24. Tormentas do coração

153 24 0
                                    

Nihara Vitti

Três dias passaram-se desde a confissão de Tobias, e o meu coração continua num espiral de emoções. Tenho evitado encontrá-lo na empresa, ignorado as suas ligações e mensagens. O medo domina-me, fazendo-me questionar tudo o que sei sobre amor e confiança, sê que sei de alguma coisa.

Enquanto caminho pelo corredor da empresa hoje, sinto os olhares curiosos dos meus colegas. Algumas pessoas parecem desconfiar de algo, mas ninguém sabe ao certo sobre a confusão que se instalou dentro de mim. 

Decido ir para casa e buscar refúgio no conforto do meu apartamento, preciso de um momento para me recompor, para clarear os meus pensamentos e descobrir como lidar com essa informação avassaladora.

Chegando em casa, dirijo-me à minha pequena área de treino, — algo que também me ajuda com o transtorno de ansiedade —, onde tenho um saco de pancadas pendurado. Coloco uma música ritmada nos fones de ouvido, calço as luvas de boxe e começo a desferir socos com toda a força que posso reunir. Cada golpe é uma expressão da minha frustração, da minha luta interna, de libertar-me dos meus medos.

O som dos meus punhos atingindo o saco de pancadas ecoa pelo apartamento, uma mistura de raiva e confusão sendo liberada em cada soco. Cada movimento é uma maneira de enfrentar as minhas próprias limitações, de encontrar força dentro de mim mesma.

Enquanto continuo a desabafar as minhas emoções através do boxe, uma parte de mim se pergunta se estou apenas fugindo. Talvez eu esteja a evitar a situação com Tobias porque tenho medo de me machucar novamente. O passado ensinou-me duras lições sobre confiar e amar sem reservas.

Mas, ao mesmo tempo, sinto uma chama dentro de mim, uma faísca de esperança que se recusa a se apagar completamente. Talvez haja algo especial com Tobias, algo que valha a pena explorar. Mas como posso ter certeza? Como posso superar os meus medos e abrir o meu coração mais uma vez?

Os socos continuam, cada vez mais intensos. A dor física se mistura com a dor emocional, criando uma sensação estranha de alívio. O suor escorre pelo meu rosto, e o meu corpo cansado anseia por uma pausa. Paro de golpear o saco, e deixo os punhos apoiados nele, respiro ofegante. A minha mente está agitada, repleta de dúvidas e incertezas. É hora de enfrentar a situação de frente, de ter uma conversa honesta comigo mesma e com Tobias.

Decido que não posso mais evitar. Preciso encontrá-lo, encarar os meus medos e descobrir se estamos dispostos a dar uma oportunidade a esse sentimento que surgiu entre nós.

Com um suspiro profundo, tiro as luvas de boxe e me preparo para sair novamente. É hora de enfrentar os meus medos, de abrir o meu coração e descobrir se sou capaz de me permitir amar novamente.

Vou para a casa da Leandra, onde nos vamos preparar para a noite de natal na casa de Tobias. O James ficará com o Simon enquanto estaremos fora.

— Nihara! Minha irmã, desculpa, mas acho que você está a complicar demais as coisas. — Leandra diz, preocupada, ao ver-me.

— Você não sabe como foi difícil para mim após descobrir a traição do Bráulio. Eu não consigo evitar o medo que sinto de me machucar novamente, mas, ao mesmo tempo, tenho medo de me afastar e perdê-lo. É um conflito interno que me consome — suspiro, exausta.

Os meus olhos enchem-se de lágrimas e, sem dizer mais nada, levanto-me e vou até a cozinha. Abro o frigorífico e pego uma jarra com o meu suco preferido.

— Você faz esse sumo por aqui? — sorrio, tentando aliviar a tensão, e dou um gole na bebida refrescante.

— O seu sobrinho, ele é tão estranho quanto você. Ele amou essa coisa aí — Leandra comenta, tentando descontrair o clima.

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora