Capítulo 16

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Josie se sentia estranha sobre o olhar de todos em si, se sentia uma criança que havia aprontado e os adultos esperavam uma explicação. Não era algo confortável, nenhum pouco. Não deveria ser tratada como se fosse sua obrigação dar uma explicação para todos, mesmo tendo coisas que ela sabia que haveria consequências assim que contasse a verdade. Ela sabia que eles estavam preocupados com o que poderia acontecer em breve, mas exigir que ela escolhesse se queria ou não se tornar uma tribida era demais. Afinal, nem mesmo eles sabiam se era algo possível.

Como não havia escapatória ela suspirou. -Pois bem, o que querem saber?

A conversa se prolongou a ponto de todos se reunirem no escritório da escola.

¬¬

O sol já clareava a escola quando Caroline dispensou Hope e Josie, alegando que era melhor todos esfriarem a cabeça antes que pudessem tomar alguma decisão sobre o que haviam discutido. Ainda mais depois de Klaus quase matar Josie três vezes.

O clima entre as duas já não era mais o mesmo de quando foram para a cama na noite anterior. Hope agora compreendia os motivos de Josie se manter afastada, porém, uma parte dela culpava a morena por deixar que ela cuidasse das filhas sozinha por tanto tempo. Piorando um pouco a situação, ainda tinha o fato de Josie se sentir confusa sobre querer ou não virar um lobisomem, isso é, se elas descobrissem como fazê-lo sem matá-la. Novamente.

-Vou pegar as coisas das meninas e levar para a casa. -Hope anunciou assim que chegaram na porta do quarto em que haviam ficado.

-Não quer ajuda?

-Melhor não. Do jeito que estamos acho melhor esfriarmos a cabeça antes de qualquer coisa. -Disse, cruzando os braços e evitando o olhar da morena.

-Hope...

-Eu disse não, Josette. Preciso de um tempo sozinha. -Pediu.

-Posso pelo menos me explicar? Explicar o por que...

-O que mais você precisa explicar? Ou melhor, qual desculpa você quer me dar agora? -Pela primeira vez Hope a encarou. Mágoa era tudo que Josie via em sua expressão. -Vamos lá, me conte mais uma desculpa do porquê você ter nos evitado até agora, mas não ouse falar que foi pela nossa segurança. Nós sabemos bem que não foi por isso.

Desta vez quem desviou o olhar foi Josie, o arrependimento e culpa estavam pesando em seus ombros agora.

-Não vai falar nada? -Hope bufou pela falta de resposta. -Foi o que pensei.

-Desculpa. Eu sinto muito por...

Hope a cortou, a raiva já estava visível em sua expressão. Assim como inevitavelmente seus olhos mudaram para o amarelo.

-Sente muito? Você sente muito? Você realmente acha que sentir muito vai apagar esses últimos seis anos? Quer a verdade? Não vai! Nada vai mudar tudo que eu tive que passar sozinha porque você foi uma tremenda covarde.

-Você tinha todos ao seu lado, não precisava mudar para o outro lado do mundo. -Josie respondeu, se arrependendo logo em seguida.

-Sim, realmente. Eu tinha todos ao meu redor, mas sabe de uma coisa? Nenhum deles era você. Você, que na hora de declarações e juras de amor foi perfeita, mas na hora da realidade fugiu como uma covarde. Nada adiantaria ter todos eles comigo sendo que a única pessoa que eu queria e precisava ao meu lado não estava. -Hope falou, cada vez mais sua paciência se esvaia e agora suas presas estavam a mostra. Todas suas partes deixando um pedaço em aparência. -E onde você estava? Ah, é mesmo. Se escondendo com medo de encarar a realidade.

Josie, assim como Hope, estava a ponto de estourar. As veias em volta de seus olhos já estavam escuras, quase deixando claro a magia negra em seu corpo.

-Não é assim, e você sabe. Essas pessoas, elas estavam...

-NÃO OUSE USA-LAS COMO PRETEXTO PARA SUA COVARDIA, SALTIZMAN. -Hope gritou, não ligando mais se estavam no corredor da escola. -Assume que você não queria uma responsabilidade, ou melhor, duas responsabilidades.

-NÃO DIGA O QUE NÃO SABE. -Josie se recompôs, não era a intenção gritar. -Nunca repita que eu não as queria, você, melhor que ninguém sabe o quanto eu as amo.

-Claro, claro. Você as ama, as ama tanto a ponto de ficar longe por seis MALDITOS ANOS. SEIS ANOS, JOSETTE. Não foram horas, dias, semanas, até mesmo meses. Foram anos, anos fingindo estar morta porque não sabia se seria ou não uma boa mãe para elas.

-Eu tinha medo, medo de...

-E você acha que eu não fiquei com medo? Acha mesmo que eu nunca senti medo durante todo o tempo em que estivemos sozinhas? Acha que eu não senti medo quando elas começaram a engatinhar e tudo que viam pela frente era motivo para colocarem na boca? Ou quando elas acabavam se machucando quando estavam brincando? Ou melhor, como você acha que eu me senti quando no aniversário de dois anos elas me perguntaram onde você estava? Sabe como é explicar para duas crianças que a mãe delas havia se sacrificado para salvar a vida delas? Você sabe a agonia e desespero que eu senti quando elas começaram a chorar porque queriam você conosco? Não Josette, você não sabe. Então não ouse usar a desculpa de "eu tinha medo", porque medo foi o que eu mais senti, mesmo assim eu fiquei forte porque eu não poderia me dar o luxo de ter medo sendo que elas dependiam apenas de mim.

A raiva já havia sumido, restando apenas a mágoa.

-Hope, eu não sabia...

-Não, como você saberia? Afinal, você estava se escondendo mesmo estando perto de nós.

O silencio prevaleceu, Josie não sabia o que podia falar que faria a ruiva entendê-la.

-Eu preferia que você realmente estivesse morta ao invés da verdade desses anos.

Para Josie era melhor Hope ter arrancado seu coração com as próprias mãos ao invés de falar aquilo. Não conseguiu segurar as lagrimas, deixando que elas deslizassem por seu rosto molhando-o.

-Ei, meninas. -Uma terceira voz foi ouvida no corredor.

Elas se viraram vendo Rebekah e Lizzie as olhando de longe.

-Não se preocupem, eu enfeiticei o corredor para que ninguém as ouvisse. -Lizzie fala, se sentindo envergonhada por ouvir a conversa.

-Josie, querida. Por que não pega as coisas das meninas e leva para casa? Acho que a Hope precisa de um tempo para esfriar a cabeça. -Rebekah pede, evitando usar o tom irônico que sempre usava. Ela estava séria.

Josie apenas concordou e passou por Hope, entrando no quarto.

-Hope, por que não vai ver sua mãe? Ela está la fora te esperando.

A ruiva nada respondeu, apenas deu as costas e foi em direção a saída da escola.

¬¬

Josie não sabia quanto tempo havia passado desde que tinha chegado em casa, mas desde que chegou não moveu um musculo sequer para sair do carro. O choro já havia passado, mas seus olhos vermelhos denunciavam o quanto ela estava mal por algo que ela mesma tinha feito. Suspirou. Saiu do carro e pegou as mochilas do porta-malas.

A casa estava tão silenciosa que lhe fez lembrar dos anos que passou dentro quarto de hotel evitando encontrar a todos. Nunca se orgulharia do que fez, deixou com que medo tomasse conta de si e acabou tomando decisões que se arrependia profundamente. Depois de descobrir sobre a seita que estavam perseguindo suas filhas achou melhor se manter afastada e tentas descobrir o máximo de coisas possíveis sobre eles, mas não era somente isso. Assim que havia retornado o primeiro pensamento que lhe veio a mente foi ir atrás de Hope e as gêmeas, mas o medo de ser tão jovem e de não saber se conseguiria cuidar de duas crianças tão poderosas lhe dominou e a fez ficar afastada. Foi uma péssima decisão, ela sabia. E agora estava sofrendo com as consequências.

Primeiro deixou as malas das gêmeas no devido quarto, em seguida foi para o seu e de Hope, deixou a mala próxima do cesto de roupas sujas depois entrou no closet. Enquanto pensava ainda no que tinha acontecido seu olhar caiu sobre uma prateleira em cima das jaquetas penduradas, mais especificamente em uma câmera. Aquilo lhe chamou a atenção, não se lembrava de ver Hope usando aquilo em momento algum.

A curiosidade lhe dominou. Pegou a câmera para saber se havia algo nela, e o que viu lhe partiu ainda mais o coração.

Problemas de lobo - Lua Minguante.Onde histórias criam vida. Descubra agora