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O seguro é o melhor.

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A coisa mais assustadora para Kalissa foi quando começou a se lembrar do sonho recorrente que tinha, acordando todas as noites morrendo de medo, pelo menos até agora...
Ela ainda sentia seu corpo um pouco dormente, se lembrando exatamente da sensação terrível de perder o controle de seus atos e... O que eu fiz? E de novo!
   — Ei.
Christopher segurava a mão dela enquanto olhava de um jeito preocupado, sem ter questionado um minuto sequer sobre o acontecido. Ele nem mesmo deixou que Harry ou qualquer outro ficasse com ele ali, e naquele momento era a melhor ideia. Ela não queria nem ver e muito menos falar com alguém, explicar ou se justificar.
   — Você se sente melhor, Lissa? Quer água ou alguma coisa? Eu posso buscar, é só pedir.
Kalissa sorriu e suspirou cansada.
   — Eu queria ir para casa.
   — Eu vou falar com a Hanna e...
   — Não, Chris — Kalissa o interrompeu, — não a casa da Hanna, a minha casa.
   — Se é o que você quer, eu posso te levar. Ficarei com você, assim não vai estar sozinha e ninguém vai te incomodar, eu prometo.
   — Eu confio na sua palavra, e agradeço, mas se puder dizer para Hanna ir também...
   — Não diga mais nada, sei exatamente o que precisa. Eu vou falar com ela e já volto, certo? Não vou demorar.
Christopher saiu rapidamente e Kalissa fechou os olhos por um breve momento para descansar enquanto o esperava. O cheiro de hospital foi trocado por um cheiro forte de fumaça e ela abriu os olhos.
Onde estou?
   — Finalmente nos conhecemos, Kalissa Blackheart.
O dono da voz usava uma longa capa e capuz, cobrindo até a metade de seu rosto e impedindo que Kalissa pudesse vê-lo com clareza. Ela sabia exatamente quem ele era, aquela voz era muito familiar e esteve em seus pesadelos por muitos anos.
   — Você... Você é a voz dos meus pesadelos. Era você que me perseguia.
A sua risada ecoou e ela sentiu um arrepio por todo seu corpo, o coração acelerando aos poucos pelo medo.
   — É bom vê-la de verdade, Kalissa Blackheart. A procurei por tantos anos, devo agradecer a Kaizo ou a Harry por descobrirem você?
   — Como é?!
   — Graças a descoberta deles eu pude encontrar sua localização, querida. Agora você está vulnerável, e em breve deixará de existir.
   — Quem é você?!
   — Eu sou aquele que vai acabar de vez com aqueles malditos Celestiais, eles tiraram tudo de mim diante dos meus olhos e me puniram por algo que não fiz, ainda ousando mandar uma garotinha insignificante para me destruir. Eu sou Aron, o primeiro Caído.
Aquele lugar parecia quente demais, ou era o medo que estava fazendo a pulsação de Kalissa acelerar e seu corpo trabalhar mais para bombear o sangue. Ela deu um passo para trás e Aron deu dois para frente, removendo o capuz de sua cabeça e enfim mostrando sua verdadeira face. Era assustador. Aron já havia sido muito bonito, mas sua pele estava esbranquiçada e os ossos de seu rosto eram marcados, os olhos estavam completamente escuros como a noite, e também haviam uma espécie de cicatrizes escurecidas por todo seu rosto.
   — Você tem duas opções, Kalissa Blackheart, você pode escolher a mim e deixar toda essa idiotice dos anjos de lado.
   — Ou...? Qual a outra opção?
   — Assim como eu, você vai perder tudo aquilo que ama, um a um. Eu já levei seus pais, não será um grande esforço levar sua tia e seus amigos.
Meus...meus pais...
   — Você matou meus pais. Maldito!
O sorriso de Aron se dissipou no exato momento que viu fogo em sua direção, e quando estava prestes a ser atingido ele sumiu como se nunca estivesse ali.
   — Eu vou matar você, Aron! Pelos meus pais!
Kalissa ouviu seu nome ser chamado várias vezes, mas estava tão longe que não sabia o que fazer nem como responder. Lágrimas escorriam por seu rosto, a dor de saber que seus pais haviam morrido de um jeito tão cruel por algo que não era culpa deles... Aquilo era injusto. Tudo aquilo era injusto.
E Aron ia pagar caro por isso.
   — Lissa, acorda!
Ela abriu os olhos e viu que novamente estava na enfermaria, mas não era Christopher que estava com ela. Kaizo tinha o olhar preocupado e quando viu que ela estava acordada, sorriu aliviado.
   — Você está segura agora, eu prometo.
Por impulso, Kalissa o abraçou forte e chorou. Sem perguntar nada, Kaizo apenas a consolou, afagando seu cabelo e suas costas num toque suave que aos poucos a deixava mais tranquila.
   — Eu quero ir pra casa, por favor.
   — Eu vou levar você, não se preocupe.

A História de Uma Garota (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora