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Olhos do anoitecer.

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O despertador não era mais tão necessário, pois quando ele finalmente tocava Kalissa já estava acordada.
Ao olhar se olhar no espelho, sentiu vergonha de si mesma. Ela não era uma garota feia, não chegava nem perto disso, mas sua palidez e as manchas abaixo dos olhos eram vergonhosas, deixavam sua aparecia fantasmagórica e desinteressante. Nem toda a skincare do mundo parecia tirar aquilo, a única forma de esconder era usando um pouco de maquiagem.
Seu cabelo tinha um comprimento que passava do meio de suas costas, escuro e completamente indeciso entre liso ou enrolado, até mesmo o corte era um pouco irregular com pontas maiores que as outras. Hanna chamava isso de corte em camadas, mas ela tinha uma opinião diferente.
Depois de se vestir e pegar suas coisas, Kalissa desceu as escadas e foi até a cozinha, onde sua tia já estava de pé preparando o café.
   — Bom dia, querida — sua tia a cumprimentou com o sorriso de sempre. — Fiz panquecas do jeito que gosta, com fome?
   — Negar algo assim seria um crime, sabe que adoro suas panquecas.
A mulher riu, servindo Kalissa com algumas panquecas quentes que havia acabado de preparar.
   — Você não dormiu bem de novo?
Era difícil esconder de sua tia, ela parecia sempre saber quando algo estava errado. Kalissa suspirou e assentiu, então Clarice puxou uma cadeira para se sentar ao lado da garota.
   — Olhe para mim — sua ordem tinha um tom firme que fez Kalissa estremecer levemente. — Me conte, o que houve dessa vez? Algo novo?
   — É a mesma coisa de sempre. Eu estou sendo perseguida, então fico correndo pela floresta e nunca chego a lugar algum.
Clarice assentiu, pensativa, então respirou fundo e olhou novamente para Kalissa.
   — Eu preciso pedir um grande favor a você. Terei que fazer uma viagem, a sua madrinha Julie precisa de uma ajudinha, e então ela virá morar conosco-
   — Tia Julie vem pra cá?! — Kalissa interrompeu sua tia que fez uma careta de repreensão. — Oh, desculpe, continue.
   — Como eu dizia...vou precisar viajar. Julie ficará com você enquanto eu estiver fora, e se quiser poderá trazer Hanna pra cá.
   — Quanto tempo vai ficar fora? Você nunca viaja, tia.
Aquilo era uma situação inusitada para Kalissa que, desde que consegue se lembrar, nenhuma vez sua tia a deixou sozinha. Ela também não saia para trabalhar, fazia seus compromissos tudo de casa, mais especificamente do escritório que era um local proibido para Kalissa.
O que já havia despertado sua curiosidade infinitas vezes.
   — Talvez um mês, ou mais... — Clarice estava nervosa, isso era muito claro em sua expressão, mas desta vez não parecia que ela tinha escolha senão ir. — Eu voltarei logo, prometo.
   — Eu já sou bem grandinha, posso me cuidar direitinho. Estarei esperando por você, ficarei bem.
Ela forçou um sorriso e parecia repetir para si mesma "vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem." Mas algo não parecia certo.
Deve ser bobagem, ela pensou. Associou isso ao fato de nunca ter ficado sozinha, então ignorou aquela sensação estranha e tomou seu café rapidamente, antes que seus amigos aparecessem para buscá-la.

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Não existia nenhuma regra clara sobre que tipo de vestimenta deveria ser usado no colégio, mas havia uma prioridade: roupas quentes.
Forks é um nome bastante conhecido por fãs da saga Crepúsculo, lugar onde muitos procuravam justamente para explorar e fotografar os locais onde as cenas foram gravadas. Olhando por este ângulo, a tia de Kalissa não escolheu tão bem já que queria viver num lugar tranquilo, talvez ela apenas não soubesse bem já que não é nem um pouco fã de livros de fantasia e romance, mas quem era ela pra julgar? Era um ótimo lugar para viver, duas mulheres sozinhas e sem qualquer familiar com quem contar...eram apenas elas, uma pela outra.
O último ano era sempre um caos. Haviam as provas finais, escolhas de universidades e quais cursos cada um gostaria de fazer, as mudanças e o baile de formatura. Um dos assuntos mais falados desde o começo do ano e ainda mais agora que faltava tão pouco...
    — E eu ainda não tenho um par. — Kalissa comentou alheia ao assunto que seus amigos estavam discutindo.
   — O que disse? — Christopher foi quem perguntou.
Kalissa piscou algumas vezes antes de perceber que havia pensado em voz alta, atraindo a atenção dos amigos para si.
   — Eu estava pensando em voz alta. Desculpa, atrapalhei vocês?
   — Não, não! — Liam estava sorrindo, como sempre, e muito empolgado. — Estava falando do baile, certo?
   — É.
   — Achei que não queria ir. — Hanna, sua melhor amiga, comentou enquanto a olhava com uma sobrancelha levemente erguida em desconfiança.
   — E eu não quero. Eu só estava pensando que se eu resolvesse ir, não teria um par.
   — E eu?
Christopher parecia indignado com o comentário que Kalissa havia feito, mas ela não respondeu. A verdade é que muitas coisas aconteceram neste último ano e ela ainda não conseguia digerir tudo. Como ela poderia aceitar que seu amigo estava apaixonado por ela e havia se declarado, mas ela não o aceitou? Ou que sua melhor amiga já sabia disso e nunca contou?
Pensando bem..., ela analisou a situação e percebeu que ela também fez isso quando escondeu que Liam gostava dela. Este está pago.
   — Veja bem, — Hanna estava explicando algo para Christopher que Kalissa não prestou atenção. — não é como se você estivesse levando um fora. Você apenas não teve resposta nenhuma.
   — Achei que ser bonito ajudaria... — ele resmungou baixinho e Liam gargalhou alto.
   — Ilusão, meu caro amigo, olhe para mim! Eu sou maravilhoso e a nossa deusa Hannie sequer me deu bola.
   — Já falei que não gosto de garotos narcisistas, Lili.
Liam fez uma careta ao ouvir o apelido horroroso que Hanna insistia em chamar cada vez que ele chamava ela de Hannie. Era sempre uma diversão quando eles começavam a discutir um com o outro como duas crianças encrenqueiras.
A verdade é que Hanna não se interessava por cara nenhum. Por mais bonito e atraente que fosse, ela simplesmente não se deixava agradar. Ela era linda, seu rosto e todos os detalhes pareciam ter sido escolhidos a dedo e desenhados em seu rosto com toda a delicadeza...mesmo assim, sempre evitou qualquer relacionamento desde sempre.
   — Eu acredito na teoria de que você está tentando virar sacerdotisa. — Christopher brincou e ela apenas lhe lançou um olhar sério.
Seus dois amigos eram garotos extrovertidos e totalmente diferentes dos outros garotos que haviam na escola; as aparências deles os confundiam com os populares e esnobes, mas a verdade é que eles eram totalmente diferentes dos exibidos que circulavam pelos corredores com garotas bonitas e falsas...
Falsas como Lorenny Reese.
   — Vejam só se não são os melhores alunos do colégio... — falando no diabo.
   — Bom dia, Lorenny. — Liam cumprimentou com um sorriso forçado de gentileza. — Quer alguma coisa ou veio apenas de passagem?
   — Na verdade eu vim entregar esses folhetos pra vocês, convidando pessoalmente para a festa que vou fazer no fim de semana, talvez uma das últimas antes do sufoco que vai ser com as provas finais.
   — Você nos convidando pra uma festa na sua casa? Jura? — Hanna pegou o folheto tentando evitar uma careta.
   — Claro, querida! Quero todos lá, são todos bem vindos.
Ela passou um folheto para Kalissa que olhou brevemente.
   — Festa temática? Não é um pouco brega? — Kalissa comentou enquanto encarava o papel com o tema Sobrenatural em meio a uma falha tentativa de decoração de terror.
   — Brega não, é que eu queria algo para quebrar o gelo entre todo mundo — ela explicou, não ofendida com o comentário de Kalissa. — E vai ser bom para os novatos, eles estão chegando quando todos já tem seus próprios grupinhos, então fica um clima meio chato, não acham?
   — Novatos? Que novatos? — Christopher perguntou primeiro.
   — Vocês não souberam? Minha nossa! — ela se sentou sem pedir permissão e se aproximou como se estivesse prestes a revelar um grande segredo. — Estão todos comentando sobre a compra da famosa casa dos Cullen, aquela dos filmes, vocês sabem.
   — Quando foi isso? — Kalissa perguntou um pouco chocada por realmente não saber de algo assim antes.
   — Ontem. Eu soube que alguém comprou a casa e até o terreno inteiro se tornou propriedade desse homem misterioso que fechou o negócio e sumiu, mas quem realmente veio morar na casa são quatro jovens, três garotos e uma garota, eles se chamam de irmãos e vivem todos juntos, mas apenas um garoto e a garota são irmãos de verdade e gêmeos.
   — E vão estudar aqui? Em pleno fim de semestre? — Hanna parecia realmente interessada, como uma jornalista buscando informações importantes.
   — É, mas não sei bem sobre isso, tudo o que sei é que são obviamente ricos o bastante para desfilar por aí em carros de luxo e viver naquela casa caríssima.
Kalissa conhecia aquela parte da floresta, todos conheciam, e sabiam que aquele imóvel valia uma fortuna, então de fato alguém comprar até o terreno inteiro daquela casa deve ser muito rico. Mas quem era?
   — Bom, isso é tudo que eu sei. — Lorenny levanta de repente e ajeita sua saia um tanto inadequada para o clima, sorrindo para eles como um anjo. — Vejo vocês no fim de semana. Não faltem!
Os quatro trocaram olhares antes de rir.
   — Lorenny enlouqueceu mesmo, até nos convidou para uma festa dela. Quem diria. — Liam foi quem fez o comentário. — E aí, vamos?
   — Eu não sei... — Hanna hesitou, pensativa, e suspirou. — Eu nem consigo pensar no que usar se eu for.
   — Ah, com certeza vai ter um montão de roupas estranhas e repetidas com um bando de gente bebendo. — Kalissa tentou incentivar a amiga que balançou a cabeça em negação. — Que foi?
   — Você não está ajudando.
Ela mordeu o lábio inferior e sussurrou um "desculpe" para a amiga. A verdade é que ela não fazia questão alguma de ir, muito menos se Hanna não iria também. Ela se sentiria extremamente deslocada e solitária, o que seria horrível.
   — Eu e o Chris já tínhamos planos, vamos pra casa da mãe dele num almoço de família.
   — Minha mãe vai acabar trocando de filho se continuar indo lá. Já disse que eu não te quero como irmão, cai fora.
   — Não seja egoísta, irmãozinho.
Os dois começaram a encrencar um com o outro enquanto Hanna e Kalissa apenas riam deles. Eles foram interrompidos pelo sinal indicando que era hora da aula.
   — Matemática logo hoje, quem amou? — Liam falou ironicamente, praticamente se arrastando para seu lugar ao lado de Christopher.
   — Um tiro era muito melhor que aguentar isso logo cedo. — Hanna acrescentou, voltando a ficar mau humorada enquanto se sentava ao lado de Kalissa.
Enquanto reclamavam, três jovens entraram acompanhados do professor e isso foi o suficiente para calar todos quase instantaneamente. Então eram eles...espere...três? Não eram quatro?
   — Bom dia turma, — o professor parecia estranhamente animado, o que era péssimo, mas ninguém ousou dizer nada. As atenção estavam nos três novatos extremamente bonitos. — nossos novos alunos aqui estão se juntando a nós nessa reta final, então sejam legais e compartilhem nosso conteúdo com eles para que se adaptem rápido e não sejam prejudicados.
A garota parecia num péssimo humor, então apenas escolheu uma mesa vaga e se sentou, a sua cópia masculina sorriu para todos e seguiu a irmã tomando o assento ao seu lado. Sobrando apenas o belo garoto de cabelos acinzentados, ele procurou a última mesa vaga e se sentou sozinho.
   — Há mais um, eu vejo na observação quatro nomes... — o professor comentou encarando o papel em sua mão, ajustando seus óculos para enxergar melhor.
   — Ele estava ajudando na mudança, mas deve estar para chegar.
A voz do garoto era melodiosa, suave, um pouco grave e parecia combinar perfeitamente com seu rosto angelical. Ele estava sentado bem atrás de Hanna, parecia ser pouco mais alto que ela e talvez mais novo. De onde saiu este boneco?, Kalissa pensou enquanto analisava discretamente a beleza incomum daquele garoto.
Como havia dito, pouco tempo depois o último garoto chegou e ofereceu um sorriso sem graça para o professor, um pedido de desculpas silencioso sobre seu atraso. Kalissa ouviu o suspiro de algumas garotas e dessa vez, apenas dessa vez ela concordava.
Céus, ele era realmente lindo!
Kalissa não tinha um tipo ideal, mas pensando bem se realmente tinha era ele. O garoto era alto, tinha um sorriso incrivelmente lindo e um estilo de roupas que agradou bastante não apenas Kalissa. Ele passou pela mesa onde estava e se sentou ao lado do amigo, exatamente atrás de Kalissa, e de repente ela se sentiu tensa.
Ele está atrás de mim... Ela repetiu para si mesma, nervosa e inquieta.
A aula começou, mas ela não conseguia relaxar. Era a primeira vez que se sentia assim com a presença de alguém desconhecido, e Hanna percebeu sua inquietação ao notar que estava girando a caneta entre os dedos tentando concentrar seu nervosismo em um ponto relativamente discreto. É melhor do que mexer a perna sem parar, isso sim chama atenção.
Hanna escreveu no papel e passou para Kalissa: "O que está te incomodando? Não para de girar essa caneta. Já pensou se ela escapa e acerta o professor? Hehehe"
Ela respondeu: "você bem que gostaria de vê-lo irritado, mas não...eu estou bem. Apenas quero que acabe logo."
E claro, aquela resposta não convenceu nem um pouco sua amiga que a conhecia bem o suficiente para saber que ela estava mentindo.
"Você está nervosa por causa...deles...?"
"Sim. Não sei se é por ser tão bonitos que chegam a intimidar ou se estou paranóica, mas há algo neles que me deixou assim."
Aqueles quatro eram estranhamente tranquilos, não eram como qualquer jovem, o que podia ser bom para alguns e não era nada confiável para Kalissa. Quem em sã consciência aceitaria se mudar assim de repente para uma cidade como esta e terminar o colegial numa escola diferente? Tudo parecia como...um grupo de fugitivos.
Hanna não respondeu mais, mas ela também parecia um pouco tensa agora. Ela olhava para o quadro, mas não estava prestando atenção no que estava ali, seu olhar era vago e ela parecia pensativa e extremamente concentrada. Kalissa encarou seu caderno e tentou fazer pelo menos suas anotações, depois poderia perguntar mais tranquilamente no que Hanna estava pensando tanto.
Ela sentiu uma caneta encostar suavemente em sua costela duas vezes e olhou para trás, o garoto novato e atrasado sorriu gentilmente e falou baixinho:
   — Pode me emprestar uma caneta, senhorita? A minha falhou e meu irmão aqui não tem nenhuma para emprestar.
Ignorando as sensações estranhas que estava sentindo, ela assentiu e entregou a ele uma de suas canetas.
   — Obrigado.
Os olhos dele...são lindos...
Diferente do outro, este tinha uma voz mais grossa, ainda era suave e o leve sotaque britânico fez cócegas na pele de Kalissa. Era o tipo de voz que ela gostava de ouvir em audiobooks por justamente achar atraente aquele sotaque. Ele tinha olhos escuros como a noite, o cabelo era loiro claro e estava um pouco bagunçado desde que chegou correndo por causa de seu atraso.
