Capítulo 9 - Lovesong

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Trotsten. Prisão.

Plic-plim! Plic-plim! Plic-plim! - A água escorria das rachaduras para gotejar nas pedras. Nenhum passo nos corredores. Era impossível saber quanto tempo havia se passado. E o frio. Fazia muito frio.

Trrr, trrr, trrr - Arrastaram-se as correntes pelo chão.

- Sarah! - Thais agarrou as grades laterais da cela, esticando o braço para a cela ao lado. - Não se levante... - Olhou-a com pesar. Os outros ainda dormiam amontoados uns sobre os outros, mas Thais virou a noite vigiando-a.

- Thais... - Sarah sussurrou, esgueirando-se pelo chão até alcançar a mão gelada da loba. - O que está fazendo aqui?

- Vamos com calma. - Limpou seu rosto machucado. - Do que se lembra?

Sarah encarou-a, espremendo os olhos algumas vezes.

- Da fada. Da luta contra os bárbaros. Dos meus pais. Dos... Ferros. Da rainha. Lembro-me de tudo.

Domenico aproximou-se, sentando-se ao lado de Thais. Fitou Sarah com seus olhos semicerrados pelo cansaço e pela dor que alastrou-se em seu corpo após o forte golpe na nuca que recebeu de Emily:

- Perdoe-nos, princesa. Falhamos em protegê-la.

- Domenico... Sou eu quem fracassou, lembra-se? Esqueça isso. Se pensar dessa forma, falhamos majestosamente em proteger uns aos outros.

- Você era nossa prioridade. Não havia uma rainha maluca atrás de nós. - Vitor sorriu, buscando descontrair, batendo a poeira das roupas. Beatriz e Arthur também levantavam-se.

- Dobre sua língua, príncipe do norte. - Emily saiu da escuridão. Estivera o tempo todo de guarda. - Não ouse maldizer a rainha.

- É claro, afinal, quem pensaria mal de tão admirável criatura? - Thais rosnou para a guerreira.

- Abstenha-se, menina. Não sabe o inferno que ela viveu. E mesmo assim, devo minha vida a ela e não permitirei maledicências contra sua pessoa. Vocês não entenderiam. Suas vidas resumem-se à palácios.

- Porque viver num palácio muda tudo, não é mesmo? - Thais continuou encarando-a.

- Você está numa cela, indefesa e ferida, loba. Eu estou do lado de fora e armada. Ponha-se no seu lugar. Ou a mamãe, em seu confortável castelo, não ensinou-lhe a não desafiar um oponente superior?

- Pergunte a ela. Ela esteve o tempo todo aqui, com você. - Emily arqueou as sobrancelhas, surpresa. Por sorte, ninguém pode ver suas expressões devido ao elmo que não saia de seu corpo. Thais era afiada. E ela acabara de perceber de quem a menina havia herdado tal característica. Condenou-se por não perceber antes.

- Ela só está preocupada comigo. Meu nome é Sarah Andrade, mas você com certeza sabe disso. Pode me dizer o seu? Gostaria de pedir algo sabendo com quem falo. - Sarah olhou-a, ainda fraca sobre o chão.

- Emily. - A guerreira avaliou a princesa. Não a trataria como inimiga, pois sabia que ela não era. Seguiria qualquer ordem de Juliette, mas na surdina poderia tratá-la como se deve. - Peça, princesa Andrade. Farei o que estiver ao meu alcance. E isso, infelizmente, é bem pouco.

- Sou a herdeira de um reino, Emily. Pode não parecer, mas sei muito bem o que é ter que seguir ordens sem necessariamente concordar com os atos dos meus - – Sorriu fraco. - Mas meu pedido, se possível, deve ser feito à Dama Es... Sua rainha. O trato envolvia apenas a mim. Meus amigos devem ser libertados e enviados de volta para casa. Estou aqui e não tentarei fugir por nada. Mas eles nada devem à ela ou à Trotsten. Eu suplico que meu pedido seja enviado à ela.

Dive (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora