Capítulo 43 - Wolves Without Teeth

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A tinta verde desbotada da placa de madeira exibia "Fournier Street". Uma fina garoa deixava o chão lamacento ainda mais escorregadio e um odor desagradável saía de "buracos" no chão. A arquitetura das casas ao redor era curiosa, não havia bosque algum á vista, ou mesmo um palácio. Roupas estranhas. Carruagens estranhas. Penteados estranhos.

- Mas... Que diabos...? - Eldarion tentava se orientar em meio a multidão. Nem mesmo nas majestosas festas de Neverland viu tantas pessoas reunidas.

- Eldarion! - Sarah corria em sua direção, esbaforida. - Finalmente! - Seus cabelos estavam desgrenhados, o vestido coberto de lama e seu semblante, tão confuso quando o dele.

- O que significa isso, Andrade? - Analisava o local, curioso. Ambos sabiam que estavam em outro mundo, porém, não esperavam que numa outra época.

- Devemos estar onde sua Diana habita. - Deu de ombros. - A não ser que ela esteja sonhando com outro mundo, o que duvido. Procure-a, ela não pode estar longe.

Caminharam inquietos entre os estranhos habitantes. Mesmo num sonho, uma ilusão, sentiram-se completamente deslocados. Ao longe, havia uma grande torre iluminada. Sarah arregalou os olhos, apontando-a.

- O que há, Andrade? - Seguiu seu olhar.

- Um... Um... - Um sorriso de rasgar as bochechas se abriu. - Um relógio gigante! - Riu.

- Isso é sério? Que cara de boba é essa? - Franziu as sobrancelhas, contendo um sorriso.

- Isso é incrível! - Os olhos brilhavam. - Imagine só... - Deteve-se ao vê-lo empalidecer. - Eldarion?

- Espere! - O rapaz apontou para uma curva escura. - Ali! Diana! - Avistou uma jovem a alguns metros, de cabelos e olhos claros, virando uma curva à direita apressadamente. - Diana!

- Vamos! - Sarah impulsionou-o a correr.

Quanto mais corriam, mais distantes pareciam estar. Lamparinas muito mais altas do que todas as outras que já viram, suspensas por barras ornadas de metal pintado, com outras pequenas placas com estranhos nomes, começavam a piscar dos dois lados da rua, entre as casas, apagando-se em seguida. O chão enlameado dificultava seus passos, fazendo-os darem as mãos para ter equilíbrio sem perder o ritmo. Um choro agudo quase os ensurdece, vindo da menina que disparava ofegante pela frente, como se nada visse.

- Diana! Espere! Sou eu, Eldarion! - Apela, exausto, tomando fôlego.

De repente, a menina para. De longe é possível ver suas mãos trêmulas, seu diafragma se contraindo e expandindo, o peito subindo e descendo. Não detinha o choro compulsivo.

- Vá embora! - Grita, agachando-se com as mãos na cabeça, como se tentasse conter uma dor. - Fique longe de mim!

- Não, Diana, sou eu mesmo! - Aproximou-se cautelosamente. - Não é um sonho qualquer, estou aqui! Finalmente!

- Não! - Abruptamente sua voz mudou. Eldarion deteve seu caminhar. Sarah, que o observava, arregalou os olhos. A voz primeiro distorceu-se, tornando-se mais grave e clara.

Seu corpo estendeu-se, as pernas tornaram-se longas, as roupas refizeram-se, a silhueta marcou sob o tecido, os bagunçados cabelos soltos comprimiram-se num majestoso penteado de grossos cachos. Nariz, lábios, braços, tudo mudava diante de seus olhos.

- Diana...? - Sussurra, assustado.

- Eldarion? - Vira-se para ele uma bela mulher, aparentemente de uns trinta e cinco anos. Não há mais lágrimas, embora sua respiração continue descompassada.

- É... - Engoliu em seco. - O que está havendo aqui?

- Eu... Você não é um sonho... - Outro choro se acumula nas pálpebras de Diana.

Dive (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora