𝟐𝟑

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Lágrimas e luto.

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Alguns dias depois...

A formatura era uma data que todos aguardavam, e quando o dia finalmente chegou foi motivo de comemoração, durante aqueles dias tranquilos tudo parecia quase normal, quase.
   — Tente não colocar fogo em sua festa, menina.
O alerta de Adaely era sério, mas havia um sorriso de divertimento que era um lembrete do quanto ela estava orgulhosa de sua evolução. Manter sua mente apenas patra comunicação também era uma forma muito boa de proteção, até mesmo do grande enxerido que Kastian Morgenstair era. Era estranho, mas os dois haviam se aproximado e Kastian sempre estava brincando com os limites entre amizade e flerte, algo que ela nunca levava a sério, mas Kaizo sim. Hanna por outro lado havia se aproximado ainda mais do irmão mais sério, já que eles sempre pareciam pensar de forma semelhante. O que deixava a desejar era a mudança de atitude em relação a Liam, principalmente depois que ele contou a ela o que havia acontecido e descoberto, e Hanna estava parecendo realmente triste por pensar em sua partida.
E Harry parecia enciumado.
Ignorando tantas coisas não ditas, a sala da casa de Clarice havia se tornado um salão de beleza particular. Clarice e Julie faziam todo o trabalho de pentear e maquiar Hanna e Kalissa. As mãos hábeis das duas trabalhavam enquanto elas comentavam coisas banais como momentos em que elas tiveram durante suas festas de formatura. Um momento de lembranças e risos.
   — Prontas!
As duas levantaram para se olhar no espelho e Kalissa ficou extremamente feliz ao ver seu reflexo; ela estava deslumbrante! Os cabelos estavam cacheados e presos em um penteado que deixava alguns fios soltos para emoldurar seu rosto que estava com a aparência mais saudável. Os lábios pintados de vermelho e os olhos com uma sombra realçando o verde de seus olhos, com aquela linha fina e repuxada dando um olhar mais marcante. Hanna estava usando uma maquiagem semelhante, em tons de marrom e dourado que eram cores perfeitas para seu olhos, os lábios com um batom mais discreto e realçando o quanto era linda, com seu cabelo com ondas suaves e solto em suas costas, com uma trança simples prendendo parte do cabelo longe de seu rosto.
   — Estão tão lindas! — Clarice estava emocionada, e Julie riu enquanto abraçava a amiga.
   — Vamos colocar os vestidos, e então tirar uma foto bem bonita. — Hanna sugeriu e Kalissa assentiu, seguindo a amiga para o quarto as pressas.
O vestido de Kalissa e Hanna havia sido escolhido por Valentin, e agradou assim que viram; o modelo de Kalissa era longo com uma fenda discreta que ia até metade de sua coxa direita, a saia era em duas camadas dando uma leveza ao vestido enquanto o busto era justo com um decote discreto em v e duas alças prateadas que ficavam caídas nos ombros. A cor? O vermelho vinho mais lindo que Kalissa já viu.
Já o vestido de Hanna era um modelo que lembrava muito os vestidos das antigas camponesas; havia um corset preto em contraste ao marrom e dourado, mas ele era estratégico já que Hanna não deixaria de levar suas adagas para o caso de surpresas. A própria Kalissa tinha uma adaga em sua coxa, presa e bem guardada para evitar que ela também se machucasse. Quando as duas ficaram prontas, desceram, e encontraram mais uma pessoa na sala.
   — Luke, quanto tempo!
Kalissa abraçou o homem que sorria, Hanna apenas o cumprimentou com um aceno de longe. Ele parecia cansado, a barba rala por fazer, as roupas diferentes das impecáveis roupas sociais brancas.
   — Estive fazendo coisas, mas vim ver como estavam. Soube que está indo tudo muito bem, fico feliz por isso.
   — Tia Clarice sentiu falta, não é tia?
A mulher olhou para ela em reprovação, mas Julie riu.
   — Luke, tire uma foto nossa, sim? Por favor. — Clarice desconversou e ele assentiu, sorrindo.
A foto foi tirada com o celular de Kalissa, depois com o celular de Hanna e por último o de Julie; em cada foto, uma pose. Na última, no celular da própria Clarice, Kalissa puxou Lucian e colocou o celular com timer para fazer a foto com todos eles.
   — Pronto, agora eu vou levar as meninas e depois comprar algumas coisas, volto já.
Elas se despediram de Clarice e Lucian, agradecendo a carona até o colégio. Durante o caminho, Hanna sentiu uma sensação de aperto, como se estivesse pressentindo que algo ruim aconteceria, mas ignorou e continuou acompanhando a música que Julie colocara para animar o caminho.
Mais uma vez, Hanna sentiu aquela sensação de aviso, dessa vez o nome Clarice ecoou em sua mente.
   — Julie, tente não demorar muito para voltar para casa, não podemos nos descuidar nem uma vez.
Julie olhou para Hanna pelo retrovisor e assentiu, ficando séria de repente.
   — Não se preocupe, querida. Aconteceu algo?
   — Não, eu só tive a sensação de que algo aconteceria com a tia Clarie.
   — Eu reforcei os escudos antes de sairmos, nenhuma ameaça vai entrar e sair vivo. Clarice também sabe se defender, e até chegarmos ficará muito bem. Fiquem tranquilas e aproveitem a noite de vocês.
Hanna respirou fundo e Kalissa segurou sua mão, um gesto de conforto, então ela sorriu um pouco mais tranquila. Sim, tudo ficará bem.
   — Chegamos.
A entrada do colégio estava iluminada e decorada, era uma verdadeira festa de gala, e aos poucos os alunos chegavam e entravam. Elas se despediram de Julie e caminharam juntas para a entrada onde posaram para uma foto que iria para o álbum escolar que elas receberiam.
   — Mais uma!
Liam se apoiou nos ombros das duas, aparecendo de repente com Christopher. Mais duas fotos foram tiradas antes que eles entrassem, dando espaço para o restante dos alunos que chegava.
   — Olha como estão chiques, penteados e cheirosos. — Kalissa brincou, olhando para os dois amigos que se exibiram, mostrando suas roupas elegantes e sociais.
   — Cinza para combinar com a bela Hannie, certo Hannie? — Liam comentou em tom de brincadeira e ela lhe desferiu um tapa no ombro. — Ai. Que agressividade, mulher!
Christopher e Kalissa riram. Era exatamente como nos velhos tempos, e ela se sentiu ainda mais feliz. O último dia com eles assim...
A atenção de Kalissa foi roubada pelo garoto alto que havia entrado, o cabelo inconfundível estava um pouco bagunçado de um jeito charmoso, as roupas sociais escuras com detalhes em vermelho chamaram sua atenção, talvez uma coincidência, mas que combinavam de um jeito estupidamente absurdo com ele. Kaizo estava de tirar o fôlego.
Ele sentiu sua presença e olhou para ela, sorrindo daquele jeito que a deixou sem graça, o mesmo sorriso da primeira vez que seus olhos se encontraram. Por um momento, tudo ao redor parecia ter sumido, havia apenas eles dois ali, e Kalissa deu um passo em direção a ele, depois outro e outro...
   — Lissa? — Christopher a interrompeu, segurando seu braço gentilmente. O olhar dele era de confusão, nenhum deles notou que Kaizo estava ali. — Para onde vai? A festa está ali.
Ela olhou para ele e depois para onde Kaizo estava, mas ele havia sumido. Talvez...talvez ele não queira falar comigo hoje.
   — Não era nada. Vamos.
Então ela segurou o braço de Christopher e os quatro caminharam rumo ao ginásio, onde a festa realmente estava acontecendo. A noite estava perfeita, estrelada e o céu limpo com uma brisa suave que era muito agradável. De longe, Kalissa reconheceu a música Electric Love, e sorriu ao olhar para Hanna em cumplicidade.
   — A nossa música favorita. — Hanna comentou em voz alta, também sorrindo. — Desculpa meninos, mas essa é minha e da Lissa.
Hanna roubou Kalissa de Christopher e as duas correram para a pista de dança aos risos, deixando os dois rapazes para trás. Elas dançaram juntas a música que definiram como sua favorita quando se conheceram, no começo de sua amizade.
Kalissa se lembra de quando a garota linda se aproximou dela estendendo a mão e dizendo "eu me chamo Hanna Gray, muito prazer", e do quanto gostou dela naquele momento, sentindo uma conexão incrível e instantânea, como um...laço.
   — Hanna, você pode fazer o laço de Irmandade entre nós?
A pergunta fez Hanna parar e olhar surpresa para ela. Foi repentino e talvez não fosse a melhor ideia do mundo, mas ela queria tanto poder deixar uma parte de si para aquela amiga que era como uma irmã durante tanto tempo... Talvez seja egoísta.
   — Lissa, seria uma honra pra mim ter um laço de Irmandade com você. Eu já sinto e considero você como uma irmã, minha família, e marcar isso seria... — ela engasgou, emocionada, se embolando nas palavras. — Eu posso. É simples, quer fazer isso agora?
   — Sim, nós podemos? Não precisa de cerimônia e coisas assim?
Hanna riu.
   — Não é como o laço de Parceria, então nós só precisamos ir pra algum lugar que nos deixe a sós.
   — A sala antiga da detenção!
A amiga assentiu e as duas saíram de fininho por entre os casais dançando. Harry e Kaizo notaram e seguiram discretamente as duas, sem entender para onde iam. Ao chegarem a sala de detenção, Hanna usou uma de suas adagas finas para abrir o cadeado e entrarem, a sala estava um pouco empoeirada, mas iria servir.
   — O que faço?
   — Precisamos desenhar um círculo primeiro, entrar nele e depois fazemos a marca uma na outra.
   — Com o que?
   — Ache um giz branco.
As duas procuraram nos armários e Kalissa encontrou um pedaço jogado perto do lixo, entregando a Hanna que começou a desenhar vários símbolos que ela desconhecia, por último o círculo que elas ficaram.
   — Você fura seu dedo esquerdo assim... — ela usou a adaga fina para espetar a ponta do dedo indicador, mostrando o passo a passo para Kalissa — e desenha a marca no pulso esquerdo, dizendo "eu aceito este laço, serei sangue do seu sangue além da morte, e ninguém poderá quebrar essa promessa. Eu juro estar com você sempre."
Hanna fez exatamente o que dizia, e Kalissa viu o círculo brilhar de maneira fraca, o giz branco ficando vermelho.
   — Não se preocupe, é assim mesmo. Agora, é sua vez.
Kalissa fez exatamente como Hanna, e quando terminou, sentiu algo repuxando em seu peito, exatamente onde ficava o coração. A dor não era ruim, mas incomodava, e ela fechou os olhos numa tentativa falha de amenizar.
Aos poucos, aquilo cessou, e tudo estava normal. O giz branco desenhado havia sumido, como se nunca tivesse sido desenhado nada ali, e ela olhou para Hanna um pouco confusa.
   — Está...feito?
A amiga sorriu, contendo as lágrimas ao mostrar seu pulso. A marca estava ali, como uma tatuagem.
   — Sim. Você sente?
Ela encarou seu próprio pulso; a mesma marca estava ali, ela acariciou com delicadeza e sorriu. A sensação era que ela parecia mais forte, a energia de Hanna agora tinha até mesmo um novo aroma, o seu aroma, de rosas vermelhas se mistura do com o de sua amiga. Ela se sentia forte.
   — É...estranho. Diferente, mas bom.
   — Eu sinto seu poder, não posso usar, mas sinto. E também consigo sentir uma ponte de comunicação.
Ela piscou, surpresa.
   — Nós podemos nos comunicar? — Hanna assentiu. — Isso é incrível!
Elas se abraçaram, e Kalissa sentiu a presença de mais alguém ali.
   — Vocês não deveriam ficar ouvindo conversa de garotas.
Kaizo e Harry saíram das sombras, cada um sorrindo.
   — Meus parabéns pelo lindo laço.
Kalissa revirou os olhos e Kaizo riu. Hanna olhou para Harry, vendo ele pela primeira vez na noite, e parecia um pouco...admirada. O Caído estava belíssimo usando branco e cinza num tom escuro, uma linda rosa branca estava em sua mão e ele se aproximou para estender a Hanna, os dois esquecendo totalmente que havia mais gente na sala.
   — Você está belíssima, senhorita Hanna.
"Acho que deveríamos deixar eles a sós por um momento", Kalissa falou para Kaizo e ele assentiu.
   — Estaremos no ginásio.
Ninguém respondeu. Feche a boca, boboca.
Kaizo acompanhou Kalissa para fora da sala e deixou os dois a sós, e assim que estavam longe o bastante começaram a rir.
   — Acho que finalmente ele vai dizer o que sente. — Kalissa comentou.
   — Não sei se ele fará isso, ele respeita muito os sentimentos da Hanna com o Liam.
   — Como é? Liam e Hanna são amigos, ela sempre o viu assim.
   — Mas ele não, certo? — Kalissa não respondeu, mas não precisava, e Kaizo apenas sorriu de um jeito melancólico. — Eu entendo ele e não o julgo. Existem limites que não podemos atravessar.
Ela parou e segurou o braço de Kaizo o fazendo parar também. Era a segunda vez que ele falava daquela forma, lamentando de um jeito enigmático.
   — De quem você esconde sentimentos, Kaizo?
Diferente da última vez, ele não se afastou. Kalissa não percebeu que eles estavam tão próximos até que ela precisou olhar para cima, para seu rosto.
   — Um dia eu cometi um erro e cai, achei que era amor, era tolo e perdi muita coisa com isso. Meu irmão me odiou, eu me odiei, e por anos sofri por alguém que eu nunca amei de verdade como amo agora. Este sentimento, esse laço é real, e tão forte que eu quase posso tocar. Fico sempre esperando seu olhar, seu sorriso, o som de sua voz...e como eu amo ouvi-la, principalmente ao dizer meu nome.
Kaizo acariciou o rosto de Kalissa e ela permitiu, se entregando aquele toque tão gentil e delicado, fechando os olhos por um momento para apreciar. Ao abrir os olhos novamente, o olhar de Kaizo tinha um brilho de esperança, então ele prosseguiu:
   — Eu tenho medo de, mais uma vez, ter que ver alguém importante sumir da minha vida. Antes de conhecê-la, eu prometi que iria protegê-la, mas agora que a conheço eu jurei que iria fazer isso. Não quero vê-la morrer porque isso seria como minha própria morte.
A sensação de calor tomou conta de seu corpo aos poucos, um puxão suave exatamente como ela sentira a poucos minutos com o laço que havia feito com Hanna.
   — Sei que estou sendo punido, e não me importo, mas não vou permitir que machuquem a mulher que eu amo, mesmo que tenha que lutar contra todo o céu para isso. Eu cairia mais uma vez por você, Kalissa Blackheart, porque você é minha Destinatus, minha alma gêmea. A mulher para quem eu daria minha própria vida, e pra quem eu seria qualquer coisa.
Kalissa respirou fundo sentindo algo diferente, ela percebeu naquele momento que Kaizo sempre soube o que eram, o que ela era para ele, e que naquele dia ele mentiu. As palavras de Valentin ecoaram em sua mente e ela entendeu que ele estava falando disso, porque todos eles já sabiam...
E mesmo assim ele aceitou tudo que deveria fazer...
Esteve todo esse tempo me procurando, se contendo, me respeitando...
Ele sempre esteve ali.
Ele mentiu.
   — Por que mentiu para mim? — um passo para trás. — Por que não me contou todas essas coisas quando descobriu o que eu era? — outro passo. — Você deveria ter me dito o que este laço realmente é. Eu confiei em você.
Mas o laço já está firmado. Eu o sinto.
   — Você sequer acreditava no nosso mundo, como iria aceitar isso? Kalissa, eu sou a pessoa que deveria matar você. Sabe o quanto eu fiquei em choque quando você viu minhas asas e a tocou? Isso nunca deveria acontecer...não assim.
Ela se lembrava exatamente daquele dia, do que sentiu...ela não iria aceitar. Jamais.
   — E eu pretendia te contar hoje, mas ao ver você com Christopher...achei que seu coração já havia escolhido, e não era eu. Eu respeitaria isso, e evitaria contar, pela sua felicidade.
