Capítulo 55 - A Passage of Life

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Juliette desperta numa vasta campina verdejante. Seus olhos acostumam-se com a luz, perdidos no horizonte infindo. Nada além de um céu nublado e a grama sob seus pés. Perguntou a si mesma se estava no lugar certo, uma vez que nada havia tingido em vermelho. Não era o que a mente dela costumava criar?

- Sarah! - Clama. Nada. Nem mesmo um sussurro ao seu redor. - Sarah Andrade!

Prossegue a passos lentos. De repente, um estalo. Como se algo frágil trincasse. A rainha detém-se, estreitando os olhos para investigar alguma movimentação. Nada. Quando volta a caminhar, outro estalo. - Trick. - Detém-se. Pisa forte. Ali. Há algo embaixo da grama. Até agora desconfiava da candura do cenário. Pisa novamente. Repetidamente. E repentinamente vários estalos ecoam pelo espaço. A grama se desfaz como se fosse fumaça. O cheiro é extremamente desagradável, mas a rainha não ousa parar de fitar o que se desenrola abaixo de seus pés. Enfim, a surpresa: Um chão cristalizado escarlate. Uma grossa plataforma de vidro rubro. O primeiro sinal de que aquele mundo pertencia à Sarah.

- Sarah! - Clama pela terceira vez. Um vento repentino movimenta seus longos cabelos escuros. Ela respira fundo, jogando os fios para trás. Busca concentração, mas algo grita em seus ouvidos que alguma coisa estava errada. É inevitável.

Um som suave ecoa na imensidão, como um fraco bater de asas. Juliette vira-se abruptamente e seus olhos incrédulos se arregalam. Havia um emaranhado claro agitando-se e formando uma estrutura a partir do chão tingido. O coração da rainha enlouqueceu. O som pertencia a uma dança ordenada de minúsculas pétalas de flor dente-de-leão. Enquanto uniam-se, a figura surgia diante de si. E quando as lágrimas começavam a lhe escapar pelas pálpebras, lá estava ele, em vestes brancas, sorrindo com serenidade. Kaique.

- Minha querida. - Sua voz a faz sorrir. - Como é maravilhoso revê-la.

- Kaique... - Tenciona se aproximar, porém, seu sorriso de desfaz. Kaique estava morto. - Eu não entendo... - Deglute em seco, afastando-se.

- Ela não está morta, se é o que a está amedrontando. - Mantém o tom brando e o sorriso dócil. - Venha comigo.

Ele lhe estende a mão. Ela reluta. Em outros tempos, o aceitaria sem hesitar. Mas temia o que viria a seguir. Temia deparar-se com a possibilidade de perdê-la.

- Venha. - Kaique repete. - Você não quer vê-la, meu amor? - Continuava tão acalentador e tão pacífico. Nada mudara desde o garoto do estábulo.

Seus dedos se entrelaçam e a sensação é semelhante a qual se recorda, exceto pela pele fria da palma. Caminham pela plataforma escarlate em silêncio. Juliette tem milhares de perguntas, mas o medo das respostas a faz emudecer.

Conforme avançam, a rainha percebe que sua primeira impressão estava enganada, pois acreditava que seria um infinito plano. Não era. Repentinamente viu-se subindo uma colina vermelha no encalce de seu falecido rei, que mantinha um sorriso largo e passos suaves. E assim caminham, caminham, caminham.

- Kaique... - Sua voz soa embargada. - Por que está aqui?

O rei finalmente detém-se para olhá-la. Toma sua outra mão e beija as duas, sorrindo.

- No início, pensei que eu e Sarah dividíamos a mesma alma. - Explica-se. - Depois, passei a compreender que não dividimos, mas que nossas almas estão interligadas. Isso acontece inteira e unicamente por sua causa, Juliette. Você compreende?

- Sim. - Sussurra, recuperando-se da carga de informações. - Mas ainda não compreendo porquê está aqui. Eu preciso saber.

- Eu estou aqui porque Sarah Andrade constantemente sonha comigo. Isso também é por sua causa. - Ele ri. - Mas não mentirei dizendo que isso é inteiramente positivo. Sarah sonha comigo porque deseja, ou ao menos desejou, ser quem eu sou.

Dive (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora