08 | Realizações ao luar

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Draco se vira dormindo, seu rosto úmido contra o travesseiro.

Está escuro, muito escuro, mas suas pernas continuam se movendo, continuam subindo e, eventualmente, ele consegue ver a luz e as estrelas. Há centenas delas, brilhantes e cintilantes, e Draco gostaria de poder simplesmente parar e observá-las, esquecer o que ele tem que fazer e o que acontecerá se ele falhar.

Ouve-se um silvo nas suas costas, uma voz profunda, e então ele é empurrado para frente, com ordem de continuar andando. Sua tia gargalha ao lado dele. Draco se move e finalmente chega ao último degrau, e ao momento em que sua vida terminará ou começará de novo.

De alguma forma, ele não sabe o que prefere.

Curvado pela fragilidade e pela dor, Dumbledore está diante dele, e seu rosto é muito gentil, muito confiante para alguém que está prestes a ser assassinado.

Draco tenta levantar sua varinha, mas seu braço parece chumbo, pesado e lento, movendo-se como se estivesse em um sonho.

Há vozes, todos estão falando em seu ouvido, Comensais da Morte, seu Diretor, mas tudo que Draco consegue ouvir é Potter. E ele gira, com as pernas dormentes, procurando desesperadamente por aquela voz, pela voz de Potter. Mas Potter não está lá, Draco não consegue vê-lo em lugar nenhum, não consegue encontrá-lo no pequeno e circular espaço da Torre de Astronomia.

— Você não é como eles.

— Eu sou! Sou exatamente como eles! — Draco tenta gritar isso, mas os músculos de sua garganta não funcionam, e seus lábios estão selados em um soluço.

— Você não é como eles — diz Potter novamente. Draco se vira, olhando para cada sombra, cada fenda, mas Potter não está em lugar nenhum.

Ele pode sentir varinhas em suas costas, cravadas em sua espinha, Comensais da Morte lhe dizendo para fazer isso agora. Mas Draco não pode. Ele precisa encontrar Potter primeiro.

— Você não é como eles! — Draco ouve isso em sua própria mente, e é então que ele percebe que Potter não está em lugar nenhum e em todo lugar ao mesmo tempo, e o choque disso o derruba de joelhos com uma força estonteante.

As palmas de Draco nunca encontram a superfície dura do chão, ele apenas cai e cai e cai, e tudo que ele tenta agarrar escapa de seu alcance, tudo exceto as palavras calmas de Potter, porque Draco acha que nunca será capaz de deixá-lo ir.

Draco acorda de repente, seu corpo dolorido por uma queda que nem foi real, e seu cabelo está grudado na testa. Ele respira gananciosos goles de ar, cedendo de alívio quando chegam a seus pulmões, quando seu cérebro nebuloso faz a conexão de que isso é real , e o lugar de onde ele acabou de escapar não era nada além de uma invenção distorcida de uma memória, contaminada pela presença indesejada de Potter.

Draco agarra os lençóis macios, passando as mãos por eles, antes de jogá-los fora, com seu peso claustrofóbico e apertado. Draco desliza para a beirada da cama de dossel, aquela que ele sabe que Potter colocou lá, aquela na qual ele tenta não pensar em seu estado pré-transfiguração. Conhecendo Potter, poderia ter sido um sapato velho e sujo ou algo assim.

Draco passa a mão ligeiramente trêmula pelo cabelo encharcado de suor e então se levanta, desejando ter alguma poção de sono sem sonhos para dormir. Mas ele não o faz, então tudo o que ele pode fazer é caminhar pelos corredores iluminados pela lua, assim como faria na Mansão antes de ela ser tomada, e torcer para que seus sonhos não o sigam.

O piso de madeira é fresco sob seus pés, e para fazer alguma coisa, Draco abre porta após porta. Ele não se preocupa em ficar quieto, porque mesmo que ele se importasse em acordar Granger e Weasley, ele sabe que eles dormem dois andares abaixo, e Potter provavelmente está tão insone quanto Draco.

Temptation on the Warfront | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora