Capítulo 47 - Wolf Song

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Palácio real. O início da devastação.

- Seria um absurdo se eu dissesse o quão lindas vocês ficam de armadura? - Gisele se encontra com Marina e Juliette, reunidas na sala de mapas diante dos planos de campo traçados por Vitor Neville. As armaduras negras de Trotsten reluziam sob a luz que invadia a janela.

- Não soa tão mal. - A ruiva sorri. - Trotsten sempre forjou as melhores armas e armaduras. - Orgulhou-se.

- Dê os créditos ao seu pai. - Rememora-se, suspirando. - Miguel sempre quis o melhor. Lutou até seu último suspiro para que tudo fosse diferente. Jamais esqueçam-se disso. E se espelhem no homem excepcional que ele foi. - Havia lágrimas contidas sob a pálpebras. E as mesmas lágrimas refletiram-se nos olhos de sua primogênita.

Porém, sua caçula não esboçou reação. Não por insensibilidade ou apatia. As palavras nobres de sua mãe significavam muito, pois Juliette sentiu que perdeu tempo demais envergonhando o nome de seu pai. Miguel foi o melhor homem que conheceu. Um homem ainda melhor que Kaique. E tentou lhe ensinar todos os princípios da bondade, da gentileza e do perdão. Pensar nisso faz com que o choro finalmente escorra em seu rosto. Sentiu que havia falhado com todos, como se estivesse afundando-se novamente. Sentiu ter falhado por não conseguir manter Marina consigo, por não perceber que a morte de sua mãe era um truque, por não ser capaz de salvar seu rei, por condenar ao abandono suas três protegidas e por machucar tão duramente sua princesa e seus fiéis companheiros.

Sem que perceba, está sendo enlaçada pelos braços da irmã mais velha. Não sabem dizer em que pé estão. Mas não importava. Poderiam morrer em combate. Mais alta, Marina deposita um beijo em sua testa e sussurra "Eu sinto muito. Por tudo". Assim, abruptamente deixa a sala, beijando rapidamente o rosto da mãe para ir ao encontro de Jhonatan e Noah.

Com os olhos marejados, Juliette encara sua mãe. O abraço vem apertado, imediato, sôfrego. Não queriam temer novamente. Não queriam correr o risco de perder uma a outra novamente.

- Você e sua irmã foram a melhor coisa que fui capaz de fazer neste mundo. - Gisele une-se ao seu pranto, sorrindo. - Quando pensei que jamais receberia uma graça maior do que o amor de seu pai, vocês vieram. - Seca as lágrimas em seu rosto vermelho. - E eu quero que saiba, Juliette, que você sempre foi o suficiente. - A rainha de Trotsten arregala os olhos para a mãe. - Você sempre foi talentosa, digna e competente. E tudo que fiz...

- Eu sei, mãe. - Ela sorri, como se voltasse a ser uma garotinha que faz da mãe uma heroína. - E nós recuperaremos nosso tempo perdido... - Reluta por um instante antes de continuar. - Nós três. Eu prometo.

O dia avança depressa sob os olhos da Rainha. Aproxima-se da fronteira. A última vez em que esteve do outro lado foi para capturar e aprisionar a princesa Sarah Andrade com seus companheiros. Gisele já está fora, cumprimentado a Rainha e os novos líderes dos clãs do reino do Oeste. Julio guia a Bruxa Boa do Sul de Oz numa conversa amigável, exibindo seu sorriso galante. Não parecem prestes a enfrentar uma guerra.

Dirige-se para suas meninas. As memórias lhe inundam novamente. Mesmo que quisesse, não poderia deixar de temer por suas vidas. Mas sabia que não eram mais as garotinhas que resgatou e abrigou. Estava diante de duas mulheres.

- Por que tinham de crescer e entrar nessa guerra que é somente minha? - Tenta não se comover diante das jovens. - Se eu pudesse protegê-las... - Engole as próprias lágrimas, respirando fundo.

- Somos uma família. - Alana a agarra, apertando-a. - Cuidamos uma das outras. E você já nos protegeu. Devemos tudo a você e a Malévola.

- Nunca lhe agradecemos por nos dar essa família, Juliette. - Emily se aproxima. - E você ainda pode chorar, por enquanto, se desejar. - Sorri com seus pequenos olhos brilhando, unindo-se ao abraço. - Afinal, se eu bem me lembro...

Dive (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora