𝟏𝟖

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Aquilo que não se vê, mas se sente.

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Aquela floresta era familiar, era como voltar ao início de tudo. Faziam semanas que Kalissa não tinha aquele sonho, e ela sabia muito bem que isso significava que algo iria acontecer.
   — Corra.
A voz também era familiar. Como uma reação automática, Kalissa correu ao ouvir aquela voz, tentando a todo custo achar a saída. Desta vez, algo estava diferente, a floresta parecia menos escura e densa, era mais fácil enxergar uma possível saída. "O que significa isso?"
Kalissa saiu da floresta e acabou em uma espécie de praia. Ao chegar lá, seus olhos se fixaram na enorme lua alta no céu que brilhava em um tom de vermelho vivo e assustador. Tudo estava escuro por esse motivo.
   — É linda, não acha?
Aron estava em uma distância considerável, observando a lua com fascínio e um brilho diabólico nos olhos, quando seu olhar recaiu sobre Kalissa, ele sorriu.
   — V-você...
   — Uma lua semelhante apareceu no dia do seu nascimento, não tão majestosa quanto essa, mas era incrivelmente bela. O anúncio do seu nascimento, um nascimento que sequer deveria ter acontecido. Para alguns, um milagre, para outros apenas a marca do grande pecado que recaiu nessa terra. Você e eu não somos diferentes, Kalissa.
   — Eu não sou igual a você!
   — Não igual, mas temos muito em comum. Ambos seremos mortos por representar ameaça para o equilíbrio e poder dos Anciões e Anjos nesta terra. Sabe como eles mantém tanto poder? Manipulação, minha cara Kalissa. Eles fazem mentes fracas acreditarem que se não seguir as leis deles, jamais poderão ser salvos, mas a verdade é que não podem. Ninguém pode. Este mundo é o castigo dos homens, e será palco de tudo que eu posso fazer. — mais uma vez, ele sorriu para Kalissa como se estivesse na presença de uma grande amiga — Se juntar a mim é a melhor opção, querida.
Ela sentia seu corpo todo tremer, o medo e o nervosismo estavam nublando seus pensamentos, dificultando até mesmo seu raciocínio. Algo dentro dela parecia inquieto, louco para sair, mas ela sabia que não poderia fazer tal coisa. "Se eu permitir, poderia acabar colocando fogo na minha própria casa."
   — Eu soube que conseguiu acessar seu dom. Aquela velha bruxa está lhe ajudando, huh? Que perca de tempo. Eu posso lhe ensinar muito mais, a limitação não é para criaturas fortes como nós dois.
   — Eu não me importo com o poder, apenas em evitar que você destrua tudo o que eu amo.
   — Ora criança... — ele gargalhou, parecia muito confiante e tranquilo — Se não for eu, serão eles. Acha mesmo que eles se importam? Tudo que importa é manter a ordem que eles acham correta, um mundo purificado, mas não há como fazer algo assim sem sacrificar todos que não servem tal propósito. Você é a única capaz de transitar entre tudo isso sem se afetar, você tem emoções humanas e sente coisas que eles não podem, tem poder, tem tudo o que é necessário para destruir o reinado deles. Não apenas a mim.
As palavras de Aron faziam sentido, não eram palavras vazias, eram verdades.
   — Então está me dizendo que matar você não basta.
   — Nunca foi suficiente, nunca será. Sempre haverá outro alguém disposto a ir contra a verdade e injustiça, e sempre haverá outra você para ser manipulada. Você foi encarregada de algo que não lhe diz respeito, está na linha de frente de uma guerra que não é sua, e na guerra pessoas morrem. Pessoas que amamos.
   — Está me ameaçando?
   — Estou alertando você, criança. Seus passos incertos vão levar a lugares onde terá que sofrer a dor do luto, quanto mais tentar ir contra eles, mais sofrerá. Junte-se a mim, Kalissa, e vamos acabar com tudo isso.
   — Você não quer apenas vingança, você mataria todos os outros que não tem culpa.
   — Pessoas egoístas que também merecem. Caçadores, Anjos Caídos que ainda servem os propósitos do céu achando que terão perdão, todos tolos rastejando na lama que eles criaram. Submissos e cegos.
Kalissa pensou em todos os que perderia; Hanna, Alexander, Harry, Kaizo, Valentin e Valerie, e talvez até seus amigos Christopher e Liam...
   — Não. Eu não preciso de você para fazer a escolha certa. — o poder dentro de seu corpo estava pronto para sair, ela sentia cada célula se adaptando e aceitando o abraço quente daquele poder ainda pouco conhecido e tão forte — Eu sou a Escolhida e vou fazer o que é certo. Não o certo deles, mas o meu.
Aron encarou Kalissa e seu sorriso desapareceu. Ele parecia surpreso olhando para ela, um pouco assustado ou chocado, mas se recompôs e sorriu novamente.
   — Então nos veremos em breve, Kalissa. Vamos acabar com isso.
E então ela acordou ao som da risada de Aron. Está chegando a hora, e isso foi um aviso.

A História de Uma Garota (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora