A História de Uma Garota (Livro 1)

𝟐𝟓

Destino e acordo selados.

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O convite para Jeremiah foi enviado por Alexander, e o encontro deles seria no Abrigo, sob supervisão de confiança do próprio Alexander. Adaely ficaria na casa por um tempo, e Valentin até sugeriu reformar uma cabana muito bonitinha para ela, e ela adorou a ideia. Ela chegou a sorrir para Valentin de um jeito que a deixava quase jovial.
Para a surpresa de absolutamente ninguém, Jeremiah respondeu rapidamente avisando de sua chegada, e Alexander levou Kalissa com a desculpa que deveriam treinar. Hanna parecia desconfiada, mas cedeu quando Alexander cochichou algo para ela que suavizou sua expressão de preocupação. Eles chegaram rápido, e poucos minutos depois Jeremiah também chegou com sua equipe de elite, os mantos escuros pairando atrás deles conforme andavam.
   — Estarei aqui fora, basta falar que eu entrarei. — foi a última instrução de Alexander antes do irmão se aproximar e remover o capuz de sua cabeça, parando diante dele. — Jeremiah.
   — Alexander. — o cumprimento era quase formal, exceto pelo tom de voz hostil de ambos. O olhar de Jeremiah se voltou para ela e ele sorriu de maneira contida. — Kalissa Blackheart, soube de suas perdas, sinto muitíssimo.
   — Me poupe de sua falsa compaixão, vamos ao que interessa.
Ela entrou na sala de Alexander e Jeremiah a seguiu, apenas eles dois ficaram naquele ambiente; Kalissa tomou um lugar em uma poltrona e Jeremiah a sua frente, cruzando as pernas de maneira elegante.
   — Confesso que esperava seu convite, sabia que voltaria atrás em sua decisão.
   — Você não me deu escolha, cretino.
Jeremiah sorriu.
   — Eu lhe dei, mas você a recusou, e eu disse que haveriam consequências.
Uma quase confissão.
   — Você sabe o que houve?
Ele não respondeu, mas o brilho malicioso em seu olhar era resposta suficiente.
   — Um homem apaixonado é um grande problema, e também uma grande ajuda. Dependendo de como usar, sempre há como conseguir o que queremos. Não concorda? É por isso que está aqui.
As palavras dele fizeram Kalissa querer saber mais, porque ele sabia de algo e por isso estava tão confiante.
   — Você sabe mesmo o que aconteceu então.
Um grande sorriso surgiu e ela percebeu que ele estava esperando exatamente isso, que ela perguntasse a ele.
   — O que eu sei, querida Kalissa, é que aquele homem cometeu um grande erro, e num momento de desespero acabou levando sua amada e a si mesmo para a morte. Sua tia fez bem em evitar que ele saísse daquela casa com vida, ou agora você estaria morta.
Então ele queria me matar...?
Lucian...Lucian estava mesmo diferente. O que aconteceu a ele?
   — Mas não viemos aqui por isso, certo? Você me disse que quer propor um acordo, então estou ouvindo. Diga seus termos.
Kalissa respirou fundo, voltando ao foco daquele encontro. A morte da tia não seria em vão, e ela iria se encarregar de fazer todos os responsáveis pagar por isso.

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O enterro de Christopher teve a presença de todos, até mesmo Lorenny estava presente, os óculos escuros impedindo de saberem para quem ela estava olhando, ou se apenas estava entediada revirando os olhos. Quando Kalissa chegou usando uma roupa emprestada de Hanna – o vestido branco de alças ia até um pouco abaixo dos joelhos, leve, e uma jaqueta preta de couro também de Hanna –, Lorenny se aproximou em passos largos.
   — Sinto muito pelo amigo de vocês. — ela falou parecendo quase sincera, mas ao se aproximar para sussurrar para Kalissa, um sorriso diabólico surgiu. — Parece que você é um grande mau agouro, Blacke. Primeiro seus pais e agora seu amigo...tsc tsc.
O tapa foi alto o suficiente para atrair a atenção de todos. Os óculos de Lorenny saiu de seu rosto e ela caiu, a expressão de puro choque enquanto levava a mão ao rosto que apanhara.
   — Nunca mais fale de nenhum dos meus, Lorenny Reese. Eu proíbo você de dizer algo, e também acho melhor você sair desse velório. Você não é bem vinda.
Ela estava furiosa, se levantou limpando o vestido e tentando se recompor, saindo do local sem dizer nenhuma palavra. Eu a odeio tanto...
   — Vamos dizer um último adeus a ele e ir embora — Hanna murmurou para a amiga, olhando na direção dos pais de Christopher —, parece que os pais de Chris não estão nada contentes de estarmos aqui e desse showzinho de Lorenny.
E ela estava certa. Mesmo que quisesse ficar, Kalissa assentiu e as duas se aproximaram do caixão. Cada uma jogou uma rosa branca, murmurando "descanse em paz e adeus, meu amigo". Assim que saíram, Kalissa permaneceu em silêncio o caminho todo até a casa de Kaizo. Ao chegarem, Liam estava na entrada com suas malas e um sorriso fraco para as duas, e ele abriu os braços para Kalissa que correu e chorou ao abraça-lo.
   — Você tem mesmo que ir agora?
   — Não se preocupe comigo, Lissa. Eu ficarei bem, e voltarei em breve pra gente fazer aquele rolê que comentei, e poderemos homenagear Chris também.
Uma despedida. Mais uma.
   — Fique vivo, Bennett.
Ele sorriu.
   — Fiquem vivas vocês também — ele olhou para Kalissa —, principalmente você, Blacke. Dê um jeito, mas é bom que esteja viva quando eu voltar, ou teremos problemas eu e você. Irei buscá-la onde estiver.
Eles três riram. Liam deu um último abraço nelas e foi para o carro enquanto elas observavam em silêncio. Hanna limpou o rosto rapidamente quando uma lágrima escorreu, antes que Liam pudesse notar e zombar dela. Ele acenou em despedida e elas acenaram de volta, e ficaram ali até o carro sumir de suas vistas.
   — Você quer ficar aqui ou em casa? — Hanna perguntou em voz baixa.
   — Prefiro ficar aqui. Kastian sempre consegue me fazer rir, e eu me sinto segura com todos. — ela estava sendo sincera, e Hanna assentiu. — Fica também. Podemos dividir um quarto, como nos velhos tempos.
Ela sorriu tristemente.
   — E fazer aquelas panquecas?
Kalissa assentiu sem conseguir responder, forçando um sorriso.
   — Ficarei por você, Lissa.
Ela murmurou um "obrigada" enquanto a amiga puxou para um abraço rápido. O clima era de chuva, então elas entraram e encontraram todos espalhados pela sala, concentrados nos papéis do dia anterior.
   — Kaizo, tudo bem se ficarmos? — Hanna perguntou ao gêmeo que levantou a cabeça olhando na direção das duas, sorrindo e assentindo. — E usarmos a cozinha?
   — Fiquem a vontade. Não se preocupem em pedir permissão, sintam-se em casa.
   — Obrigada.
Hanna levou Kalissa pelas escadas até o quarto, ela já havia trazido roupas dela e algumas eram para que a amiga tivesse o que usar já que tudo fora queimado. Eram um pouco maiores que ela, algumas mais largas, mas de um jeito confortável. Kalissa optava por calças e shorts, as únicas peças que ela conseguia usar sem que ficasse muito folgado, e era gratificante que fossem tão confortáveis.
   — São as únicas roupas menores que tenho, podemos ver roupas novas depois, o que acha?
   — Eu não tenho muito tempo — ela sorriu, mas Hanna congelou, ficando tensa —, não será necessário.
   — Pare de falar assim, por favor.
Foi tudo o que ela disse antes de deixar o quarto, batendo a porta atrás de si ao fechar. Kalissa suspirou, estava tão cansada, e sentia seu coração pesando de tristeza. Alguns minutos depois, Kaizo apareceu, colocando apenas a cabeça para dentro do quarto.
   — Quer conversar, minha dama?
   — Eu preciso de um abraço muito, muito longo e apertado.
Kaizo entrou sem perguntar mais nada, o olhar de Kalissa estava tão triste que ele sentia sua dor como a própria, e sabia muito bem que tudo aquilo estava sendo demais para ela assimilar.
   — Eu sempre estarei aqui para você, sempre.