cap.265

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Capítulo 265
Lilith se aproximou dele enquanto ele tentava ver quem era. Ela se agachou, observando-o.
— Lili... — Sua voz saiu forçada e difícil enquanto ele tentava respirar. — Hoje não, tá bom? Sinto como se um caminhão tivesse caído em cima de mim.
— Nem hoje e nem nunca... — Suspirou pesadamente ao engolir em seco. — Ainda assim, eu vim cuidar de você uma última vez. — Comentou enquanto ele tentava encará-la.
— O que quer dizer? — Perguntou confuso enquanto ela pegava uma ampola, a qual usou para encher uma seringa e aplicou deliberadamente na perna dele, fazendo-o urrar de dor.
— Você vai ficar bom logo, eu mandei o antídoto para os meninos, desde a última vez... eu pesquisei com meu tio Nate e consegui um remédio eficaz contra o efeito, ele te deixa um pouco anestesiado.
— Nossa... que sensação boa... você é um anjo, sabia? — Confessou erguendo a mão para tocar sua face, mas ela recusou.
Os braços dele ainda estavam sem força, então ele se manteve imóvel.
— Não está mais sentindo dor?
— Não... mas também não consigo me mover. — Explicou, mal conseguindo manter os olhos abertos.
— Ok, eu vou te ajudar.
Ela segurou em suas mãos e tentou puxá-lo, mas não para a sala. Ele a seguiu até a sala de banho, onde havia uma piscina rasa.
— Lili... o que está fazendo? Merda... é estranho não conseguir me mover.
— Eu sei como se sente, vulnerável... fraco, impotente, como se qualquer pessoa pudesse fazer o que quisesse com você, até mesmo lhe dizer coisas duras que podem te machucar.
— Sim... — Confirmou inaudível.
— Meu pai sempre me dizia... pode parecer errado, mas é melhor resolver com agressão, porque usando as palavras certas se pode até causar uma guerra mundial, usando as palavras certas pode até mesmo matar... — Parou, pensativa e insegura. — Pode até mesmo matar sentimentos.
Ela soluçou, sentindo as lágrimas novamente querendo escapar, mas os sentimentos não vinham. Nada saía para fora, a não ser as lágrimas sem emoção. Por dentro, ela estava explodindo e sofrendo.
Naquele momento, a pior sensação, a pior tortura era ter uma voz gritando lá dentro, mas do lado de fora tudo parecia estar bem.
Ela desceu na água e continuou a puxar Ramis até que ele caísse na água gelada. Imediatamente, seu corpo reagiu, e ele se debateu na água enquanto ela assistia sem ajudar, parecia que estava se afogando até ele se segurar na borda, finalmente se apoiando.
— Está tentando me matar? — Perguntou cético enquanto ela saía da água com a calça moletom molhada até os joelhos.
— A água gelada vai fazer o efeito ser mais rápido, você já consegue até mesmo se segurar na borda, estou indo. — Avisou de forma robótica.
— Você está indo embora? — Perguntou ainda atordoado.
— Sim... — Confirmou, tirando a aliança do dedo. — Estou indo, não venho mais aqui. — Anunciou sem o encarar, deixando a aliança escorregar lentamente de sua mão, caindo na borda próxima dele.
Ela dirigiu-se para sua casa; Cassius já a esperava no jardim próximo à entrada, ela estava tão fria e inerte que nem mesmo o percebeu.
— Filha? — Chamou, se aproximando.
— Pai.
— Você está bem?
— Sim, estou bem. — Confirmou, seguindo entre as flores, de repente, selecionando algumas de forma minuciosa. — Eu quero as flores mais perfeitas... — Sussurrou, enquanto Cassius a observava.
— Onde está indo? Deveria entrar, suas roupas estão molhadas. Onde esteve?
— Onde eu estive já não importa e nem onde estou indo. — Murmurou, seguindo em frente.
Cassius a deixou se afastar ao máximo. Ela seguiu pela pista de pouso até uma área que ele conhecia bem. Ela raramente visitava aquele lugar; já fazia muito tempo que ela não sentia falta dele, mas hoje parecia ser um dia considerável a tal ponto.
Ela se sentou próximo ao seu túmulo, depositando com cuidado as flores que havia colhido. Em seguida, encolheu-se em posição fetal, mantendo seu olhar fixo ao retrato de seu velho amigo.
Cassius ficou observando e, em poucos minutos, seus soluços eram audíveis a ponto de fazer o peito dele apertar ao sentir seu sofrimento.
Ele sabia exatamente por que ela tinha ido ali; algo havia quebrado, e ela usou o túmulo de seu amigo para conseguir chorar, porque era a única coisa que sempre doía do mesmo jeito como no primeiro dia.
Cassius decidiu voltar para casa; sabia que ela precisava daquele tempo, então não a incomodou.
— O que aconteceu? — Perguntou Laysa, que estava sentada no sofá.
— Algo quebrou... — Suspirou preocupado.
— O que?
— Lilith se machucou, ela está desabafando no túmulo de Élvis.
— Mas... já fazia tantos meses que ela não ia lá. — Comentou preocupada. — Eu vou até lá.
— Não, deixa ela sozinha um pouco; ela está magoada porque Ramis disse algumas coisas que feriram seu orgulho, e conhecendo ela... sei que o noivado já era, mas isso nem é o ponto crítico, é como ela estará amanhã.
— Cassius... será que não é necessário que a gente vá vê-la? — Perguntou, enquanto os gêmeos os observavam discretamente de cima da escada.
— Não, apenas deixe ela desabafar; Lilith é muito nova, ela vai conhecer muitos tipos de emoções. Não era o que eu queria.
— Então dever
íamos ajudá-la a lidar. — Sugeriu Laysa, enquanto ele ia até ela, estendendo-lhe a mão.
— Mas antes, eu quero dar esse tempo a ela, também preciso pensar. — Murmurou, a carregando.
— O que está fazendo?
— Te levando para o quarto; já está tarde, vamos descansar.
Assim que os dois seguiram para seu quarto, os gêmeos desceram a escada e saíram, seguindo atrás de Lilith, a encontrando encolhida ainda em frente ao túmulo.
Se aproximaram silenciosamente e se sentaram ao seu lado sem dizer nada, apenas lhe fazendo companhia.
— Eu queria ficar só... — Lamentou, enquanto as lágrimas molhavam seu rosto e gotejavam em seu colo.
— Mamãe contava que quando a gente era bebê, você ficava em nosso quarto deitada no tapete e cuidava da gente. — Comentou Anabel.
— Agora estamos um pouco grandinhos para cuidar de você um pouco, ok? — Comentou Calisto, ambos a abraçaram e ficaram ali, até que conseguiram que ela voltasse para casa.

Cassius. vol.4 A queda das potências. Ato fina.Onde histórias criam vida. Descubra agora