Capítulo 39

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Na segunda de manhã foi um sacrificio ir trabalhar. Bruna  ficou horrorizada quando me viu.

-Meu Deus, Cla, você está horrível! Pálida, cheia de olheiras! O que aconteceu? Helena  me Ligou sábado atrás de você. Eu a olhei na hora.

- Ela ligou?

- Sim, conseguiu meu telefone com Ruby, parecía preocupada. O que aconteceu?

- Nada, deixa pra lá.

Eu ocupei meu lugar na recepção.

- Baby, ela te machucou? Ah, Cla, quantas vezes te falei que isso ia acontecer?

- Sei disso. Mas acabou. Vou seguir em frente.

Bruna  suspirou e se sentou ao meu lado. Ligamos nossos computadores e começamos a trabalhar. Na hora do almoço, Theo  me chamou pra almoçar com ele, eu sempre recusava seus convites, mais dessa vez decidi aceitar. Saímos juntos e dei de cara com Helena  encostada em seu carro, me esperando do lado de fora do prédio. Parei de supetão e nos encaramos, Helena  tirou os óculos escuros e se aproximou de mim. Parecia ainda mais linda em vestido preto estilo tubinho, colado ao seu corpo e um salto da mesma cor. Seus cabelos estavam despenteados pelo vento e seus olhos seguraram os meus, atentos, avaliadores, como se pudessem ver minha alma. Na calçada, as pessoas iam e vinham a nossa volta, mas parecia que pra mim existia apenas ela, meu peito apertado de saudade, dor, amor, mágoa, até esqueci-me de Theo  ao meu lado, lembrei-me de sua presença quando Helena  passou a encara-lo, parecendo zangada, com raiva, segurei minha bolsa com força, enquanto ela dizia:
-Quem é você?-Disse Helena  dirigindo-se a Theo .
-Eu sou Theo , nós já nos vimos antes, prazer!

-Infelizmente não posso dizer que foi um prazer pra mim- Helena  disse fingindo um sorriso- Será que você poderia se retirar pra que eu possa conversar com a Clara?

Theo  olhou pra mim e encontrei minha voz e pedi:

- Theo , por favor, me espere no restaurante, já estou indo-Ele não disse mais nada sorriu pra mim e se foi.

Quando ele saiu Helena  dirigiu seu olhar a mim e disse:

- Estava morrendo de preocupação, Cla. Como você está?

- Bem.

- Podemos conversar? – Sua voz era baixa, mais rouca do que eu me lembrava.

- Melhor não. – Sacudi a cabeça.

- Por favor, almoce comigo. Falaremos do que aconteceu só se você quiser, tenho tantas coisas pra te contar.

- Eu não quero, além disso, Theo  está me esperando para o almoço.

Olhei a minha volta, sem ver. Depois a encarei de novo e fui sincera:

- Preciso de um tempo sozinha, você sempre me disse que o que tínhamos era temporário. Sempre deixou claro o que queria de mim. Mas agora sei que não posso ser o que quer Helena , eu sou só isso, uma boba pobretona, uma careta perto dos seus desejos,

- Não é nada disso, você é doce, carinhosa, apaixonada e eu me sinto um merda pelo que fiz com você, Cla.

- Você deveria se sentir uma merda mesmo, mais não se sinta culpada, não me obrigou a nada, as escolhas foram minhas, mas não gostei de como me senti. Nunca mais quero me sentir assim. -Eu sei. Também não gostei da pessoa que fui naquela noite.

Ela se aproximou mais, sua mão foi até meu rosto e tocou minha pele com carinho, seu toque despertou tudo que eu sentia por ela. Minha pele ardia, meu coração passou a bater mais rápido, minha respiração se agitou. Mas eu não quería ser distraída. Realmente precisava me estabilizar restabelecer depois de ter me agredido além do suportável naquela orgia. Ainda me sentia suja, nojenta, sem respeito por mim mesma. Só de imaginar aquelas pessoas me tocando e penetrando, eu me enchia de nojo e de raiva de Helena , dei um passo para trás, fugi do seu toque, da tentação de cair de novo em seus braços e sofrer.

- Desculpe Helena , mas preciso ir almoçar, Theo  está me esperando e preciso comer antes de voltar ao trabalho.

- Almoce comigo.

- Não.

- Quem é ele Clara?

- Quem? Theo ?

- Sim, porque você vai almoçar com ele?

- Não que eu lhe deva satisfação da minha vida, não me pediu nem me prometeu exclusividade lembra? Theo  é apenas um amigo, por enquanto, trabalhamos juntos, além disso, depois daquele dia em sua casa nem sei mais se ainda nos resta alguma coisa.

Helena  me olhou surpresa pela minha fala, nunca tinha me dirigido a ela assim, chegou perto de mim me puxou pela cintura e disse olhando nos meus olhos:

- Você é minha Cla, só minha!

Senti meu corpo reagir a ela, por mais que eu esteja magoada com raiva, meu corpo responde a ela de uma forma incrível. Queria me entregar a ela, mais depois de tudo preciso de um tempo pra mim, me desfiz dos seus braços olhei pra ela e disse com os olhos marejados:

-Eu era sua Helena , desde a primeira vez que te vi, mais você não me queria só pra você né? Precisava me compartilhar com seus amigos, só que agora eu não quero mais, cansel, por favor, preciso desse tempo pra mim.

-Cla, por favor, se quer me castigar, está conseguindo. – Disse frustrada.

- Por mais que eu ache que você mereça, não é isso, juro. Eu realmente preciso de um tempo pra mim.

Helena  parecia a ponto de negar, de me pegar e me jogar no carro, mas respirou pesadamente, correu os dedos entre os cabelos e acenou com a cabeça.

- Tudo bem. Mas se precisar de mim, sabe onde me encontrar, não vou desistir de conversar com você, tem umas coisas que ocorreram após aquele dia que eu quero que você saiba.

- Pode deixar, se eu precisar lhe procuro, sei que não tem como fugir dessa conversa Helena , mais nesse momento eu preciso de um tempo pra mim e acho que você também.

Eu me sentia muito mal em deixá-la. Só de vê-la, sabia que continuava a amá-la com tudo de mim. Mas aquele sentimento ruim de inferioridade, de culpa, de raiva, ainda me roía por dentro.

- Tchau, Helena

- Tchau, Cla. – Disse baixo, olhando-me intensamente.

Virei às costas e me afastei, metendo-me no meio da multidão, sofrendo como uma condenada.

Segui para o almoço com o Theo , nem sei por que aceitei, não adianta por mais que ele seja um cara legal e bonito, meu corpo, meu coração e tudo de mim pertencem à Helena . Cheguei ao restaurante e graças a Deus Theo  não me perguntou nada sobre Helena , almoçamos  e conversamos a maioria da conversa sobre o serviço, quando estávamos saindo do restaurante Theo  me puxou pra um beijo, o qual eu correspondi de inicio, mais não era a boca de Helena , não era seu gosto, meu corpo não correspondia, por mais que minha mente me forçasse a querer encontrar outra pessoa, não consegui, parei o beijo e sal, não disse nada, estava machucada demais para relacionamentos, voltei ao trabalho e no fim do expediente fui pra casa, mais eu não conseguia prestar atenção em mais nada, só nela, como pode, depois de tudo que passei ela ainda está na minha cabeça? Por mais que Helena  tenha me avisado, não tenha me forçado a nada, tudo que fiz foi pensando que ela sentia alguma coisa a mais por mim, eu amo a Helena , imagino que ela tenha sofrido muito quando criança, nem consigo imaginar uma menininha de 10 anos sendo indiciada ao sexo, e quem sabe até obrigada a transar, nem imagino pelo que ela tenha passado por ser diferente, Helena  queria me adequar ao mundo que foi mostrado a ela, que ela foi acostumada, um mundo de orgias, sexos sem compromissos, agora entendo porque ela sempre precisava de controle, deve ter sido muito difícil pra ela passar por tudo isso sozinha, sem poder contar com ninguém.

No meio da semana aconteceu um fato interessante, no mínimo curioso, estava voltando pra casa, depois de mais um dia “normal” com os pensamentos em Helena  como sempre e em tudo que aconteceu, quando na rua da minha casa eu trombei com uma mulher linda, loira, com os olhos azuis brilhantes, ela era linda, pedi desculpa e ela disse que só me desculparia se eu aceitasse sair com ela nem que seja pra tomar um café, não estou com cabeça para novos relacionamentos, mais eu senti que poderia confiar nela, que sabe seriamos amigas? O que tem demais? Aceitei seu convite e marcamos pra sair na sexta após meu expediente, tirando esse esbarrão o resto da semana passou normalmente com meus pensamentos em Helena . Porque será que mesmo depois de tudo ela não sai da minha cabeça? Até que em fim era sexta feira, Theo  havia me procurado e se desculpado pelo “beijo”, mais a culpa não era dele, eu quem não conseguia pertencer a mais ninguém, pedi pra que ele não fizesse mais isso e que se quisesse algo de mim seria apenas amizade, pensei muito em tudo que aconteceu nessa semana, Helena  não me procurou mais, quem sabe já me esqueceu, não sei o que faço, sinto falta dela, do que nos vivemos juntas, o mês em que éramos apenas eu e ela, foi o melhor mês da minha vida.

Minha Tentação (ADAPTAÇÃO) ClarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora