capítulo 35

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Pôs-me sentada, me abraçou nervosa, mas continuei a lutar e a gritar.

- Clara, pare... Meu anjo...

Consegui empurrá-la, caí fora do colchão, minha respiração rascante, meus membros parecendo geleia. Vi os olhares assustados de todos sobre mim, mas saí engatinhando, lutando para me levantar, Helena  veio até mim, me segurou na cintura, tentou me acalmar, me puxando para seus braços. Empurrei-a, soquei-a, mas ela me manteve firme, até que minha respiração se estabilizou. Mas o ódio não.

-Me solta, desgraçada! Vou embora daqui! Não quero nunca mais ver você!

- Porra, pare com isso! Violentamente jogou-me sobre seu ombro, enquanto eu esperneava fora de mim. E me levou rápido para dentro da casa.

- Eu te odeio! Eu te odeio! Gritava rouca e ela não dizia nada. Só me pôs no chão quando chegamos ao quarto, andei para trás, furiosa, fora de mim. Afastei as lágrimas do rosto e o ergui, finalmente entendendo que era o fim. Mas agora eu é que não a queria mais. Ainda estávamos nuas. Ela estava pálida, muito nervosa, Indecisa. Tentou me acalmar: Escute, vamos conversar.

- Não tem mais conversa Helena l Está satisfeita? Fiz o que você queria! Fui à puta de todos os seus amigos e amigas! – Cuspi as palavras. – Tenho nojo de mim mesma. Nojo! Não foi para isso que meus pais me criaram! Para ser uma puta suja e nojental

Para com isso, Cla, porral – Ela correu os dedos entre os cabelos, angustiada, ainda mais pálida. – Eu estava furiosal Você não teve culpa de nada, mas descontei tudo em você! -Pela última vez! – Andel até a cadeira onde tinha

Deixado meu uniforme antes de tomar banho. Arranquei as malditas luvas pretas e comecei a me vestir.

-Cla... Precisa se acalmar, escute você não é nada disso. Quero que me perdoe, eu fui uma idiota!

- Você é uma idiota! Egoísta! Filha da mãe! E eu te odeio! Odeio!

-Tá é isso mesmo... Mas não vá. Clara... Eu não conseguia abotoar a blusa, o tanto que eu tremia. Respirei fundo, tentei me acalmar. Mas nunca tinha me sentido assim. Tão furiosa tão magoada e decepcionada. E com tanta raiva e nojo de mim mesma. Estremeci e comecei a chorar de novo, pegando minha bolsa caída no chão. Helena  veio até mim, segurou meus ombros, mas lutei com ela, furiosa. Por fim gritei tudo que me arrasava por dentro:

- Sempre fui uma burra! Quantas vezes Bruna  tentou me alertar que você não era pra mim, que tudo seria sofrimento na certa. Mas insisti, por que eu achava que no fundo você gostava um pouco de mim, que no final... – Balancei a cabeça e ri sem vontade. -Sempre uma besta romântica, acomodada, fraca. A Clara, boazinha e submissa! A Clara que não se revoltou ao ver a irmă morrer na sua frentel Não! Aceitou quietinha, afinal, o que mais poderia fazer? Depois foi o pai! Depois a mãe, com aquela doença horrível tirando-a de mim aos poucos! E mesmo assim eu não me revoltei! Eu segui minha vidinha, sozinha,

Sonhando, esperando. Até você chegar! Helena  estava quieta, olhando-me. Fitei-a com um

Ódio que nunca senti.
-Deixei que fizesse tudo comigo. Fui mais uma vez

Uma pessoa submissa, colocando a sua vontade

Na frente da minha. Mas hoje, isso acabou.

Nunca mais vou deixar alguém me humilhar assim. Nunca mais vou aceitar sofrer como se eu merecesse, pois eu não mereço! Você está ouvindo, Helena ? Eu não mereço!

- Clara, sei disso. Fui longe demais hoje. Eu estava furiosa. Eu te avisei, mas você quis ficar. Era só dizer não e...

- Dizer não era desistir de você. – O cansaço me engolfou violento. – Quis ir até o fim, provar que faria tudo por você. Mas nunca pensei que me magoaria tanto. Que sentiria tanto nojo de mim mesma.

- Não diga isso. – Nervosa, ela me puxou para si, me envolvendo com seus braços mesmo quando eu tentava me livrar. – Você é a melhor pessoa que conheci na vida, Clara. Eu me sinto um lixo pelo que fiz você passar hoje. Vi que estava desesperada, que não queria, mas mesmo assim deixei que tocassem em você.

- Tocassem?! – Lhe empurrei, olhando-a com raiva. – Me foderam, merda! Você sabia que eu não estava bem com isso, me deixou lá sem me excitar, sentindo-me dolorida, a cada penetração era como se um pedaço de mim se cortasse, você é uma cretina. Mas foi bom! Agora sei exatamente o que eu quero e não é essa vida louca com uma mulher que consegue ver os outros sofrendo e ficar quieta se excitando, mostrando pros outros como ela é poderosal Pra mim você não vale NADA!

-Emm...

-Solte-me, Helena ! Quero sair daqui! – Não vai sair, vai ficar comigo, porral – Ela perdeu a cabeça, encostando-me na parede, segurando firmemente meus braços, meu corpo preso pelo dela. Seus olhos queimavam os meus. – Vamos resolver isso. Você disse que me amava.
- E você se importou com meus sentimentos alguma vez? Quantas vezes eu disse que te amava e você ouviu como se não fosse nada? Se você se impostasse tanto com o que sinto não teria feito isso, se bem que a maior parte da culpa foi minha de ficar colocando suas vontades em primeiro lugar me submetendo as suas vontades e desejos. Mas uma hora a tola cansa, uma hora eu chego ao meu limite e meu limite foi hoje. Eu vou embora e se você tiver um pouco de vergonha na cara não me procure mais.

- Escute, vamos conversar com calma. Sei que está nervosa, com raiva, tem toda razão. Estou aqui te pedindo perdão por tudo isso. Não cuidei de você, fiz tudo de propósito para te afastar de mim... – Ela dizia sério, baixo, seus olhos fixos tentando passar o que realmente sentia.

- E conseguiu! Por que não desce e vai comemorar com seus amigos? Porque você não vai fode-los comemorando que a trouxa romântica foi embora? – Eu não queria mais ouvi-la. – Tudo o que quero é que me solte e me deixe sair daqui.

- Não posso fazer isso. Encarei-a firme, determinada. E disse friamente:

- Acabou, Helena ! Eu nunca mais quero ver você na minha frente. Não quero que me toque e nem lembrar essa noite, quando usou meus sentimentos contra mim. Nunca se importou comigo, só me usou. Mas eu te agradeço. A Clara que sai daqui hoje é bem diferente da que entrou. A partir de hoje, sei me defender muito bem. Mas não te culpo. Foi escolha minha. Como é agora não querer mais falar com você. Helena  estava pálida, imóvel. Não afrouxou o aperto um milímetro. -Mereço sua raiva. Não cuidei de você.

- Não. Deixou-me lá naquele chão, por horas na mesma posição, enquanto se divertia com Ruby e a outra mulher. – Meus olhos encheram-se de lágrimas de novo, mesmo sem querer. A dor apertou meu peito. – Nem ao menos me olhou, perguntou se eu estava com fome ou se precisava de um copo de água, você foi desumana hoje.

-Cla... – A palavra saiu dolorida, agoniada, a culpa torcendo suas feições.

- Mas eu pedi por isso. A culpa não é somente sua. Sempre me alertou. Eu quis pagar para ver. E não quero mais.

- Você me ama. Não pode me deixar. – Posso e vou. Ou nem isso você vai respeitar?

-Meu Deus... – Helena  respirou fundo. Parecia perdida. – Só fique aqui. Descanse. Amanhã podemos conversar, estaremos mais calmas.

-Eu quero ir embora.

-Clara...

-Me solta! – Comecei a lutar de novo, o pânico ameaçando voltar. Precisava sair de perto dela, daquela casa, antes que tivesse um colapso. O ódio e o nojo ainda me consumiam me queimavam por dentro, me davam vontade de vomitar.

- Calma, não fique assim, estou soltando você. Vou por uma roupa e te levar em casa. -Helena  largou-me devagar e fui para longe dela, abotoando minha blusa de qualquer jeito.

-Vou sozinha.

- Não tem como, Clara!

-Vou andando! – Peguei minha bolsa.

- Espere. Se não quer que a leve, tudo bem. Vou chamar Grahan. -Helena  dirigiu-se ao telefone. Fui pegar minha bolsa, sem ousar olhá-la. Avisei, pois precisava escapar respirar ar puro, me controlar:

-Vou esperar lá fora, na garagem.

-Clara...

-Adeus, Helena . -E saí correndo do quarto. Grahan não demorou. Já completamente vestido, Helena  me olhava intensamente, parecendo arrasada de um jeito que nunca vi. Por um momento o amor que eu sentia por ela me fez vacilar, preocupada. Mas eu me sentia tão mal, tão abusada e magoada, com tanta raiva de mim e dela, que não tinha condições de fazer nada.
Precisava de tempo, precisava de espaço para me reestruturar. O senhor foi direto para frente do carro, como se soubesse que a coisa não estava boa por ali, Helena  parou perto de mim, enquanto eu abria a porta.

-Cla fique. – Foi tudo o que disse, cheia de emoção contida. Fugi de seus olhos.

- Não posso, é melhor você voltar pra dentro, você ainda tem uma orgia pra terminar.

Ela segurou meu braço, antes que eu entrasse na parte detrás do carro.

- Me perdoe.

- Não há o que perdoar. Fez suas escolhas e eu as minhas. – Olhei-a uma última vez e por incrível que pudesse parecer, não chorei. Uma calma estranha, fria, me envolvia. – Acho que é melhor assim.

- Vou te procurar.

- Não. Quero um tempo longe disso tudo. Preciso ir.

Mas ela não largou meu braço. Parecia não poder me deixar sair. Sua expressão era agoniada, estava pálida. Disse baixinho:

-Por favor, Cla.

- Só me dê um tempo Helena , preciso mesmo ir.

E entrei no carro, batendo a porta. Este se afastou. Não aguentei e olhei para trás, vendo Helena  sozinha, imóvel. A dor voltou atroz. Comecei a chorar e soluçar sem controle. No fundo eu sabia que era fim. Tinha acabado.

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um mimo pra vcs!

Minha Tentação (ADAPTAÇÃO) ClarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora