Bem, mais um capítulo. Espero que gostem.
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Chegou o dia da alta de Letícia, o quarto do seu despertar.
Por um lado, estava aliviada por seu corpo estar quase recuperado – ainda uma dor numa parte ou outra, mas nada que uma boa pomada e um analgésico não resolvessem –; por outro lado, estava apreensiva pelo momento de deixar o hospital e enfrentar o mundo que a esperava, um mundo do qual não se lembrava.
Não houve progresso na recuperação de sua memória. Realizou os exames com o doutor Tiago e mais testes, porém, sem nenhum avanço.
Os pais tentaram ajudar o mais que puderam relatando alguns fatos de sua infância e juventude, mostraram fotos dos vários álbuns de família, mas nada. Contudo, Letícia, por diversas vezes, notou espaços vazios em alguns desses álbuns, como se determinadas fotos houvessem sido retiradas, especialmente nos que retratavam acontecimentos em que ela era a protagonista, como seus aniversários, eventos e comemorações do colégio, festa de quinze anos...
E também evitavam determinados assuntos, especificamente sobre namorados, se teve algum antes de Ricardo – o que era provável, considerando que ela tinha mais de vinte anos, o curto período de namoro e o pouco tempo em que estavam casados.
- Não, ninguém muito especial – retrucou Luciana – Você não namorava durante muito tempo com alguém.
- Então... eu ficava com muitos rapazes? – Letícia se espantou, imaginando ser promíscua.
- Não, querida, não é isso – a mãe riu desdenhando a ideia – Você sempre foi garota de um homem só, como eu. Apenas... apenas era raro te ver com algum rapaz... e mesmo assim, ninguém... ninguém de quem você gostasse realmente. Você era mais focada nos estudos.
Luciana pareceu desconfortável ao fazer o último comentário. Por essa e outras, Letícia desconfiava que sua mãe mentia e ocultava fatos sobre sua vida amorosa, assim como seu pai. Sempre que lhe perguntava sobre algum provável "genro" antes de Ricardo, ele dava de ombros e dizia: "Pergunte à sua mãe, ela se lembra melhor do que eu".
Será que teve alguma decepção a qual queriam poupá-la de se recordar?
Aliás, não apenas seus pais agiam desse modo, mas principalmente Ricardo.
Óbvio que não lhe fazia perguntas sobre seu histórico amoroso, duvidava que soubesse mais do que seus pais e, mesmo que fosse o caso, tinha consciência que a nenhum homem lhe agradaria falar de relações anteriores de sua esposa; havia perdido a memória, não a noção.
O que estranhava eram as evasivas sobre o próprio relacionamento deles. Toda vez que perguntava sobre o matrimônio, ele ficava tenso e respondia de modo vago como "Tivemos muitos momentos maravilhosos, difícil destacar algum" e logo mudava de assunto, perguntando sobre como ela havia passado o dia.
A atitude dele era mais estranha, pois os pais de Letícia pelo menos lhe relatavam algum fato, embora o fizessem como se editassem ou selecionassem o que contar; Ricardo parecia temer a menor indagação de sua parte fosse sobre o casamento ou outro evento qualquer.
Contudo, ele lhe fez duas concessões. A primeira foi mostrar o álbum da união deles.
- Não nos casamos na igreja? – ela se espantou ao observar que não havia fotos de nenhum templo ou catedral e se ver numa fotografia com apenas um vestido elegante, mas não próprio para uma noiva.
- Não... como resolvemos nos casar rápido... não houve tempo para cuidar de maiores detalhes. Casamos no jardim da minha... da nossa mansão com um juiz.
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Perigosas Lembranças
RomanceLetícia é uma jovem mulher que se vê num quarto de hospital, vítima de um acidente e sem a menor ideia de quem seja. Ao seu lado, encontra-se Ricardo Fontes Guerra, famoso e rico empresário, um homem tão atraente como enigmático que revela ser seu m...