Hora da Verdade

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Preparem os corações! 

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Letícia ficou paralisada! Não sabia se permanecia no quarto ou se saía.

- Onde ela está, Carmen? - a voz de Ricardo se elevou – Diga de uma vez!

- Meu filho, olha...

- Já disse para não me chamar de filho! Não tenho mãe!

A atitude de Ricardo fê-la se decidir; não ficaria ali trancada e deixar que ele insultasse a própria mãe. Seguiu o som das vozes, estavam próximas; mais precisamente na sala abaixo do seu cômodo. A casa era de dois andares.

- Está bem... Ricardo. - retrucou Carmen – Mas já disse que Letícia não está pronta para falar com você hoje. Ela vai voltar amanhã, eu prometo...

- Não acredito em nenhuma palavra sua! - esbravejou Ricardo. Letícia o avistou do alpendre, de costas. - Eu devia saber que você faria algo assim. Aproveitar-se do estado da minha esposa para envolvê-la em seu golpe. - aproximou-se da mãe com postura ameaçadora. Ela se afastou um pouco – Mas isso não vai ficar assim. Eu...

- Rick, pare com isso. – Letícia alçou o tom enquanto começou a descer a escada. Ricardo se virou para ela; a aflição e o alívio estampados na fisionomia. Um nó se formou na garganta dela – Carmen não teve nada a ver com minha decisão de sair de casa. Eu é que...

- Letícia! - foi até ela, quase correndo. Abraçou-a como um desesperado. Ela arfou tanto pelo modo como a tomou quanto por seus próprios sentimentos, mas não o correspondeu – Ah, Deus! Que bom que te encontrei!

- S... sim – disse hesitante e permitiu-se abraçar o marido. Mesmo que não estivesse pronta a encarar Ricardo, era reconfortante os braços dele em sua cintura e aspirar o cheiro mesclado com o perfume dele, além do calor. – Estou aqui, Rick.

- Você está bem? - ele desfez o abraço devagar, encarou-a e tomou seu rosto nas mãos. Ela assentiu – Está alimentada? Não está assustada?

- Ela foi muito bem recebida e tratada aqui... Ricardo – declarou Carmen. O homem não se virou, mas o corpo e rosto tensionaram como se recordasse da presença da mãe – Ninguém a compeliu a vir até aqui, nem a sequestrou. E ela não está mantida em cárcere privado.

- Vamos embora... Letícia – Ricardo fechou os olhos e murmurou com voz tremida e baixa, mas se via a fúria – Não temos mais nada a fazer aqui

- Rick...

- Letícia, estou te pedindo... vamos embora. Não importa o que tenha acontecido pra você vir aqui, só quero que volte para nossa casa comigo – suavizou a expressão do rosto – Por favor...

- Sim... - não conseguiu se negar a ele. O que menos queria era que sofresse por sua causa, mesmo que soubesse ser inevitável – Só... só tenho que arrumar minha mala e...

- Posso mandar minha empregada arrumar para você – declarou Carmen. O rosto de Ricardo tornou a se fechar – Enquanto isso, vocês esperam aqui na sala.

- Obrigada, mas não precisa, são poucas coisas. E eu mesma quero fazer isso

- Vou com você – declarou Ricardo

- Não precisa, Rick, eu...

- Vou com você, te aguardo na porta.

Assentiu depois de uma breve troca de olhares com a sogra; deu meia-volta e subiu as escadas com o marido atrás. Na verdade, pretendia deixar Ricardo a sós com a mãe para que se entendessem, porém, ele não parecia disposto. Adentraram no quarto, mas seu marido permaneceu na porta, conforme havia dito. Letícia organizou sua bagagem; não se demorou porque não havia desfeito tudo. Mesmo assim, aquele curto espaço de tempo a sós com o esposo foi tenso. Não o encarava, mas a atmosfera carregada era palpável no silêncio. Embora não soubesse que emoções ele sentia, fazia alguma ideia. Além da raiva e aflição estampados na fisionomia, talvez o medo e até um pouco de mágoa estariam ali com ele.

Perigosas LembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora