduíche de sorvete e caixinhas de suco, e recusei a ajuda dela na hora de descer com tudo. Quase tropecei na escada, mas não importa.

— Claro, vamos conversar. — Eu me viro e avanço para cima dela, balançando o saco de lixo na mão. Ela ergue as mãos, alarmada. — Por que você trouxe Heloísa para cá?

Bárbara faz uma careta.

— Ah, desculpa, Voltan.

— Você estava com ela? Foi por isso que não chegou mais cedo para me ajudar a arrumar? 

Ela hesita.

— É, eu estava com ela. Ela me ligou chorando, então eu fui para a casa dela e não consegui deixar ela lá, sozinha, por isso decidi convidá-la.

Chorando? Heloísa não chora. Ela não chorou nem quando a gata dela, Rainha Elizabeth, morreu. Devia estar fingindo para fazer Bárbara ficar.

— Você não podia deixá-la sozinha? 

— Não — diz ela. — Ela está passando por um monte de coisa agora. Só estou tentando ajudar. Como amiga. Só isso!

P.S.: Ainda amo você |ADAPTAÇÃO BABITAN|Where stories live. Discover now