30 | Fora do fogo

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Branco.

Um vazio vasto e insondável.

Morrer é pacífico, Harry percebe. É como caminhar pelas nuvens, por uma névoa incolor que penetra em seu corpo e o faz sentir-se livre.

Mas ele ainda tem um certo nível de consciência, ainda consegue identificar seus pensamentos – ele ainda sente falta de Draco.

Isso é normal? Os mortos sentem falta dos vivos, seus pais continuaram sentindo falta dele, depois de todo esse tempo? Harry terá que passar o resto da vida desejando o garoto que deixou para trás na guerra?

A paz se quebra abruptamente e Harry se vira, tentando distinguir algo de todo aquele branco.

E então ele vê, encolhido debaixo de um banco, algo sangrando, quebrado e morrendo. Harry recua com um suspiro, porque só quando vê é que ele percebe o quão vivo ele realmente está.

— Harry.

Harry se vira.

É Dumbledore, parecendo sábio e brilhante e tão branco quanto tudo ao seu redor. — Seu homem corajoso, corajoso e maravilhoso. — E Harry pode acreditar, não que ele seja corajoso, porque ele já sabe disso, mas que de alguma forma ele saiu dessa como homem. É confuso e assustador, mas libertador, e ele se vê retribuindo o sorriso que seu antigo diretor lhe dá.

Eles caminham e a Estação Kings Cross começa a tomar forma. Está vazia, exceto para os dois, e Harry escuta. Ele escuta e finalmente entende que esse homem que ele idolatrava durante a maior parte da vida é alguém que comete erros, que carrega fardos, que chora. E Harry o perdoa. Perdoa-o por nunca ter contado a Harry que ele estava ligado a Voldemort por algo diferente do destino. Perdoa-o por tudo.

Harry se lembra da época no final do quinto ano, quando ele estava perturbado, transformando o escritório de Dumbledore em um lugar de desolação e ruína - porque ninguém entendia, ninguém poderia entender a agonia que ele sentia por perder Sirius Black, por não ser capaz de fazer qualquer coisa. Mas Dumbledore sim – ele entendeu. E só agora Harry percebe isso.

— Eu tenho que voltar, não é? — Harry pergunta, porque por alguma razão viver parece tão difícil quanto morrer, e por um breve momento Harry se pergunta se será capaz de alcançar aquela paz etérea mais uma vez se ficar.

Mas então Dumbledore diz a ele que ele pode embarcar em um trem, e Harry sabe que embora isso o leve de volta, também o levará de volta às responsabilidades, de volta à guerra, e de volta a mais mortes, mais destruição.

— Voldemort tem a Varinha das Varinhas — diz Harry, e esse é o primeiro motivo de muitos.

Dumbledore olha para ele serenamente, seus olhos profundos com algo que os torna semelhantes. Porque Dumbledore venceu a primeira guerra e agora Harry tem que vencer a segunda.

— A cobra ainda está viva.

Harry sabe que deveria voltar, sabe que voltará, mas é apenas o pensamento de Draco Malfoy que o faz esperar que ainda haja um assento no trem para ele.

Há um brilho nos olhos de Dumbledore, e depois que ele altera sua declaração e diz — Ajuda sempre será dada em Hogwarts, para aqueles que a merecem — ele começa a se afastar.

— Professor — Harry chama, e Dumbledore faz uma pausa, — Eu - eu estou apaixonado por Draco Malfoy.

Ele não sabe por que precisa dizer isso, mas simplesmente diz. Talvez seja porque ele está falando sobre o garoto que ergueu e abaixou a varinha no topo da Torre de Astronomia, o garoto que ele sempre odiou, e ele precisa ter certeza de que está tudo bem.

Temptation on the Warfront | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora