Capítulo 8 - Never Enough

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Bursheim. O grande dia.

Sarah dormiu abraçada a Thais e Arthur. O sol fraco da manhã despertou-lhe suavemente, como se a chamasse baixinho para levantar-se. Moveu cuidadosamente o braço da loba que a apertava e colocou sobre Arthur, saindo da cama para observar o sono dos dois. Deduziu que ambos dormiram quase nada, zelando por ela. Por isso, sorrateiramente saiu do quarto. Seu décimo oitavo aniversário começou mais tranquilamente do que imaginava, constatou ao descer as imensas escadarias, atravessar o salão ainda vazio e rumar ao pátio do palácio. Soldados poliam suas armaduras para a inspeção do mês, os empregados da cozinha carregavam suprimentos de um lado para o outro e, nos portões da fortaleza, crianças brincavam de espada. Sarah recostou-se numa das tulipeiras que compunham o pátio para assisti-los.

- Desista, princesa! - Um gritou com um brilho ardente nos olhos.

- Jamais! - Sarah percebeu que a voz era de uma menina. - Sarah Andrade jamais desistiria de uma luta! - Batiam as espadas de madeira umas contra as outras. Tratava-se de uma peça.

- Rá! - Outra menina com um manto vermelho sangue pulou de um tronco caído nas extremidades do muro, sorrindo com as sobrancelhas franzidas. - Vamos ver o que a princesa pode fazer contra a Rainha Má de Trotsten!

- Acha que me assusta, rainha?! Venha me enfrentar e descubra que um herói nunca foge! E sempre vence! - A menina sorria confiante.

Ali, Sarah paralisou. Desde que acordara, tentou arduamente não lembrar-se do que este dia lhe reservava. Falhou na tentativa de organizar sua mente: Ela temia. Novamente, não a morte. Temia que algo acontecesse ao seu povo ou à sua família, que a rainha descumprisse seu trato. Temia sôfrega que a rainha a aprovasse e desaparecesse para sempre. E ser reprovada por ela também seria pior do que a morte que ela lhe proporcionaria. Todos os reinos depositavam sua confiança nela, mas Sarah não estava segura de si. Pois ela sabia, soube desde o início o que a presença da Dama Escarlate lhe causava. Ficava instantaneamente sem forças, perdida. Seria diferente, agora que há uma sombra negra pairando sobre todo o encanto que a Dama lhe despertou anos atrás?

- Venha tomar o melhor desjejum que um rei e uma rainha podem fazer, Sarah! - Lucas surgiu no sopé da escadaria principal, de mãos dadas com Isabela. - Jamais deixaríamos de comemorar nossa data favorita!

- Vocês fizeram meu desjejum? Vocês dois? - Sarah tentou cobrir a boca com as mãos para não rir.

- Bem... Digamos que a Maria deu uma mãozinha. - Isabela soltou as mãos do marido para abraçar forte a filha. - Feliz aniversário, Sarah.

- Meus parabéns, pequena princesa. - Lucas beijou-lhe a testa, juntando-se ao abraço.

Sarah não respondeu. E também não os soltou. Os reis trocaram um olhar preocupado. O rosto da princesa estava afundado em suas vestes, sua respiração era longa e audível.

- Lucas, chame Arthur e Thais para comerem conosco. Avise Maria e Gepeto também. Quero toda a nossa família presente nesta manhã. - Isabela piscou para o rei, que beijou os cabelos de Sarah e saiu.

- Mãe... - Sarah sussurrou.

- Eu sei, minha querida. - Isabela deixou uma lágrima escorrer. - Não tenha medo.

- Não estou com medo... É só que... Caso não dê certo, eu sentirei muitas saudades.

A rainha não se conteve: Grossas lágrimas agora escorriam livremente pelo rosto, o abraço tornou-se mais apertado, como se nele pudesse proteger sua filha do que quer que viesse a seguir.

Os dois pares de olhos encontraram-se:

- Sabe... Eu nunca lhe disse isso, mas no dia em que você nasceu, eu pensei que morreria de tanta felicidade. Quando eu e seu pai nos casamos, após muitas provações, pensei que não haveria nada mais fantástico a ser sentido neste mundo. Até vir você e meu coração explodir com tanta força que foi até difícil respirar quando você abriu os olhos, Sarah. Três dias de comemoração não significaram nada, nada jamais estaria à sua altura. - Tocou o rosto molhado da filha, afastando a trilha de lágrimas. - Tudo dará certo, porque você é uma heroína. E o bem sempre vence, cedo ou tarde. Não se martirize, minha princesa. Se dependesse de mim, mandaria Domenico, Thais e Arthur tomarem um navio e levarem-na para os confins do mundo, para o mais longe possível de qualquer perigo. Mas nosso destino não é fugir, Sarah. Nosso destino é lutar. E com orgulho. E você sabe porquê.

Dive (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora