Capítulo 35 - Tides of Time

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- O que quer, Rumpelstiltskin? - Sarah manteve toda distância possível. Aquele rosto que conhecia tão bem estava revestido de uma pele escamosa e esverdeada. Olhos de réptil e unhas pútridas. Até mesmo os cabelos nos ombros, agora encolhidos e ensebados, estavam quase irreconhecíveis. Mas a mudança mais perceptível definitivamente era a do semblante. Levava consigo um sorrisinho debochado, uma postura destemida e um olhar de fogo, equidistante ao pacífico e manso de costume.

- Prefiro Senhor das Trevas, por gentileza. - Exibiu seus dentes amarelados. - Você parece ótima, Sarah Andrade. - Cruzou um braço no peito e coçou o queixo ao erguer o outro.

- Vitor e Domenico sabem que está aqui? - Não deu-se ao trabalho de responder seu falso cumprimento amigável.

- Não, minha cara. Meu objetivo é você. - Deu de ombros. - Deixe-os como estão.

Por algum motivo, sua afirmação não a surpreendeu. Na verdade, estava aliviada em poupá-los de tal visão. Os dois estavam contentes e ela tentaria preservá-los assim a todo custo.

- Aqui estou. Seja breve. - Empinou o queixo, arredia.

- Você não mudou muito, não é? - Riu. - Corajosa. Eu sempre a admirei por isso, faz-me lembrar da minha querida esposa. Mas não abuse mais da sorte, Andrade. Não sou mais o Rei que conheceu.

- Não serei intimidada por você, Rump... Senhor das Trevas! - Corrigiu-se, rebatendo-o.

- Interessante. Agora me vê como um homem perverso e se defende de mim. Mas foi capaz de se apaixonar perdidamente por uma mulher cuja crueldade compara-se a de um novo Sombrio, como eu. - Aplaudiu-a, zombeteiro. - Dizem por aí que o coração dela está amolecido pela princesa prisioneira. Acha que isso a enfraquecerá diante da guerra?

Sarah recuou. Empalideceu.

- Como...? - Sussurrou. - Como você...?

- Como sei que a Rainha está cedendo aos seus encantos? Previsibilidade. No fim, Juliette sempre foi...

- Não ouse pronunciar o nome dela! - Vociferou. - Não se atreva a maldizê-la!

- Ora, ora! - Saltou de alegria. - Vejam só o poder do amor se manifestando. Ou será o poder dos tolos, apenas? Estou impressionado! É hilário! - Começava a usar do mesmo tom que seu antecessor. - Uma pena que ela não retribua seus sentimentos, princesa. Pois é de seu conhecimento o quão absurdo seria. Digo isso porque sei exatamente como ela se sente. A escuridão é uma companhia mais fortalecedora e confortável do que qualquer humano fraco poderia ser.

- Cale-se! - Perdia o controle. - Ela nunca será como você. Numa vida cheia de mágoas ainda busca luz. Sua vida foi um berço dourado, Rei de Greifurt. Possuía tudo, tudo! E mesmo assim você sucumbiu às trevas. O único fraco que vejo é o senhor!

- Eu lhe disse para não abusar da sorte, garota! - A voz de Rumpelstiltskin misturou-se à de Zoso. Seu braço movimentou-se rapidamente, fora de seu comando, movido por uma energia sombria e sobrenatural que exalava de seu âmago.

Um ataque. Sarah foi atirada para longe bruscamente. O baque de seu corpo contra os troncos afiados ecoou pela floresta. Arqueou as costas contra o chão, aturdida pela dor e impacto, grunhindo.

- O que... O que foi isso? - O Sombrio mirou as próprias mãos, arregalando os olhos.

- Isso somos eu e você em harmonia, homem tolo. Somos nós dois nos tornando um. - Zoso ria, zumbindo em seus ouvidos. Mas não estava ali, como de costume. A voz pronunciava-se de sua mente, agora.

Dive (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora