Dive (Sariette)

Capítulo 63 - Only Time

O despertar de uma primavera em Trotsten nunca havia sido tão radiante quanto os que se seguiram após a chegada de Sarah Andrade.

Nunca houve tanta fartura, prosperidade e paz. Canções foram entoadas sobre Damas ferozes e Leões amáveis. Sobre dragões poderosos e guerreiras brilhantes. Sobre príncipes, sobre rainhas, sobre poetas. Sobre fadas e piratas. Sobretudo, canções de amor. De um amor que jamais findaria.

É num despertar de primavera, reflorescimento das cores e aromas, ressurgir da magnificência da flora e do som da fauna, que Juliette cavalga pelas estradas de seu lar em profundo silêncio, incapaz de não sorrir. O trote de Rocinante é manso e as paisagens são deleite para os olhos da rainha. Seu mundo encontra-se em adorável calmaria, assim como seu coração.

Sua peça de veludo bordô e seus fundos olhos de ébano ofuscam todas as novas cores da estação, como se cada forma de vida se inclinasse a soberania dela, reverenciando-a. Nos habitantes não há mais medo. Passam cavaleiros em seus cavalos, vendedores em suas carroças, marujos com suas garrafas, crianças com suas brincadeiras e menestréis com seus instrumentos; e nenhum, nem mesmo um único cidadão de Trotsten hesita em sorrir para sua rainha, com reverências e cumprimentos calorosos. A confiança e devoção do povo em sua soberana fora restaurada e recebida em graças.

Juliette sabe bem que em Bursheim a alegria reina sob o comando de Thais Braz, que apresentou uma capacidade de guiar um povo que sequer imaginava que existia. Não era e jamais voltaria a ser a menina assustada, perseguida pela fera vivente dentro de si. Era justa, firme, bondosa e, acima de tudo, como sempre foi, como sempre seria: Era leal. E não poupava uma única gota de esforço para garantir a segurança da gente do Leste. Emily, sua Capitã e esposa, tirara uma breve licença ao descobrir que estava grávida. Juliette recorda-se de que foram dias difíceis, onde Thais repreendeu-se, temendo que a criança também carregasse o lobo em seu âmago. Fenrir foi de uma importância impagável ao fazê-la compreender que sim, seu filho nasceria com o dom, com a maldição, mas que isso não era motivo para temor. Era motivo de alegria, onde uma criança agraciada com a fera lupina cresceria, como poucas têm a oportunidade, num lar inquestionavelmente dotado de amor. Lucas também fora indispensável para a loba, porque sabia o que era ser um bom e um mau pai. Sabia o que era temer, o que era ensinar, cuidar, perder, proteger, resgatar. Conhecia a dor e maravilha de ter diante de si uma nova e minúscula forma de vida que ele teria que guiar, como fez com Sarah, e depois com ela. Thais descobriu, ao aceitar a notícia e encher de felicidade o coração de Emily, estar ainda mais conectada ao seu lobo. Naquele despertar de primavera, Emily completava cinco meses carregando o herdeiro em seu ventre, incansavelmente mimada por Fenrir, Lucas e Zhou.

"Você é a Lua para o meu Lobo, Emily..."

Juliette também sabe que em Perth a prosperidade chegara. Os clãs finalmente uniram-se em plena paz, inclusive o clã Macintosh e todo o povo passou a confiar em Beatriz como sua líder. A ruiva sempre, sempre dizia que devia essa confiança devia-se à presença de Lilith, sua rainha e o amor que jamais esperou viver. Heitor, Bernardo e Valentim, os trigêmeos irmãos de Beatriz, cresciam rapidamente. Heitor, o mais responsável, tornou-se seu Capitão da Guarda. Bernardo surpreendeu-a quando disse que desejava dedicar-se a inventar e reinventar o arsenal do reino, entregando-se ao ofício de ferreiro na forja. Ninguém o esperaria de um príncipe, mas Bernardo era brilhante e, como alguém que sabia muito bem o que era ter seus desejos repreendidos, Beatriz jamais poderia recusar-lhe. Por fim, Valentim, um romântico incurável, tornou-se habilidoso na arte musical, fundando colégios e tornando a arte um ofício essencial em Perth. Naquele despertar de primavera, Lilith não poderia estar mais orgulhosa do retorno de sua esposa após enfrentar um guerreiro enfeitiçado, condenado à forma de um urso gigantesco, monstruoso e agressivo que ameaçava seu reino.