Rivais e Rastejantes

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Bom, ressurgindo mais uma vez dos mortos, rsrsrsrs... E, dessa vez pretendo ir até o fim. Amo essa história e já estava com saudades de escrevê-la pra vcs.

Boa leitura!

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 Letícia se arrumava para ir a uma festa de mais um dos sócios e amigos de Ricardo, um tal Conrado Monteiro.

Havia caprichado bastante no visual: usava um vestido longo e azul de alças que formavam dois trançados numa pequena abertura nas costas; o cabelo formava um coque no alto e com uma madeixa solta em um cacho; a maquiagem estava perfeita. Usava um par de brincos longos e finos de brilhantes e, para combinar, o Leviev Fancy que havia ganho do esposo na primeira festa depois de sua recuperação.

Admirava a mulher linda no espelho e imaginava o rosto do marido ao vê-la. Toda essa produção não era apenas por causa da festa ou mesmo para estar linda para seu esposo. Ela estava decidida a se declarar assim que retornassem do evento. Diria para ele o quanto o amava antes de fazerem amor.

Suspirou. Não precisava de uma festa para isso; era uma coisa tão simples se declarar! Por que tinha que complicar? Quase havia dito na noite anterior, mas acabou travando de novo. O motivo não era mais a vergonha, mas sim a culpa. Já fazia dois dias desde que havia se lembrado da verdadeira razão por ter se casado com Ricardo – por dinheiro – e ainda não se sentia digna de lhe dizer que já o correspondia. Era como se ao dizer soasse falso e contaminasse sua declaração.

Porém, não deixaria que a culpa a impedisse de se aproximar mais ainda de seu marido e quebrar a barreira que havia entre eles. Havia sim uma barreira, imperceptível, mas havia. Ricardo ainda não lhe compartilhava muito sobre si ou o que estava acontecendo em sua vida.

Notava certa tensão nele, mesmo em seus momentos mais intensos e descontraídos. Quando lhe perguntava o motivo, ele desconversava e mudava para assuntos triviais. Embora ela se chateasse, não insistia. Desconfiava do motivo: por duas vezes ao procurá-lo no escritório da casa, ao chegar perto da porta, escutou sem querer ele ralhar com uma pessoa. Era a mãe dele! A mulher havia surgido e ele não havia lhe contado! Talvez fosse ela no telefonema misterioso na ocasião em que foi à multinacional do marido e que o deixou-o aborrecido boa parte do almoço.

Na primeira vez em que catou uma conversa de Ricardo no telefone, ele disse: "Não quero saber nada de você. Não me procure. Você não é minha mãe." E numa segunda: "Eu não tenho mãe! Se você insistir em me procurar, serei obrigado a chamar a polícia e te acusar de falsidade ideológica." Ela saía de fininho por medo de ser surpreendida por Glória ou qualquer empregado da casa e para não dar a impressão ao marido de que estava bisbilhotando.

Não achava certo invadir a privacidade dele, mas estava chateada: era a mãe dele! Devia lhe contar, por mais que houvesse uma mágoa grande. Por outro lado, pelo que entendeu, talvez não fosse. Poderia ser alguém se passando pela Maria Carmen Toledo. Talvez fosse essa a razão pela qual Ricardo ainda não havia lhe dito. De qualquer jeito, gostaria que ele compartilhasse com ela tal situação, em vez de se inteirar de outra forma. Aguardaria por mais um tempo antes de lhe revelar o que já sabia.

Por outro lado, talvez no inconsciente de seu marido, houvesse alguma resistência em lhe pedir apoio justamente por não ter certeza de seu amor. Então Letícia romperia de vez essa barreira entre eles confessando seus sentimentos.

Saiu do quarto depois de mais um retoque no penteado e de se perfumar; havia pedido para Ricardo esperá-la na sala do andar de baixo porque queria surpreendê-lo. Encontrou-o andando de um lado para o outro e consultando o relógio; ficou apreensiva por passar do horário combinado. Contudo, a expressão de deslumbramento do marido ao vê-la no alto da escada desvaneceu qualquer apreensão. Desceu as escadas com lentidão por causa dos saltos; ele se aproximou dos últimos degraus e aguardou-a, os olhos não se desgrudavam dela e analisavam-na de cima a baixo; com certeza, desnudando-a, imaginando suas curvas debaixo do vestido; tomou sua mão quando ela terminou de descer e beijou a palma; os olhos penetrantes e intensos de desejo a fizeram ruborizar.

Perigosas LembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora