Capítulo 59 - A Whole New World

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O caminho era longo demais para ser feito em linha reta. Na verdade, Juliette Freire e Sarah Andrade jamais caminharam numa linha reta, afinal. E a cada curva houve uma surpresa, uma reviravolta. Entre agrados e desagrados, partiam agora para uma viagem que, diziam-se silenciosamente, definiria alguns passos que tinham pela frente. Partiam para conhecer alguns encantos do mundo. E que encantos, que mundo...

A princesa do Leste é fascinada por cada movimento, cada cor, cada riso que cruza seus caminhos. Estava realizando seu desejo de infância de ser pela Dama Escarlate levada ao que ela acreditava ser uma grande aventura. Isso havia mudado, de alguma forma. Era muito mais do que uma pequena menina poderia prever. A rainha de Trotsten ainda está surpresa por ter deixado suas obrigações de lado, mas não descumpriria a promessa que fez à sua princesa. Ela teria tudo, não somente por merecer, mas porque era isso que Juliette desejava dar-lhe. Absolutamente tudo.

Na silenciosa estrada que as levaria à Wonderland, onde os curiosos soldados encantados da Rainha de Copas, cartas de baralho, montavam guarda, cada qual em seu corcel inundava-se das recentes lembranças dos quatro dias inteiros de viagens até ali, trocando sorrisos discretamente.

Primeiro dia de viagem, saboroso anoitecer.

- Tem uma feira no bosque! Olhe, tem até engolidores de fogo! E música! - A princesa apontou para uma vasta clareira na floresta pela qual a estrada passava. - Podemos parar para comer? - Seu sorriso estendeu-se de orelha a orelha.

- Sarah Andrade. - Juliette puxou as rédeas de Rocinante e cruzou os braços. - Nós já paramos para alimentá-la nos últimos três vilarejos desde que saímos. - Não pôde evitar um sorriso terno. - Para onde vai toda essa carga?

- Preciso estar forte para proteger minha Dama Escarlate! - Riu, pulando da sela com evidente entusiasmo e estendendo-lhe uma mão.

- E suponho que um Leão precise de muito para manter suas forças. - Acompanhou-a, majestosamente descendo do dorso do corcel para tomar sua mão.

- Evidentemente. - Curvou-se. - Especialmente quando ele precisa... - Detém-se quando seus olhos se encontram, ciente do que diria a seguir. - Precisam... - Engole em seco, rindo ruborizada.

Juliette surpreendeu-a com uma gargalhada e com os braços em torno de seu pescoço, num beijo que foi capaz de fazê-la corar ainda mais, ao mesmo tempo em que a princesa sentiu-se completamente tonta.

- Você está certa, Sarah Andrade. - Sussurrou sem abrir os olhos. - Não desejo reprová-la por exaustão.

O riso da princesa era como o calor de um sol ameno no coração da rainha e ecoou em seus ouvidos como uma sublime sinfonia. É claro que jamais recusaria o pedido de seu leão faminto. Com os dedos entrelaçados, seguiram para o vilarejo em festa.

Aparentemente tratava-se de uma comemoração. Caminharam entre as tendas, recebendo sorrisos e olhares curiosos. O cheiro era um afrodisíaco para a princesa. De repente, Sarah deteve-se. Fitou um ponto específico entre os festeiros e nele manteve-se. Juliette tocou seu rosto, confusa.

- Sarah? - Ao tocá-la sentiu sua pele fria e trêmula. - O que houve, minha princesa?

- É ele... - Apontou para onde olhava, sussurrando.

Juliette virou-se para ter Carlos em seu campo de visão, vestido em belos trajes, com uma generosa caneca de rum nas mãos. A rainha franziu as sobrancelhas assim que seus olhares se cruzaram. Carlos estava menos desnutrido, menos pálido e surpreendentemente corou ao vê-las.

Aproximou-se a passos lentos, notoriamente desconsertado. Juliette manteve-se na frente da princesa como um escudo, recordando-se da raiva que sentia do médico por ter sido o cúmplice de Amanda, arrancando seu puro coração e entregando-o para a loba. Da surra que levou de Emily, restaram duas cicatrizes na boca.

Dive (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora