00. família nott

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"Eu os manipulo como um violino

E eu faço parecer tão fácil

Porque pra cada mentira que conto a eles,

eles me contam três

É assim que o mundo funciona"



O VESTIDO PRETO QUE SE ESTENDE ATÉ OS CALCANHARES é apertado e desconfortável, impedindo que o pulmão da jovem consiga se expandir o suficiente para que ela possa respirar tranquilamente. Olhando à sua volta vê diversas pessoas ocupando o ambiente em que mora com sua família, todos vestindo seus trajes mais caros e conversando da maneira mais diplomata o possível. O estomago de Calliope Nott embrulha ao lembrar dos sobrenomes de cada um e logo aproveita que um elfo passa com uma bandeja repleta de taças de alguma bebida alcóolica que ela tinha certeza que foi escolhida pela mãe, afinal ela gostava da substância embriagante o suficiente para tomar todos os dias.

A jovem pega uma taça e bebe o seu conteúdo de uma só vez, já cravando passos até a escada que leva até o segundo andar da casa onde poderá encontrar o seu quarto, se trancar e só sair quando não ouvir mais nenhum som emitido por seres humanos.

Antes que ela possa colocar um de seus pés no primeiro degrau, Lucius Malfoy chega ao seu encalço sorrateiramente com um sorriso nojento.

— Hoje não, Malfoy. — a voz de Calliope sai baixa e rouca de sua boca, talvez pelo fato de não ter proferido uma palavra desde que aquela festa — que mais parecia um velório — começou — Prefiro morrer virgem do que me casar com você.

E o sorriso dele se vai, assim como a jovem de cabelos castanhos ao subir as escadas e entrar em seu quarto. A supremacia puro-sangue a sufoca em dias como este em que aquele agrupamento de idiotas com pensamento primitivo se juntam, comemorando fato de seus sobrenomes estarem entre As Sagradas Vinte e Oito.

Os sapatos de salto alto são retirados de seus pés na medida em que Calliope vai até a grande janela em seu quarto para observar a noite que transparece com clareza diversas estrelas e a lua em fase crescente. Por um momento ela sente uma paz genuína e sorri para os astros que brilham no céu.

— Você deveria estar lá embaixo.

Assustada com a presença repentina de seu pai em seu quarto, a jovem pula e leva uma das mãos onde seu coração bate forte e rápido no peito. Por Merlim, Sonserinos e sua habilidade de chegarem perto como cobras sorrateiras que não emitirem um som. Sendo uma das escolhidas da casa e tendo a mesma habilidade, Calliope entende bem.

Portas com trancas, no mundo mágico, não são tão efetivas e os feitiços específicos para selar portas são proibidos na mansão Nott.

— Me desculpe, pai. Eu não estava me sentindo bem.

— Se recupere em menos de 20 minutos. — ele diz rígido já se encaminhando à porta — É uma semana importante para os Black, devemos todos comemorar. Além disso, somos a família Nott, devemos passar uma boa imagem. Desfaça essa expressão de quem está entediada e pare de maltratar o filho do Abraxas.

A mente de Calliope, que até o momento seguia desinteressada em toda aquela atmosfera que rondava sua casa, se ascende ao ouvir aquele sobrenome. Não estava a par da situação.

— Comemorar? O que? — pergunta curiosa — Achei que era apenas mais uma festa para comemorarmos que somos da alta sociedade, ricos ou algo do tipo.

Ela adoraria falar que aquelas festas eram feitas somente para afagar o ego dos que se faziam presentes, mas preferiu usar outras palavras.

— Calliope. — Christoper Nott a dirige aquele olhar repreensivo que a filha tanto odeia ver e ela acaba resmungando um "desculpe" — Os Black estão orgulhosos de seu filho. Regulus ganhará a marca em breve.

A garota sente os pelos de seu corpo se arrepiando e por um instante ela sente seus olhos marejarem, se controlando para impedir que qualquer lágrima caia de algum deles. O pequeno Regulus, ela mal podia acreditar que ele se rendeu àquilo...

— Você já me parece estar bem, então volte para lá. — o pai diz já de costas para a filha que engole os diversos sentimentos que sentiu em tão pouco tempo.

Ela se olha no espelho de seu quarto. O cabelo castanho parecia impecável e moldado para cada fio estar no lugar certo, o vestido encomendado pela mãe mostrava cada curva de seu corpo já que ela deve ter pedido que o mesmo fosse feito um ou dois números a menos do que a que ela veste, seu rosto mostrava uma maquiagem básica nos olhos que pareciam se complementar com o batom vermelho em seus lábios. Sua aparência externa expressava perfeição, pouco semelhante ao interno da jovem que não passava de confusão.

Ela não podia deixar que ele fizesse aquilo.

Seu rosto, até então triste, é ocupado à força por uma feição apática, completamente neutra.

Ele é tão novo.

Seus pés calçados novamente nos saltos altos de bico fino começam a descer as escadas. É impossível que a sua presença não chame a atenção dos que estão presentes.

Isso não é da conta dela.

Ao final da extensa escadaria está seu irmão. Alexander estende uma de suas mãos e ela a segura com força quando pisa no último degrau. Os olhos claros de ambos se cruzam e ele pode sentir a áurea de sentimento frustrantes que cercam a irmã e faz um leve carinho com seu polegar na mão dela, era o máximo de conforto que poderia oferecer a ela naquele momento.

Ele não merece viver como um comensal.

— Sorria, Calliope. — a mãe, Anastasia, aparece ao lado dos filhos e sussurra para a garota — Está se parecendo com uma mosca morta.

Seus lábios se moldam em um sorriso coagido que logo se faz mais verdadeiro ao demais olhos. Ela vai fazer com que Regulus mude de ideia.

001 — Música do início: I Did Something Bad - Taylor Swift

𝗘𝗡𝗗 𝗚𝗔𝗠𝗘 ∙ james potterOnde histórias criam vida. Descubra agora