O restante da aula pareceu se arrastar, Kalissa permanecia inquieta e acabou prendendo seu cabelo com um de seus lápis de cor. Ela tinha a estranha sensação de estar sendo observada, e cada vez que olhava para o vidro ao seu lado e se distraindo com a chuva que caía, encontrava o reflexo do olhar daquele garoto. Ele sorriu de um jeito diferente desta vez, como se estivesse a desafiando a olhar para trás, mas ela não o fez em momento algum.
Ele estava quase rindo?
   — Por hoje é isso, façam os exercícios e vejo vocês na próxima aula. — o professor falou alto e isso trouxe a atenção de Kalissa de volta ao que interessava. — E aos novatos, mais uma vez sejam bem vindos!
   — Finalmente acabou. — Liam comemorou.
   — Não seja idiota, foi a primeira aula e ainda falta muito para voltarmos pra casa. — Christopher respondeu e Liam mostrou o dedo do meio para ele.
   — Hannie, você odeia o professor tanto quanto eu, comemore comigo nossa sobrevivência.
   — Eu preciso pegar uma coisa, já volto.
Ela se levantou e saiu sem dizer mais nada, o que deixou os três sem reação e preocupados.
   — Eu vou atrás dela, isso foi estranho. — Liam rapidamente se levantou e correu para fora da sala atrás de Hanna, enquanto isso Christopher sentou na cadeira ao lado de Kalissa.
   — Lissa, você está bem? Eu não quis perguntar antes, mas não conseguiu dormir de novo?
   — Você sabe...os pesadelos ficaram mais frequentes. — ela respondeu sem vontade.
   — Minha mãe disse que vai mandar uma receita de chá para você beber antes de dormir, ela tem certeza que você vai dormir bastante com isso.
Aquela gentileza trouxe a lembrança do dia em que ele se declarou e ela apenas lhe disse que não queria ser nada mais que amiga para ele, e se sentiu mal por ele agir tão bem com ela mesmo depois disso como se nada tivesse acontecido.
   — Não precisa. Minha madrinha está vindo e ela falou que vai me ajudar com isso, mas agradeço sua preocupação. — outro fora. — Mande um beijo para sua mãe nesse fim de semana por mim.
   — Você podia ir também, eu posso falar com a tia Clarice e...
   — Desculpa Chris, mas você sabe que ele não deixaria.
Não era mentira e nem uma desculpa, sua tia realmente não deixaria e ela não pretendia perturbar sua mente com preocupações desnecessárias apenas para agradar um amigo que não parecia aceitar muito bem o seu não.
   — É, você tem razão... — ele parecia decepcionado, mas tentou esconder isso com um sorriso. — Eu vou atrás daqueles dois ver se não se meteram em encrenca.
   — Certo. Traga eles pelas orelhas se for preciso.
Christopher riu e deixou Kalissa sozinha, ela aproveitou para checar seu celular e viu uma mensagem de sua madrinha avisando que já estava em casa e trouxe presentes, isso a fez sorrir. Ela sempre faz isso. Enquanto digitava uma resposta para ela, notou que os novatos haviam sumido e no lugar onde o garoto que pediu sua caneta emprestada havia um post-it dizendo: "devolverei assim que possível, eu prometo a você senhorita."
Ela sequer notou quando saíram, mas não se importava se ele pretendia ficar com a caneta, era apenas uma caneta e ela tinha várias. O que a deixou intrigada é a forma como ele parecia querer se aproximar a todo custo, de um jeito antiquado e muito cavalheiro para um jovem.
Talvez tenha sido criado assim.
Sem perceber, Kalissa pensou no momento em que estavam se encarando indiretamente pelo reflexo no vidro e sentiu uma necessidade muito grande de desenha-lo. Ela não conseguiria ser tão precisa em todos os detalhes perfeitamente desenhados naquele belo rosto, mas tentaria.
E ela nem sabia qual era o nome dele. Qual seu nome? Ela respondeu no papel que ele havia deixado mesmo sabendo que não teria resposta nenhuma.

A História de Uma Garota (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora