Capítulo 2 - Carnival of Rust

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Trotsten, primavera. A chegada da herdeira de Bursheim.

- Malditos sinos! - A rainha dava passos largos de um lado para o outro no salão principal, estilhaçando o resto dos cacos resultantes de sua ira descontada nos vitrais do palácio. - Maldita criança! Três dias de comemoração por uma criança! Leopold não me concedeu o tempo apropriado para velar pela alma de Kaique, oferecendo-me acordos, alianças. Patético! Não poderia ter cometido um erro mais vão, crer que meu marido era o responsável pela independência total de Trotsten, quando eu mesma cuidei pessoalmente para que nada tivéssemos a dever ou a cobrar dos outros reinos. Agora, Isabela atreve-se a perturbar a paz de toda a Germânia pelo nascimento de sua filha. Eu não tenho que assistir a isso! - Sua voz era controlada, mas a respiração descompassada a entregava.

O Capitão da Guarda, mantendo-se a uma distância segura, curvou-se.

- O que quer que vossa majestade deseje para aplacar o incômodo, eu e meus homens providenciaremos. Entretanto, há uma trégua da qual sou moralmente compelido a lembrá-la, minha rainha.

Por um minuto, Juliette deteve o solar atrevido de seus saltos sobre o piso. Sorriu. O que seu sorriso tinha de belo, tinha de cruel.

- Muito bem lembrado, bom capitão. Iniciemos o processo que findará esta trégua. Siga-me e mantenha escolta.

Surpreso, o soldado optou por não questioná-la.

- Para onde devemos ir, Rainha?

- Para a floresta. Cercaremos Trotsten, mantendo-nos inacessíveis a qualquer outro reino. Guilherme Davis será o único a entrar e sair dos meus domínios, apenas para abastecer-nos. Está decidido, capitão, que nós destruiremos Bursheim e tudo que esse reino da alegria representa. E sua ruína começará com essa criança. Qual o nome dela, Julio?

O capitão estremeceu.

Em sua solidão, aparentava uma frieza que a Rainha admirava, porém, o coração era dócil e piedoso. Matar uma criança, era esse o desejo de Juliette Freire?

- Sarah Andrade, minha rainha. - Sussurrou atormentado.

- Não se preocupe, capitão. - Confortou-lhe, como se adivinhasse seus pensamentos. - A vida da criança não será tomada. Bem, não agora. Deixemos que Isabela e Lucas façam-na uma princesa tão amada quando Isabela fora, tão destemida quanto o príncipe que o pai foi. No momento certo nós a tomaremos e no momento certo os reis de Bursheim receberão sua filha em pequenos pedaços. Cuidarei pessoalmente para que ela esteja a salvo, pois desde este dia, o dia de seu nascimento, fica reservado exclusivamente a mim o direito de tirar-lhe a vida. Assim como o momento em que deve acontecer. Esse assunto é delicado e particular, Julio Cooper. Posso confiá-lo a você, ou devo esmagar seu coração neste instante e prosseguir sozinha? - Arqueou a sobrancelha, cruzando os braços.

Com um leve murro no peito, fazendo ecoar o baque na armadura, Cooper assentiu:

- Para cumprir seus objetivos, darei a minha vida, minha soberana.

Juliette Freire sabia que Trotsten a apoiaria. A perda do rei comoveu e uniu todos os cidadãos do reino, que agora eram integralmente leais a rainha. Não só leais, como temerosos. Sua confiança na governante não dava-se apenas pela afeição, mas também pelo receio, pois Juliette não era apenas uma rainha, mas uma mulher que exalava superioridade e perigo. O caminhar intimidador, o olhar cortante, os lábios vermelhos comprimidos, tudo nela era um sinal para a submissão de quem quer que estivesse a sua volta. E no mais, Juliette era a bruxa mais poderosa de toda a Germânia, a única herança que considera valiosa vinda de Gisele Freire, sua falecida mãe.

Dive (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora