Capítulo 5 - Dirty Paws

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Bursheim, o décimo sexto aniversário. A princesa herdeira.

Poc-poc-poc! Poc-poc-poc!

- Isso, garoto! - Sarah tinha um sorriso brilhante, os cabelos agora desgrenhados esvoaçando junto a crina alva de seu shagya, o inseparável corcel Pégaso.

Poc-poc-poc! Poc-poc-poc!

O trotar não era elegante ou compassado e os risos de Sarah ecoavam pelo bosque flamejante a oeste. Um vasto santuário de liquidâmbares que davam significado ao nome do local, pois as folhas vermelhas quando tocadas pelo sol, davam a aparência incendiada ao local. O santuário era desvirtuado por Sarah, que fazia questão de perturbar a paz dos pássaros. Mas não conseguia evitar! Ficar muito próxima ao reino só lhe rendia sermões intermináveis dos pais, fartos de reclamações sobre a barulheira vinda de suas cavalgadas e do falatório entre o povo do comportamento supostamente inadequado da princesa. Isabela foi uma menina forte, mas delicada e amável como nunca uma princesa havia sido.

Sarah Andrade, por outro lado, era intitulada pela guarda real de "Loki". O apelido aborrecia o rei Lucas, mas Sarah sabia que não lhes atribuíam o nome do deus nórdico pejorativamente. Não era pela trapaça ou pela maldade, mas a princesa, apesar de honesta, era persuasiva. Extremamente persuasiva. Os olhos eram penetrantes e observadores, além da natural sedução.

Rapazes e moças suspiravam por ela, e não pela nobreza. Talvez fossem o corpo contrastando com o rosto delicadamente esculpido. Talvez fosse a determinação e estratégia. Talvez fossem somente os olhos esmeraldas que instigavam curiosidade, pois Sarah poderia ser expansiva, mas também era muito reflexiva. Pouco sabiam, até mesmo entre os amigos, o que habitava os pensamentos da princesa. E, claro, o que não poderia faltar: A habilidade nas travessuras e em se meter em confusão.

Poc-poc-poc! Poc-poc-poc! Poc-poc-poc! Poc-poc-poc! Poc-poc-poc!

Sarah queria ir mais rápido. Queria ir tão rápido que as patas de Pégaso abandonariam o chão e ambos voariam acima das nuvens, como com o responsável pelo nome dado ao corcel, o cavalo alado da lenda, símbolo da imortalidade. Havia até uma constelação em sua honra. Que honra seria maior do que esta, pensava ela, ser gravado no céu? Seu Pégaso não era alado, mas com certeza teria um presente desses, se ela pudesse lhe dar.

O fato era que, enquanto não aprendiam a voar, atravessavam o bosque flamejante como se já o fizessem. Preocupações com seus deveres reais tornavam-se sombras abandonadas pelo galope indômito. O galope era indômito, ou ela mesma era? Provavelmente os dois.

Sarah definitivamente não era uma princesa comum.

Naquele dia, Sarah Andrade estava particularmente reflexiva. Era seu aniversário de dezesseis anos e também o dia em que completavam três anos desde a última vez em que vira sua Dama Escarlate. De alguma maneira, Sarah sabia que a rainha misteriosa a guardava. Aonde quer que fosse, sentia-se vigiada e protegida por uma força imensurável, talvez um pouco sombria, porém, mais forte que o exército real e suas armas, mais forte que Merlin, o feiticeiro de confiança de seus pais, título oferecido após a aliança com o reino do sul, Camelot e seu Rei André. Sentia os olhos amendoados queimarem sua pele, distantes, calculistas, mas tão profundos quanto o oceano, um oceano no qual Sarah permitiria a si mesma afogar-se. Mesmo que não pudesse vê-la, sentia sua presença como se estivesse interligada à sua alma.

Dive (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora