18 | O retorno, uma perda pela verdade

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Draco respira trêmulo, com medo do que poderia ver nos olhos de Potter. Mas quando ele finalmente olha para cima, sem o peso de uma confissão de seus ombros, os orbes esmeraldas de Potter olham para ele apenas com admiração. A rejeição, o desgosto, não vem, e Draco nem sabe se já esperava por isso.

Parte de sua mente tem repassado as palavras de Potter, 'eu posso ser', repetidas vezes, e foi apenas agarrando-se a elas que Draco ganhou coragem para gritar para a floresta que ele é gay. Não existe 'posso' ou 'talvez' no caso de Draco, porque ele sabe que não pode existir outro sentimento que rivalize com a sensação do corpo nu de Potter enrolado em torno do seu.

Talvez seja culpa de Harry Potter, afinal, por fazer Draco perceber isso sobre si mesmo, ou talvez tenha resultado do que tem sido uma obsessão crescente de sete anos. De qualquer forma, de alguma forma, Draco chegou até aqui, em um mundo onde Harry Potter é a coisa mais importante, e Draco não consegue dizer se toda a sua vida foi um disfarce até este momento, ou se ao longo do caminho ele tornou-se tão delirante que nem faz mais sentido.

Mas não importa o que aconteça, Draco sabe que não quer voltar, e quando seus olhos percebem o espanto no rosto de Potter, ele pensa que talvez Potter também não queira que ele volte.

Draco acena com a cabeça para o ar frio, sem nenhuma razão além de estabelecer a verdade que acabou de falar, para fazê-la parecer mais real. Ajuda um pouco, acalma os nervos, faz com que ele se sinta um pouco culpado por arruinar parte da floresta e, mais do que tudo, o faz tremer de vontade de rir. Ele se sente livre, incrédulo, mas livre, e quando Potter pigarreia e gagueja, — Er... isso é ótimo, Malfoy — Draco não pode deixar de concordar.

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Harry fecha os olhos, tentando bloquear a ação de Malfoy, mas não consegue. Algo na magia de Malfoy está implacável nesta manhã e, quando ele empurra a cabeça de Harry, ele tem de fincar os calcanhares na neve para não cambalear para trás.

Ele acha que a única coisa que o impede de desmaiar é o júbilo que continua a brilhar em suas veias desde esta manhã.

Draco Malfoy é gay, e vou poder beijá-lo mais um pouco!

— Vamos, Potter. Você pode fazer melhor que isso. — O rosto de Malfoy está iluminado por um entusiasmo bizarro, as olheiras sob seus olhos contrastam com uma cor escura, e Harry não sabe se deve interpretar isso como uma zombaria ou um elogio.

A concentração de Harry está faltando, não apenas devido à revelação de Malfoy sobre a noite anterior, mas por causa da hiperatividade quase assustadora dos movimentos de Malfoy, da maneira forte como seu braço golpeia quando ele usa legilimência na mente de Harry. Harry apostaria seu cofre de Gringotes que isso tem algo a ver com a horcrux, mas pela maneira como Malfoy o encara e olha sempre que ele se oferece para pegá-lo, ele fica cauteloso em perguntar novamente.

Harry suspira, esfrega a ponta do nariz e tenta relaxar seus pensamentos concentrando-se em uma coisa. Um rosto pálido, brilhando de energia, e uma mancha de farinha ao lado dos olhos cinzentos. Ele sente a presença de Malfoy, investigando ainda mais a memória da briga de comida deles, mas desta vez Harry sabe que pode fazer melhor, não porque Malfoy disse, mas porque Malfoy o lembrou.

Ele constrói suas paredes, empurra Malfoy para fora, mas ele não tem autocontrole suficiente, e a torrente de sua defesa não para até que ele se encontre em um lugar desconhecido. É solitário, escuro e frio, e ao longe ele vê um garotinho de cabelos platinados, puxando a perna da calça do pai.

A mente de Draco Malfoy é um lugar cheio de tristeza e lamentações ressentidas, e isso deixa Harry sem fôlego enquanto imagens rápidas inundam seus olhos.

Temptation on the Warfront | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora