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O medo do amanhã

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A chegada daqueles quatro jovens se tornou o principal assunto durante o almoço, ofuscando totalmente a euforia anterior sobre a festa de Lorenny e o baile de fim de ano. Eles até sabiam os nomes deles, graças a Lorenny que era a responsável por toda e cada fofoca que se propagava no colégio.
A garota estranha se chamava Valerie Withlock e seu gêmeo sociável era Valentin, já o garoto de cabelos acinzentados se chamava Harry Ashgray e pelo que se sabia ele tinha descendência asiática, algo que Kalissa pensou ao ver pequenas características em seu rosto belo. O garoto que havia pedido sua caneta emprestada era Kaizo Morgenstair, e ela estava certa em seu palpite sobre seu sotaque ser britânico.
Os quatro se sentaram sozinhos, conversando tranquilamente enquanto comiam o pouco que colocaram em suas bandejas. Lorenny era a única indo e vindo, tentando muito fazer amizade com eles e talvez arrastar eles para se juntar ao seu grupo. Infelizmente, para sua decepção eles não pareciam muito interessados, e ela pareceu realmente frustrada com isso.
   — Aposto que ela vai começar a falar mal deles agora. — Liam comentou, também acompanhando a tentativa frustrada da garota loira.
   — Exatamente. Não sei o que sentir em relação a eles, parecem reservados demais, mas não o tipo suspeito. — Christopher começou a sua análise racional enquanto comia devagar uma batatinha sem graça. — Digo, era de esperar que eles não estivesse afim de se enturmar demais justo no fim do semestre se poderiam ficar entre eles.
   — Tenta dizer isso pra nossa amiga Reese. — Hanna ainda parecia desconfortável, mas menos tensa.
Quando Christopher voltou, seguido de Liam e Hanna, eles apenas disseram que ela foi ao banheiro e demorou bastante para sair. Disse se sentir enjoada e pretendia não almoçar no colégio por precaução, mas não explicou mais nada. Provavelmente não tinha o que explicar, era apenas o que ela havia dito e Kalissa estava sendo paranóica ao pensar demais.
   — Tem certeza que não quer comer nada? — Kalissa perguntou baixinho para sua amiga, tentando não interromper o assunto dos garotos.
Hanna ofereceu um sorriso sem vontade para a garota que percebeu o quanto ela ainda parecia desconfortável e até pálida. Era uma atitude e reação incomum, Kalissa tinha certeza de nunca ter visto Hanna assim antes, mesmo doente.
Havia uma estranha energia pairando no ar com a chegada daqueles quatro, tudo parecia um pouco denso e ao mesmo tempo seguro, como estar em uma sala toda trancada; pessoas com claustrofobia se sentiriam inquietas, mas outros se sentiriam seguros. É um pensamento difícil de ser explicado, ainda mais quando se tratava de alguém totalmente estranho.
   — Lissa? — Christopher balançou a mão na frente do rosto de Kalissa tentando trazer sua atenção de volta. — Ouviu o que estávamos falando?
   — Ah, não. O que era?
   — Está tudo bem? Agora você também parece pensativa, como a Hannie. — Liam comentou enquanto Hanna fez uma careta para ele.
   — Meninos, vocês são tão inconvenientes algumas vezes. — Hanna reclamou e piscou para a amiga em cumplicidade. — Lissa e eu somos garotas com uma mente mais evoluída que a de vocês. Pensamos mais.
   — E agora somos xingados de burros?
   — Eu não disse burros, mas veja bem...vocês tem duas cabeças e geralmente pensam com aquela que não tem um cérebro.
Kalissa não conseguiu evitar uma risada. Hanna era especialista em desvalorizar a masculinidade e inteligência de Liam, uma discussão infinita que causava risos em qualquer um; duas crianças grandes brincando de brigar.
Por um momento, ela desviou o olhar para os quatro novatos, e para sua surpresa ela encontrou o olhar de um deles; Kaizo Morgenstair parecia distraído observando todos com um olhar de desgosto, mas se suavizou ao olhar para Kalissa. Ele parecia levemente intrigado com alguma coisa relacionado a ela, mas o contato visual foi quebrado quando o sinal soou avisando o fim do almoço. Todos se levantaram e começaram a caminhar para fora do refeitório em direção as suas salas. Não era nada demais, pelo menos não deveria ser, mas o olhar de Kaizo Morgenstair causou uma leve inquietação que Kalissa não soube definir o porquê. É apenas uma olhada, não é nada, ela tentou dizer para si mesma enquanto seguia seus amigos para sala.
Ela sempre ouviu que encarar as pessoas era falta de educação, e até um pouco obsessivo, mas não era esse o sentimento que descrevia o que ela sentia. Um arrepio que oscilava entre o medo e a curiosidade, aquele desejo obscuro de viver algo emocionante e perigoso que todas as pessoas tem em seu mais profundo ser...a hesitação, autopreservação, alertas de seu sexto sentido dizendo que não deixasse a adrenalina falar mais alto. Eu estou louca e isso é perca de tempo.
Mas Kalissa desejou encontrar aqueles olhos escuros mais uma vez durante o restante do dia.

A História de Uma Garota (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora