Invicto

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Mesmo sabendo poucas palavras em português, todas elas ensinadas por seus colegas de time brasileiros, e, portanto, a maioria não sendo nem um pouco adequadas a um ambiente familiar, por serem de baixo calão, Sonny nunca se sentiu tão acolhido ou se divertiu tanto quanto na ceia de véspera de Natal dos Andrade.

Karinne ficou o tempo todo sentada ao lado dele na mesa de jantar. Estava linda com seu vestido verde escuro, e além de não conseguir tirar o sorriso do rosto, de vez em quando traduzia alguma ou outra conversa importante ou tentava explicar as piadas que Richarlison fazia a cada cinco minutos, para manter a sua pose de "tio do pavê".

Dessa vez, como estava muito bem acompanhada, ela conseguiu evitar a inconveniente pergunta que tinha virado quase uma tradição de Natal: "E os namoradinhos?", os seus familiares se revezavam para perguntar a cada comemoração, o que não causava outra reação em Karinne senão um suspiro arrastado e uma escancarada revirada de olhos.

Só se permitiu pensar naquele tipo de situação incômoda por um segundo sequer, pois estava tão feliz que não havia espaço para chateações. No passado, sempre que comparecia a esse tipo de reunião familiar, julgava silenciosamente as mulheres que serviam os seus companheiros passivamente, como se eles não soubessem colocar a própria comida, mas tendo Sonny como seu convidado de honra, se esqueceu completamente dos seus preceitos, e o que era pior: esqueceu que ele era um atleta e precisava cuidar muito bem do corpo, e não parava de servi-lo com todos os pratos que via pela frente.

Com um sorriso encantador em seu rosto, Sonny não recusava nada, e às vezes ele mesmo pegava algo da mesa, que sabia que ela gostaria de comer, e colocava no prato dela, algo que era muito comum na cultura dele. E assim que fez isso, Karinne percebeu que de fato não era a primeira vez que fazia, mas que tinha o costume de fazer aquilo sempre que comiam juntos.

Embora estivessem entretidos jogando papo fora e comendo, aquela não era uma cena comum de se ver, principalmente porque envolvia Karinne, que era muita cética em relação ao amor e totalmente contrária àquele tipo de interação entre um casal, então as pessoas sentadas à mesa pararam para observar, algumas disfarçadamente e outras nem tanto.

Enquanto o comportamento de Karinne causava estranheza em seus familiares, Richarlison apenas sorria, com um ar misterioso de quem sabe mais do que os outros. Ao seu lado, Chelsy também sorria, não por causa da cena que espantava à todos, e que já tinha se tornado comum para ela, mas por causa da magia que envolvia aquela família, e não se tratava da magia que envolvia o próprio Natal e o fim do ano, mas o tipo de magia que todo brasileiro tem: uma luz diferente, que vem de dentro e é capaz de iluminar os lugares por onde passam. Um tipo de alegria que não depende de bens materiais e honrarias, mas uma alegria que é só deles e que não se pode explicar, apenas sentir.

Agora sabia identificá-la sem nenhum problema, pois convivia com ela desde que chegou ao país. Como também podia afirmar com toda certeza que aquela magia era poderosa, porque tinha sido capaz de curá-la, não completamente, mas o bastante para que tivesse vontade de voltar a viver. E aquilo era óbvio para quem olhava para ela aquela noite, uma vez que estava mais leve e plena, assim como a cor havia voltado ao seu rosto, que antes vivia pálido e cheio de melancolia.

Só de vê-la mais corada e contente, Richarlison não precisava de mais nada. Além de estar feliz por ela, seu coração estava cheio de gratidão por todos aqueles que tinham conseguido ajudá-la de alguma forma, principalmente Karinne que teve a brilhante ideia de levá-la para o Brasil.

Assim que teve a oportunidade, a encurralou em um abraço apertado, e sem deixar que escapasse, disse: "Obrigado", sem dar nenhuma explicação. Contudo, Karinne entendeu exatamente o que ele queria dizer, o abraçando de volta, como quem diz: "Pode contar comigo".

Já havia passado da meia-noite há muito tempo, mas as pessoas conversavam animadamente como se a festa tivesse acabado de começar e nem sequer pensavam em ir embora. Naquele momento, eles tinham se afastado um pouco da mesa de jantar e se dividido em pequenos grupos de três à quatro pessoas, mas permaneciam no mesmo ambiente.

Era difícil para Sonny se comunicar com todos os integrantes da família, sem ter sequer um nível básico de português. No entanto, todo mundo sabia o que significava quando um homem se ajoelhava diante de uma mulher com uma caixa de aliança nas mãos. Então, quando o viram naquela posição, todos pararam o que estavam fazendo, e a sala ficou em completo silêncio, de modo que ele conseguia ouvir as batidas do seu próprio coração.

Ele sabia que havia uma grande chance de que Karinne negasse o seu pedido, uma vez que ela era absolutamente contra obter o visto de residência em Londres através do casamento, bem como havia o fato da família dele ser contra o relacionamento. Mas, quanto a isso, depois que ela retornou ao Brasil, seus pais sentiram na pele o quanto ele sofreu com a falta dela e estavam à ponto de irem buscá-la, eles mesmos, antes de Sonny decidir ir vê-la.

A espera pela resposta dela pareceu durar uma eternidade, embora efetivamente não tenha demorado tanto assim. Ambos estavam nervosos, ainda que, quem os via de fora apenas enxergava um casal apaixonado e totalmente entregue, pelo menos era isso o que o afeto que brilhava em seus olhos demonstrava.

Sonny tinha razão em se preocupar, pois realmente Karinne tinham muitas ponderações em relação ao casamento e eles ainda discordavam em muitas coisas em relação à esse assunto. Entretanto, ela o amava e quando o olhava nos olhos, além do seu próprio reflexo, tudo o que via é que ele também sentia o mesmo.

O amava tanto, que doía vê-lo ajoelhado aos seus pés, aguardando uma resposta. Então, pela primeira vez na vida, decidiu que de agora em diante não sofreria mais por antecipação. Lidaria com o que tivesse que lidar quando o momento chegasse, e por ora só havia uma coisa que precisava realmente fazer: dizer "sim" ao amor da sua vida, agora e para sempre.

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𝙰𝚕𝚕 𝚖𝚢 𝚂𝚘𝚗𝚗𝚢 𝚍𝚊𝚢𝚜 | 𝓢𝓸𝓷 𝓗𝓮𝓾𝓷𝓰-𝓶𝓲𝓷Onde histórias criam vida. Descubra agora