Por isso ele havia sumido aquele momento.
   — Eu estava indo até você quando o vi chegar... — ela confessou, a voz baixa, mas audível o suficiente para que Kaizo caminhasse até ela novamente. Um passo.
   — Isso quer dizer...?
   — Independente desse laço, do que é a sua missão e do que eu tenha que fazer, meu coração escolheu no momento em que nossos olhos se cruzaram.
Outro passo, e mais outro... Kalissa não sabe dizer o momento exato, mas Kaizo já havia segurado sua cintura com firmeza, puxando seu corpo contra o dele, reivindicando seus lábios com uma necessidade que ela mesma também sentia.
O beijo era cheio de gentileza, os lábios de Kaizo eram macios e mesmo com o desejo que sentiam, era contido e sedutor, provocativo, sensual. A melhor palavra pra descrever seria: perdição. Eu cairia novamente por você, ele disse, mas a verdade é que Kalissa foi quem caiu por ele. Em seus braços tudo parecia certo. Seguro.
Quando o ar faltou, Kaizo terminou aquele beijo mordendo o lábio inferior de Kalissa que não conteve um gemido baixo. Ele sorriu satisfeito.
   — Você não é nada gentil com minhas emoções.
   — Eu não sou um anjo caído por ser bonzinho. Ser bom não anula que eu caí.
   — Então é um pecador.
   — Por você, eu sou.
"Qualquer coisa por você, minha bela dama."
Kalissa lembrou que firmar um laço criava uma ponte, tornando a comunicação mais fácil independentemente de estar bloqueando sua mente ou não. Ela sorriu.
"Diga de novo, a última parte."
Ele sorriu de um jeito malicioso e roçou o rosto até estar com a boca próxima a sua orelha e sussurrou:
   — Minha bela dama.
Ela estava sorrindo quando sentiu uma dor forte que a fez ficar zonza. Kaizo a segurou e olhou para ela com os olhos cheios de preocupação.
   — O que houve?
"Sua tia...", o fogo em suas veias sussurrava.
"Corra, criança."
"Salve sua família."
"Corra."
   — Kaizo, me leve para casa, agora.
A urgência na voz de Kalissa foi o suficiente para que ele não perguntasse mais uma vez. Ela sabia que ele estava chamando Harry e os outros, passando ordens por telepatia onde quer que estivessem, e levou Kalissa as pressas para seu carro.
Ela estava desnorteada, ouvindo e ouvindo, mas teve a sensação de ter visto Liam e Christopher...o olhar de Christopher... Ele viu. Ela sabia que ele tinha visto o beijo, mas não era o momento para se explicar.
"Liam, eu preciso ir pra casa. Algo aconteceu com minha tia."
O amigo assentiu e falou com Christopher, mas o outro não quis ouvir e voltou para o ginásio. Liam não foi atrás dele, correndo para o seu carro e seguindo o de Kaizo.
"Salve sua família!"
"Corra, criança!"
"Há dor... decepção"
   — O que está acontecendo? Está ouvindo algo? — Kaizo perguntou, preocupado ao ver Kalissa parecendo pálida demais e totalmente focada em um ponto específico.
   — O fogo sussurra pra mim, ele diz que eu devo correr e salvar minha família...que há dor e decepção. Eu sinto.
Ela engasgou, as lágrimas misturado ao desespero de chegar o mais rápido possível, de saber o que estava acontecendo. Ela já havia perdido seus pais, não podia perder sua tia também, eu não posso. Minha tia não.
Mas ao chegar em frente a sua casa ela não acreditou no que seus olhos viram. Fogo.
Julie estava no meio da estrada, de joelhos, gritando enquanto chorava em desespero. Kalissa saiu do carro e tentou correr em direção ao fogo, mas Kaizo a conteve e ela gritou:
   — Não! Me solta, eu preciso salvar ela!
Aquele fogo não era comum. "É tarde, criança. É tarde..."
Não. Não, não, não, não!
Ela não percebeu que estava gritando aquilo em voz alta, caindo de joelhos e lamentando sem poder fazer nada enquanto o fogo engolia sua casa com sua tia dentro.
Era tarde demais.

A História de Uma Garota (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora