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A Floresta do Silêncio – a fuga.

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Kastian disse para Kalissa que ela deveria conseguir tempo suficiente para que ele pudesse tirar seus amigos de lá em segurança, sem que ela precisasse fazer qualquer acordo com eles. Trinta minutos. Era disso que ele precisava.
Eles se aproximaram de árvores ainda maiores, seus troncos eram grossos e pareciam irreal. Eles não estavam na cidade, aquele lugar era um tipo de santuário onde ninguém sabia exatamente onde ficava, apenas que existia. Quando se aproximaram de um grande portão, Kastian havia sumido, e uma criatura muito alta abriu o portão para que ela pudesse entrar. Ela não ousou olhar para ele, nenhum deles, sabendo que seus rostos eram causa de muitos pesadelos em vários Caçadores.
O Ancião guiou Kalissa para dentro da árvore, e ela não conseguiu evitar a surpresa ao ver como aquele lugar era. Infelizmente, ela deu apenas dois passos antes que outro Ancião se aproximasse com uma venda em mãos.
   "Você deve cobrir os olhos a partir daqui. Estaremos guiando você em segurança até o Ancião Jeremiah."
A voz era suave, mas ecoava de forma assustadora em sua mente. Kastian havia dito que este lugar ultrapassava até mesmo o bloqueio que ela tinha e que ninguém conseguia atravessar. Era estranho sentir a presença daqueles seres olhando para ela, através dela, e Kalissa manteve a postura para evitar que pudessem olhar demais.
   — Por que não posso olhar?
Era uma pergunta genuína, mas uma forma de ganhar tempo, atraindo atenção ao máximo. Mantendo seus pensamentos o mais seguros possível, ela apenas limpou a mente.
   "É um protocolo antigo, criança. Para nossa segurança, e a sua. Muitos Anciãos aqui não estarão usando suas vestes protetoras, seria perturbador demais pra você olhar nossas verdadeiras faces."
As verdadeiras faces, aquilo que escondiam sob o capuz. Ela assentiu, sem ter coragem de perguntar mais nada. A mão fria o Ancião causou um arrepio ao esbarrar em seu rosto, e Kalissa tentou ignorar a sensação que teve com aquele contato. O pano foi colocado e ela aguçou os outros sentidos, como Adaely ensinara, conseguindo distinguir cheiros. O Ancião que havia colocado o pano se afastou, ele tinha cheiro de livros antigos e lugares fechados, isso a fez retorcer o nariz e querer espirrar.
   "Vamos prosseguir."
O Ancião que a guiava tinha um cheiro um pouco mais agradável, o mesmo da floresta, mas havia um cheiro forte de alguma planta específica se sobressaindo, e ela não soube identificar.
   — Posso perguntar algo?
Eles continuavam caminhando, ela sentia a mão do Ancião pairando por suas costas sem tocar, apenas ali caso fosse necessário.
   "Qual sua dúvida, criança?"
   — Eu notei que usando túnicas de cores diferentes, e também tem cheiros diferentes. Por que?
Algo como uma risada pode ser ouvida, ela esperou uma resposta e se sentiu apreensiva como se aquela criatura pudesse sentir o cheiro do seu medo no mais profundo de sua mente.
   "Criança observadora.", não parecia irritado, apenas...entretido. "Cada um de nós tem uma função, e nossas vestes indicam qual é essa função. Sou o responsável pela medicina do lugar, aquele é responsável pelo acervo de conhecimento, e há também aqueles que são responsáveis pela segurança do nosso santuário."
Kalissa assentiu. Havia mais perguntas, e ela ousou abusar da disposição do Ancião para continuar saciando sua curiosidade.
   — Então são dividos em funções e hierarquia?
   "Exatamente. A hierarquia mais alta é do nosso Ancião Jeremiah, logo abaixo dele está seus conselheiros e comandantes de guerra, usando a cor roxa. Depois deles, estão os medicinais, usando verde. Os bibliotecários, usando cinza e os servos aprendizes usando marrom com detalhes nas cores na qual estão aprendendo."
Aquele que havia trazido o pano e vendou seus olhos usava roxo, talvez parte dos guerreiros diretos de Jeremiah, talvez um dos comandantes...ela não poderia perguntar isso.
Eles continuaram seguindo em silêncio, Kalissa tentava identificar os sons aos redor, mas tudo que ela ouvia era o vento sendo soprado pra lá e pra cá o caminho todo. Eles viraram para a esquerda, direita e depois direita novamente, mas ela duvidava que era tão simples assim andar por ali, e se manteve concentrada em não pensar. O Ancião segurou seu braço, parando diante de algo que fez um click – uma porta.
   "Ela está aqui, irmão."
Seu corpo todo se tensionou quando ela ficou ali parada com os olhos vendados. Ela sentia alguém se aproximar e então o pano foi removido de suas vistas, então ela piscou para se adaptar a luz novamente.
   — Bem vinda, Kalissa Blackheart. — a voz era comum, nada de sussurros em sua mente ou aparência horripilante, era um garoto. — Obrigado por aceitar meu convite de se juntar a nós.
   — Chama isso de convite? Você sequestrou meus amigos.
Ela viu um dos encapuzados levar a mão até uma espada, então pensou em como gostaria de ter levado alguma arma para se defender.
   — Ninguém vai machucar você aqui, Kalissa. — era um aviso, o encapuzado voltou a relaxar, mas não totalmente. E foi aí que ela observou...
Mãos humanas.
   — Vamos deixá-la confortável, sim?
Um a um, os encapuzados removeram o que cobria seus rostos e Kalissa sentiu o choque da surpresa. Eles eram humanos?!
   — Não humanos, mas algo mais normal que o restante dos nossos irmãos. — Jeremiah respondeu a pergunta que ela ecoou em sua mente, e então ela rapidamente voltou a se concentrar em sua tarefa de evitar que ele pudesse entrar em sua mente. — Sente-se, aceita algo para beber?
   — Eu vim buscar meus amigos, onde eles estão?
Jeremiah balançou a cabeça negativamente, os fios castanhos lembravam os de Alexander, algumas características também, mas deveria ser apenas um engano. Ao ouvir o que ela pensava, o Ancião sorriu de uma forma quase maléfica.
   — Não é uma coincidência, Kalissa querida, porque a explicação pra isso é bem simples — ele se levantou, fazendo uma breve reverência como um cavalheiro, mas seu sorriso não demonstrava a mesma decência —, eu sou Jeremiah Alderstair. Irmão mais velho de Alexander.

A História de Uma Garota (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora