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                    Capítulo Vinte e Quatro


Lan Zhan

Dirigimos para Manhattan para que pudéssemos expor a obra de arte de Wuxian. Ele trouxe duas peças de Seu. Elas eram de nós, era claro, mas você não podia dizer isso pelas pinturas, só sabia que eram dois corpos masculinos, entrelaçados de uma maneira que em alguns lugares era difícil dizer onde um começava e o outro terminava. Eles eram lindos. Nós éramos lindos.

— Será difícil mostrá-las? É tão pessoal, e considerando nossas… circunstâncias atenuantes…

Era a vez de Wuxian dirigir, e ele olhou para mim do banco do motorista.
— Você se incomoda que eu mostre a eles? Eu deveria ter perguntado. Nem pensei nisso.

— Não. Não me incomoda. Você está de brincadeira? Eu quero gritar essa merda dos telhados. Certificar-me de que todos saibam que sou eu que sou tão inspirador.
Wuxian riu. — Ok, bem, e se eu te dissesse que não estava compartilhando pinturas nossas?
Eu fiz uma careta. — O que quer dizer?

— É você e eu nas pinturas, não me entenda mal, mas para outra pessoa, são eles. Isso é parte da beleza neles, e parte da razão pela qual não há rostos. Eles representam o amor como um todo. Para você e para mim, somos nós. Para outro casal, são eles.
— Porra, é sexy quando você fala sobre arte assim.
— Isso é bom, então, porque é cem por cento o que eu queria.  Ele sorriu.

Coloquei minha mão em sua nuca, enrolei seu cabelo em meus dedos e massageei seu couro cabeludo. — Você é incrível. Amo o jeito que sua mente funciona.

— Mesmo quando estou bagunçado, deixo uma meia no balcão e uso sua escova de dentes sem pedir?

— Sim, mesmo assim. Sério, essa é uma bela maneira de olhar para isso.
Jesus, eu estava orgulhoso dele.

— Obrigado. Eu gostaria de expandi-lo. Eu adoraria criar casais femininos, casais heterossexuais, alguns onde você não pode dizer seus gêneros.
— Eu acho que você deveria.
— Eu planejo isso.
— Seu idiota.
Não falamos sobre Sanren e papai. Parecia que nós dois estávamos tentando não focar nisso porque doía muito. Já se passaram dez dias, e estávamos tentando continuar, focar um no outro.
Era fim de tarde quando Wuxian estacionou na garagem em Manhattan onde guardava seu carro. Entendia por que ele dirigia o mínimo possível até lá. Eu não gostava de lidar com o trânsito em Atlanta, mas a cidade de Nova York era uma fera por si só.
Pegamos nossas malas e descemos a rua em direção ao prédio dele. Como sempre na cidade, havia pessoas em todos os lugares, carros entupindo as ruas, buzinando e construção em um prédio próximo.

O saguão era elegante, decorado em preto, prata e cinza. Eu nunca tinha ido ao apartamento dele. Quão triste era que ele fosse a pessoa mais importante do meu mundo desde que eu tinha quatorze anos, e eu nunca estive em sua casa?

Wuxian destrancou a porta. Era início da noite, e o sol brilhava através de uma das grandes janelas de sua sala de estar. Ao contrário do meu apartamento, o de Wuxian era mais confortável e habitado. Havia obras de arte em todas as paredes, diferentes estilos e cores que se juntavam de uma maneira que eu não saberia fazer. Seu sofá era grosso e macio, de um azul claro. Roupas penduradas nas costas, um cobertor enrolado no canto. Um sapato embaixo da mesa de centro, o outro do outro lado da sala ao lado de uma cadeira que combinava com o sofá. Pilhas de cadernos de desenho também cobriam o espaço.
Algumas peças de roupa no chão faziam um rastro pelo corredor. No canto da sala de jantar, tinha pilhas de telas e suprimentos por toda a mesa. Tinha um cavalete lá também, embora eu soubesse que ele tinha um estúdio.

𝐅𝐨𝐫𝐜̧𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐨𝐬 𝐋𝐢𝐦𝐢𝐭𝐞𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora