A História de Uma Garota (Livro 1)

𝟏𝟒

As mentiras têm um preço muito alto.

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Os anjos mentiram para você.
Não há muito que eu saiba, quando fui designado para assumir esse Abrigo, automaticamente tive acesso negado em reuniões sobre a Escolhida, e tudo o que sei foi informações soltas que não faziam muito sentido. O interesse dos Anciões em Kalissa não é por causa de sua missão e sim o que ela pode fazer, seus poderes, sua linhagem, já que ela tem uma parte muito humana além do sangue angelical, uma híbrida perfeita dos três mundos; e eles desejam testar seu sangue, para fins de estudo. Foi o que pensei. Estava errado.
Diferente de Aron, os Anciãos desejam o sangue de Kalissa para reproduzir mais como ela, com habilidades semelhantes aos Herdeiros das Sombras que são capazes de usar a magia sem restrições. Quando soube que ela estava nessa cidade, procurei pessoalmente Clarice, mas não pude me aproximar pois havia mais alguém protegendo ambas. Se eu tentasse chegar a elas, seria descoberto. Foi então que Hanna, minha melhor guerreira, veio até mim e se ofereceu para agir. Eu não poderia confiar em mais ninguém, e lhe disse o mínimo, ela nem hesitou.
Hanna tem protegido Kalissa e me trazido as informações que consegue, sem atrair a atenção de ninguém, mas sua chegada trouxe complicações. Kastian encontrou Kalissa, e consequentemente Aron também, e como não há um método de deter Aron, estão tentando deter Kastian. Pense, é inteligente se puderem deter seu irmão, ao mesmo tempo que usá-lo como uma forma de atingir você. Estão adoecendo Kastian, uma magia antiga que eu pouco ouvi falar, mas que é usada como um tipo de veneno. Seu objetivo é enfraquecer o inimigo até que possa ser possível a captura, o problema é que eles não tem uma cura, então a morte é praticamente certa.
   — Você precisa alertar seu irmão. Só usuários da antiga magia podem ajudar, talvez curar, e ele precisa fugir do alcance dos Anciãos, antes que ele morra.
Kaizo ouviu tudo aquilo em silêncio, Alexander sabia que ele estava sentindo o equivalente a raiva humana, e mesmo que não demonstrasse era possível ver em seus olhos aquele brilho levemente familiar; raiva, indignação, os sentimentos que poderiam levar humanos a cometer coisas fora da razão.
   — O que devo fazer?
A pergunta foi em um tom baixo, muito sério e sem qualquer emoção. Ele estava tenso, as mãos fechadas em punhos eram um claro sinal de que ele faria qualquer coisa pelo irmão, até ir aos Anciãos se fosse necessário. Seria por Kalissa ou pelo irmão? Ou os dois...
   — Existe uma mulher que está com a tia de Kalissa, Julie Greene, ela conhece muito de magia e deve saber como fazer isso parar. Se puder conseguir a ajuda dela, diga a Kastian para sair da cidade e ficar bem longe de encrenca. Seria infinitamente melhor se ele também pudesse parar de obedecer Aron, isso deixaria de fazê-lo um alvo.
   — E quanto a Kalissa, o que nós podemos fazer?
   — Nós não. Eu irei ajudar Kalissa com seus poderes, você deve se concentrar no seu irmão.
   — Não posso mais deixar Kalissa.
Alexander ergueu uma sobrancelha levemente sem entender o que o outro havia dito.
   — Do que está falando?
   — O que você ouviu. Já não posso me afastar de Kalissa, e isso não significa que deixarei meu irmão morrer, apenas não posso me concentrar cem porcento em outra coisa.
   — Ainda não entendi.
   — Kalissa é minha alma gêmea, e isso é como um ímã, eu posso afasta-la de mim, mas eu não posso fazer isso. Sabe muito bem que para nós anjos, algo assim é para a vida toda, e não existe outra.
Alexander suspirou. Ele estava certo, mesmo que não soubesse como funcionava, sabia que ele tinha um bom ponto. Eles precisavam achar uma forma de fazer tudo isso funcionar sem prejudicar ninguém.
   — É claro! Como não pensei nisso antes...
Kaizo leu a mente de Alexander antes mesmo que ele pudesse explicar e isso o fez sorrir maliciosamente.
   — Isso não é contra as regras?
   — As regras dizem que você não deve entrar no Abrigo sem ser solicitado. Elas não dizem que você não pode, e eu solicitei, então qual o problema? As regras são como muros, elas impõe limites, mas muros podem conter brechas. Não estamos quebrando regras, apenas nos adaptando a elas.
   — Seja como for, eu aceito.
   — Harry também será muito útil. Ambos podem se juntar com Hanna e tenho certeza que farão um ótimo trabalho quando eu não puder.
   — Kalissa sempre diz que toda ajuda é bem vinda. Há muito o que fazer, e o tempo não está a nosso favor.
   — Muito tempo foi desperdiçado graças a teimosia de Clarice em fazer o que deveria ser feito.
A verdade é que Kaizo sabia muito bem que se não fosse pela própria Kalissa, Clarice nunca teria dito a ela a verdade, e mesmo que isso fosse um grande inconveniente e dor de cabeça para todos, poderia ser compreendido...ela já havia perdido muito para dar Kalissa de bandeja como um sacrifício. Até eu me recuso a isso.
   — Kaizo, um aviso? — Alexander interrompeu os pensamentos de Kaizo. — Não sei bem como funciona isso de alma gêmea para vocês anjos, mas não deixe que isso atrapalhe as coisas. Escolha muito bem o que fará com tudo o que sabe, e se decidir lutar, eu não irei impedir.
   — Eu ainda não sei o que fazer com isso.
   — Pense rápido, como você mesmo disse, não temos tempo. Vai deixar sua amada se sacrificar e seguir adiante com tudo, ou vai lutar e achar outra forma de burlar as regras?
O Morgenstair sorriu minimamente.
   — Você disse que regras são como muros e podem conter brechas, eu posso tentar descobrir onde estão as deste muro, farei o meu melhor.
   — Pois bem... — por um momento, Kaizo pensou que Alexander iria dizer que não faria absolutamente nada quanto a isso, mas sua resposta o surpreendeu: — Se os Anciãos passaram dos limites, precisamos mostrar a eles que não somos marionetes. Eu sempre gostei de batalhas, e faz anos desde que estive em uma por uma causa realmente válida. Conte comigo, Kaizo Morgenstair.
Eles apertaram as mãos e sorriram um para o outro. Um aliado, e é Alexander, o mundo dá mesmo muitas voltas.