Derrota

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*Alerta de gatilho: tema sensível.

Não havia como Karinne mentir que não tinha ficado um pouco apreensiva depois de Sonny propor novamente que fosse morar com ele, assim com tão pouco tempo de namoro. Contudo, tentou esquecer aquele e todos os outros assuntos que a incomodavam por algumas horas, e apenas aproveitou o momento para estar com ele, de corpo e alma, e depois encontraria o melhor jeito de falar sobre as suas preocupações.

Não se desgrudaram nem sequer por um minuto depois que chegou ali e da breve conversa que tiveram. E estavam de fato tão conectados, que até mesmo sonharam um com o outro. De forma que o sonho que tiveram se tornou apenas uma continuação do que faziam enquanto estavam acordados. Ou seja, se amavam com a intensidade do primeiro amor e a necessidade do último. Aproveitando cada olhar, cada toque.

Karinne acordou algumas horas depois, com o coração apertado. Suava frio, como se tivesse acordado de um pesadelo terrível, o que não era o caso. Intuitivamente, pegou o celular que estava sobre a mesa de cabeceira e na tela viu de relance que Richarlison tinha deixado uma mensagem, que a deixou aflita.

"Quando vir essa mensagem, me ligue imediatamente" - a notificação dizia. E no mesmo instante, Karinne ligou para ele, sem se importar com o horário.

O jogador atendeu a chamada no primeiro toque, mas estava tão nervoso que ela entendeu apenas parte do que estava dizendo. Porém, o que tinha dito era tão impensável, que preferiu acreditar que tinha entendido tudo errado.

Mesmo paralisada pelo susto, duas das diversas palavras inaudíveis que Richarlison tinha dito foram bem claras e não saíram da sua cabeça: "Chelsy" e "hospital". Portanto, não podia ignorá-las, e no momento em que as ouviu soube que precisaria ir ao encontro deles urgentemente, mas ficou indecisa se avisaria ou não a Sonny, uma vez que era uma situação complicada e muito pessoal. No entanto, não poderia sair no meio da noite e deixá-lo sem entender nada, então o acordou e contou o que estava acontecendo.

Sem pensar duas vezes e sem dá-la a chance de o convencer do contrário, Sonny decidiu que iria até o hospital com ela e assim eles fizeram.

Logo que chegaram na recepção foram rapidamente encaminhados até onde Richarlison estava e o encontraram no final do corredor, andando de um lado para o outro. Tinha os olhos vermelhos de tanto chorar e parecia perdido, desesperado, sem chão.

Quando os viu, ele se recompôs por um instante e foi correndo na direção deles. Karinne ficou imóvel, sem saber o que fazer, mas Sonny não se demorou para abraçar o amigo, que desabou nos braços dele, chorando feito uma criança.

- Vem, senta aqui um pouco. Se acalma - Sonny disse, acariciando o ombro direito dele e o convidando para se sentar em uma das cadeiras dispostas no corredor.

O obedecendo, Richarlison se sentou à contragosto. Os cotovelos apoiados sobre os joelhos dobrados, os ombros caídos e as mãos cobrindo o rosto inchado e molhado. Chorava copiosamente, enxugando as lágrimas com o dorso da mão.

- A Chelsy já estava sentindo, agora eu sei... Foi difícil pra ela pegar no sono esta noite e quando foi de madrugada ela me acordou, disse que havia algo de errado com o bebê e nós viemos correndo para o hospital. Mas quando chegamos aqui, o coraçãozinho dele já tinha parado de bater. Ele se foi, o nosso Gabriel se foi - contou, inconsolável.

Naquele momento, tanto Sonny quanto Karinne não sabiam o que dizer a ele, então o abraçaram forte e deixaram que dissesse o que quisesse ou apenas chorasse.

Mesmo estando naquele estado, ele não deixava de pensar nem sequer um segundo em Chelsy, que descansava no quarto ao lado. E assim que se acalmou um pouco, pediu que Karinne fosse vê-la.

Quando a brasileira entrou no quarto de mansinho, Chelsy estava acordada. Não tinha conseguido dormir por muito tempo, mesmo com os calmantes que a deram. E era exatamente isso o que o rosto dela revelava, mas também que tinha chorado até perder as forças e ficar desidratada.

A forma como a olhou, fez o coração de Karinne se partir em mil pedaços. O que tinha acontecido com ela havia matado sonhos e planos que nunca mais poderiam se realizar, e com eles, uma parte dela também havia morrido, de forma que nunca mais voltaria a ser a mesma.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Karinne a abraçou com cuidado. A prima de Richarlison sabia que a britânica tinha a tendência de se culpar, e que naquele ponto já devia ter remoído tudo o que aconteceu e tentado encontrar um culpado ou uma resposta para o que tinha acontecido, então não deixou que fizesse isso novamente.

- Eu não posso nem imaginar o que você deve estar sentindo agora, amiga. Eu sei que você deve estar procurando uma resposta, que deve estar se perguntando por que isso aconteceu, e você tem todo o direito de fazer isso, mas esse não é o momento. Agora o que você tem que fazer é se despedir desse anjinho que ficou um tempinho aqui conosco e que certamente cuidará de nós lá de cima. Você precisa viver esse luto para seguir em frente e eu tenho certeza que é isso que ele quer pra você. Eu sei que é difícil e eu não posso mensurar a sua dor, pois nunca passei por isso, mas você não está sozinha. Você tem a mim, ao Richarlison e ao Sonny também. E mais do que isso, quando você estiver pronta vai poder encontrar toda uma rede de mulheres que também perderam seus anjinhos, e vai acabar percebendo que por mais que essa dor seja dilacerante e pareça insuportável, muitas outras mães já passaram por isso em algum momento da vida. Só que infelizmente muitas delas sofreram caladas, sozinhas, pois esse assunto não é muito debatido. Mas você é diferente. Você não está sozinha e nunca vai estar - Karinne disse, tentando tranquilizá-la.

- Você fala disso com tanta propriedade, parece até que já passou por isso - Chelsy comentou, com o coração um pouco mais tranquilo.

- Não, felizmente eu nunca passei por isso, mas eu pesquisei muito sobre o assunto e acabei descobrindo muitas coisas - Karinne explicou.

Dois dias depois do que aconteceu, Chelsy estava de volta ao apartamento de Richarlison. Entretanto, ambos ainda estavam muito abalados mentalmente, o que acabou reverberando na carreira do jogador. Que não parecia mais o mesmo de sempre, tanto no humor quanto no seu rendimento no futebol, que diminuiu bruscamente, acarretando muitas críticas, vindas principalmente dos torcedores e da mídia, que não faziam ideia do que tinha ocorrido.

Surpreendentemente, os jornalistas falavam até mesmo em uma possível depressão, um assunto que sempre foi tabu no mundo do futebol, e que gerou muita discussão nas redes sociais acerca da saúde mental dos jogadores, que sempre foi negligenciada por pequenos e grandes clubes de todo o mundo.

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𝙰𝚕𝚕 𝚖𝚢 𝚂𝚘𝚗𝚗𝚢 𝚍𝚊𝚢𝚜 | 𝓢𝓸𝓷 𝓗𝓮𝓾𝓷𝓰-𝓶𝓲𝓷Onde histórias criam vida. Descubra agora