Seu marido

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  Mais um capítulo! Espero que gostem  

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Ela ficou sozinha, mas permaneceu sentada já que não havia risco. O aparelho de medir seus batimentos cardíacos foi retirado, assim como a agulha de sua mão e algumas bandagens de seu corpo.

Rafael e Solange haviam acabado de sair: a enfermeira para lhe buscar um espelho a seu pedido para contemplar o próprio rosto; o médico a fim de dar a notícia de sua aparente perda de memória ao marido.

Marido. Estremeceu com a palavra. Qual era o nome do homem mesmo? Ricardo... Ricardo alguma coisa, nem guardou o sobrenome tamanho foi seu espanto. Não que não houvesse passado pela sua cabeça a possibilidade do tal ser um namorado ou até noivo. Mas marido? Era demais.

Por reflexo, levantou a mão esquerda e aí reparou na aliança. Nem muito grossa, nem muito fina, mas dava para contemplar seu brilho. Ouro? Talvez. Ou então apenas banhada.

A mente voltou a se concentrar na figura de Ricardo. Embora não houvesse prestado muita atenção em sua aparência, lembrava-se que ele vestia terno; talvez um executivo importante; não era um tipo de vestimenta para um visitante usar num hospital. Ou não tinha nada a ver; o trabalho dele talvez o exigisse e não teve tempo de se trocar para estar com ela.

Mas... e o sobrenome? Não parecia de alguém comum, sugeria certa importância, tanto que o médico foi capaz de lhe dizer. Seria Ricardo um homem rico?

E daí? Rico ou pobre, ainda era um estranho para ela.

Tentou se recordar de outras particularidades no pouco que o viu, como suas feições; mal havia reparado, tão aflita e confusa. Lembrava vagamente do cavanhaque e barba. Bonito? Não tinha processado. Que importava? Ela não estava pronta para aceitar o tipo de relação entre eles. Queria um pai, uma mãe, irmão, irmã, primo ou até amigo. Mas não marido.

Um marido implicava intimidade e a ideia não lhe agradava no momento. Era como uma adolescente, quase uma criança que estava começando a conhecer o mundo... e sexo não era uma das suas prioridades.

Quantos anos tinha? Embora se sentisse como uma adolescente, não o era se estava casada com um homem que devia ter trinta anos, no máximo.

Não se animou a fazer mais perguntas ao médico depois de se descobrir casada. Ele pediu que se acalmasse, que ela ainda precisava se recuperar e poderia obter maiores informações sobre a própria vida com "o marido."

A palavra fê-la estremecer de novo.

- Oi. Posso entrar?

Sobressaltou-se ao escutar a voz e ao vê-lo no umbral da porta aberta. Não lhe respondeu; ao invés disso, apenas o observou. Ele estava com uma aparência mais cuidada; havia lavado o rosto, se penteado, ajeitado as roupas enquanto ela era examinada pelo médico.

- Posso entrar? – ele repetiu a pergunta com expressão meio constrangida, talvez pela demora da resposta

Ela apenas assentiu, ainda processando os detalhes na aparência dele. Ricardo se aproximou com passos vagarosos, talvez para ser cuidadoso por seu estado. Procurou captar cada detalhe dele enquanto caminhava em sua direção até se sentar na cadeira ao seu lado. Ele pousou as mãos sobre os joelhos e permaneceu silencioso.

O porte alto e másculo, os ombros e o peito largos; trajava um terno cinza e elegante, camisa azul clara por baixo, gravata também azul, mas num tom mais escuro, sapatos pretos e lustrosos. Depois observou a fisionomia: um rosto quadrado, um nariz grosso, mas perfeito, os lábios finos, a boca grande, o cavanhaque, a barba rala, um todo harmonioso.

Perigosas LembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora