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Destinos e caminhos traçados

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A mesma noite de sempre, os mesmos pesadelos, os olhos escuros de um salvador desconhecido...o puro tormento noturno estava começando a deixar Kalissa deprimida. O clima estava propício para usar preto, sem muita atenção a detalhes ou preocupação em esconder as olheiras que estavam ficando cada vez mais preocupantes. Hanna vai querer cuidar disso, ela pensou enquanto descia as escadas para tomar café. Sua melhor amiga sempre se preocupava quando encontrava ela naquele estado, tentando o seu melhor para deixá-la ao menos razoável de aparência. "Existem coisas que ninguém precisa saber, Lissa. Essa é uma delas." E ela não se importava com o que estavam pensando, não nesses dias.
Eu só quero dormir em paz.
   — Bom dia. — ela cumprimentou sua tia e madrinha que estavam acordadas e preparando tudo na cozinha.
   — Ainda com aqueles pesadelos, querida? — Julie veio até Kalissa e tocou seu rosto gentilmente, sua expressão era de preocupação e até tristeza. — Veja isso, está tão marcado abaixo dos olhos. Espere um pouco, vou tentar melhorar isso.
Ela suspirou enquanto sua madrinha corria até a sala para pegar algo, voltando com maquiagem e uma caixinha pequena e marrom que não parecia uma maquiagem.
   — Isso é para você, deve ajudar a diminuir sua insônia. Trouxe especialmente para você, mas esqueci de entregar ontem.
Dentro da caixinha estava um lindo colar com uma pedra negra como pingente.
   — Essa é a turmalina negra, vai proteger você em vários sentidos, é a mais eficiente em proteção que encontrei. Nunca tire, está bem?
O pingente pareceu aquecer quando encostou em sua pele, trazendo uma sensação maravilhosa de conforto e proteção. Era linda, um pouco pesada, mas nada que pudesse incomodar.
   — Obrigada madrinha, eu espero que isso ajude mesmo.
Julie sorriu satisfeita.
   — Vai sim, sempre funciona. Basta usar sempre e tudo ficará bem.

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A movimentação na escola havia voltado ao normal, felizmente, o único alvoroço ainda era pela festa de Lorenny Reese e a preocupação dos alunos com notas baixas. Literalmente, o de sempre.
   — Eu ainda não acredito que Lorenny vai mesmo levar todo mundo para a casa dela na praia. — Liam comentou enquanto Chris comia tranquilamente uma maçã. — Ela não lembra da treta da última vez?
   — A palavra preferida dela agora é redenção. — Hanna argumentou, ela estava visivelmente entediada olhando para o grupo escandaloso de Lorenny. — Eu nem sei se ela entende o que significa isso.
   — Sabe no que eu não acredito? Que cogitamos ir. — Chris acrescentou depois que terminou de mastigar.
   — De fato, isso é insano. — Liam concordou.
   — Nós só vamos pelo mesmo motivo que todos querem ir.
   — Bebidas de graça e muita porcaria adolescente? — Liam brincou e Hanna olhou feio para ele.
   — Os novatos. Eles vão, todos vão.
   — Vamos bancar os investigadores ou as bonitas estão interessadas? — Christopher indagou, olhando para Hanna e depois para Kalissa, se demorando mais nela.
   — Todos queremos saber que tipo de pessoas eles são, além de ser obviamente muito mais ricos que a família Reese. O que eu achava quase impossível. — Kalissa se defendeu e, sem querer, olhou na direção onde eles estavam.
Os olhos de Kaizo Morgenstair estavam fixos nela novamente, como duas turmalinas iguais a que estava em seu colar, brilhando em curiosidade e interesse. Desta vez ele sorriu, um sorriso mínimo e quase imperceptível, mas que ela percebeu e sentiu um arrepio estranho em todo seu corpo. Kaizo continuou encarando até que seu amigo Harry Ashgray tocou seu ombro e ele desviou o olhar.
O sinal tocou e todos começaram a se dispersar devagar para suas aulas, alguns correndo para pegar coisas em seus armários e outros rindo alto com seus amigos. Eles pareciam fantasmas, sem muitas expressões e silenciosos demais mesmo em seu próprio grupinho, disciplinados e com aquela postura altiva de superioridade que faziam todos olharem e afastarem quando passavam.
Assustador.
Durante a aula não muito interessante sobre biologia, Kalissa se sentiu sonolenta e para evitar cair no sono ela começou a fazer pequenos rabiscos em seu caderno, como se estivesse anotando o que o professor estava balbuciando.
   — Se ele pegar você desenhando, vai levar uma advertência dessa vez. — Hanna alertou em voz baixa e Kalissa apenas ignorou.
Seus olhos estavam pesando, sua mente embaralhando e ela tinha certeza que acabaria caindo de cara a qualquer momento. A sensação era de extrema vulnerabilidade, numa luta contra o sono.

A História de Uma Garota (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora