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CINDERELA
|Pouco mais de meia noite|
22 de abril de 2018, Los Angeles, Califórnia
Não me lembro quando comecei a gostar desse idiota. Talvez tenha sido quando ele começou a se identificar com os caras dos meus livros.
Não os mocinhos, ou tampouco os heróis. Nunca gostei de livros em que a protagonista terminasse com os mocinhos. Pelo contrário, sempre torcia para que ela ficasse com o vilão — aquele que era…
Idiota.
Babaca.
Filho da puta.
Um cuzão.
Um traficante.
Um assassino.
Um mafioso que a amou desde o primeiro momento em que a viu.
Um louco que faria qualquer coisa para demonstrar seu amor. Mataria, explodiria, daria tudo o que ela pedisse, acabaria com a vida de quem ela não gostasse, torturaria quem ousasse tocá-la, destruía quem a intimidasse ou a tratasse mal.
Mas, ao mesmo tempo, um vilão que a amasse de verdade, com o amor mais puro — mas também um amor doido, que as pessoas olhariam e diriam: “Eles nunca vão dar certo, são inimigos!”. Para que, no final, os dois terminassem juntos — no céu, na terra ou no inferno.
Um vilão que só teria olhos para ela, que jamais a trairia com qualquer outra — até porque traição não é admissível — e, principalmente, um vilão que fosse cadelinho dela.
E qualquer coisa de mal nele se resolveria com a droga de um passado triste.
Se você nunca leu um livro assim, você não pode receber o título de leitora. E se ainda não leu, pelo menos já deve ter lido um livro de Dark Romance, certo? Não importa se você odiou, sentiu vontade de jogar o livro pela janela, se arrependeu até a alma de ter comprado ou já o abandonou por raiva.
Eu já li, gosto muito, mas também odiei. Odiei porque os livros me fizeram criar um padrão para mim.
E esse é o problema. Um problema sério. Foi por isso que parei de ler. Eles começaram a mexer com a minha cabeça, já cheguei ao ponto de ler um livro em menos de doze horas.
O fascínio por personagens sombrios virou uma espécie de refúgio literário, uma fuga para um mundo onde as regras eram desafiadas e os limites do amor testados até o extremo.
Cada página virada era uma imersão mais profunda em um universo onde o certo e o errado se entrelaçavam, e heróis e vilões se tornavam indistinguíveis, me deixando cativa de emoções conflitantes.
No entanto, esse encanto literário começou a se infiltrar na minha realidade, moldando minhas expectativas de relacionamentos de uma forma que eu não conseguia mais ignorar. É estranho que antes eu quisesse um amor igual aos dos livros?
Talvez não seja estranho. Talvez seja doentio. Principalmente quando se trata de Dark Romance.
Anos atrás, eu conheci um garoto. Ele era perfeito. Não tinha nada a ver com meus personagens fictícios. Era legal, não matava nem uma mosca, mas gostava muito de mim. A princípio, eu não gostei muito dele — por causa de um problema que está ativado no meu cérebro, chamado SGQNR (Só Gostar de Quem Não é Recíproco) —, mas depois que ele se distanciou, comecei a me sentir atraída por ele.
Eu tenho esse problema sério de só gostar de quem não é recíproco, que me odeia, ou que desiste de mim.
Consegui fazer com que ele voltasse a gostar de mim, nós namoramos por dois meses...
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Através De Uma Aposta
RomancePara protegê-la do perigo, eles ocultaram a verdade...