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BÁRBARA E EU estamos sentadas na varanda da minha casa. Consigo ouvir a tevê ligada na sala. Sophi está vendo um filme. Há um silêncio interminavelmente longo entre nós, só o som de grilos cricrilando.

Ela fala primeiro.

— Não é o que você está pensando, Carol. De verdade.

Levo um momento para organizar os pensamentos, para elaborá-los em algo que faça sentido.

— Quando começamos isso, eu ficava feliz só de estar em casa com minhas irmãs e meu pai. Era confortável. E aí, começamos a sair, e foi como... foi como se você me levasse para o mundo. — Com isso, o olhar dela se suaviza. — Primeiro, foi assustador, mas depois eu gostei. Parte de mim quer ficar ao seu lado para sempre. Eu poderia fazer isso sem o menor esforço. Poderia amar você para sempre.

Ela tenta deixar a voz suave.

— Então faça isso.

— Não posso. — Eu inspiro, trêmula. — Eu vi vocês duas. Você estava abraçando Heloísa. Ela estava nos seus braços. Eu vi tudo.

— Se tivesse visto tudo, saberia que não aconteceu nada — começa ela. Eu só fico olhando para Bárbara, e o rosto dela desmorona. — Poxa, não me olhe assim.

— Não consigo evitar. É o único jeito como eu consigo olhar para você agora.

— Rajah precisava de mim hoje, então fui consolá-la, mas só como amiga.

— Não adianta, Bárbara. Ela se declarou sua dona muito tempo atrás, e não tem espaço para mim aqui. — Minha visão está ficando embaçada com as lágrimas. Seco os olhos com a manga da jaqueta. Não posso mais ficar aqui, perto de Bárbara. Está me machucando muito olhar para o rosto dela. — Eu mereço mais do que isso, sabe? Mereço... mereço ser a pessoa mais importante de alguém.

— Você é.

— Não, não sou. Ela é. Você ainda está protegendo Rajah, o segredo dela, seja lá qual for. Mas de quê? De mim? O que eu fiz para ela?

Ela abre as mãos, impotente.

— Você me tirou dela. Você se tornou minha pessoa mais importante.

— Não sou, não. Essa é a questão. Ela é.

Ela gagueja e tenta negar, mas não adianta. Como eu poderia acreditar nela, se a verdade está bem na minha frente?

— Sabe como sei que ela é a pessoa mais importante para você? Heloísa sempre vem em primeiro lugar.

— Isso é besteira! — explode ela. — Quando descobri que ela fez aquele vídeo, falei que, se ela magoasse você de novo, era o fim.

Bárbara ainda está falando, mas não ouço mais nada que sai da boca dela. Ela sabia. Ela sabia que tinha sido Heloísa quem postou o vídeo. Ela sabia e não me contou.

Bárbara não está mais falando. Só me olha.

— Carolina, o que foi?

— Você sabia?

O rosto dela fica cinza.

— Não! Não é o que você pensa. Eu não soube o tempo todo.

Eu aperto os lábios.

— Então em algum momento você descobriu a verdade, mas não me contou. — É difícil respirar. — Você sabia o quanto eu estava chateada e continuou defendendo a Rajah, depois descobriu a verdade e não me contou.

Bárbara começa a falar muito rápido.

— Me deixe explicar. Só descobri que ela estava por trás do vídeo outro dia. Eu perguntei, e ela desmoronou e admitiu tudo para mim. Naquela noite, ela nos viu no ofurô e gravou tudo. Foi ela quem mandou a gravação para o MeninaVeneno e botou o vídeo na assembleia.

Eu sabia, mas me deixei levar por Bárbara e fingi não saber. E por quê? Por ela?

— Ela anda muito abalada com os problemas pelos quais está passando com a família e ficou com ciúmes, aí descontou em nós...

— Tipo o quê? Pelo que ela está passando?

Eu pergunto, mas não espero resposta. Sei que ela não vai me contar. Estou perguntando para provar uma coisa. Ela faz uma careta.

— Você sabe que não posso contar. Por que fica me fazendo dizer não para você?

— Você mesma se coloca nessa posição. Você tirou o nome dela, não foi? No jogo, você tirou o nome dela e ela tirou o meu.

— Quem liga para o jogo idiota? Voltan, estamos falando de nós.

— Eu ligo para o jogo idiota.

Bárbara é leal a ela primeiro, e depois a mim. É Heloísa primeiro, depois eu. As coisas são assim. Sempre foram. E estou de saco cheio.

De repente, tenho uma revelação.

— Por que Heloísa estava lá fora naquela noite da viagem? Todas as amigas dela estavam no saguão.

Bárbara fecha os olhos.

— Por que isso importa?

Penso naquela noite no bosque. Em como ela pareceu surpresa de me ver. Assustada, até. Ela não estava me esperando. Estava esperando Heloísa. Ainda está.

— Se eu não tivesse ido pedir desculpas naquela noite, você teria beijado Heloísa?

Ela não responde de primeira.

— Não sei.

Essas duas palavras confirmam tudo para mim. Elas tiram meu ar.

— Se eu vencer... sabe o que eu vou desejar? — Não diga, não diga. Não diga a única coisa que você não pode desdizer depois. — Eu desejaria nunca ter começado nada disso.

As palavras ecoam na minha cabeça, no ar. Ela fica surpresa. Os olhos se estreitam; a boca também. Eu a magoei. Era isso que eu queria? Eu achava que sim, mas agora, olhando para o rosto de Bárbara, não tenho certeza.

— Você não precisa ganhar o jogo para ter isso, Voltan. Pode ter isso agora mesmo, se quiser.

Eu estico os braços e coloco as duas mãos no peito dela. Meus olhos se enchem de lágrimas.

— Você está fora. Quem você tirou?

Eu já sei a resposta.

— Heloísa.

Eu me levanto.

— Adeus, Bárbara.

Entro em casa e fecho a porta. Não olho para trás nem uma vez. Nós terminamos com tanta facilidade. Como se não fosse nada. Como se não fôssemos nada. Isso quer dizer que não era para ser desde o começo? Que fomos um acidente do destino? Se era para ficarmos juntas, como pudemos nos separar desse jeito? Acho que a resposta é que não era.

P.S.: Ainda amo você |ADAPTAÇÃO BABITAN|Where stories live. Discover now