4-Agatha

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      Foi tudo muito rápido, em um segundo ela estava falando e logo em seguida seu corpo começou a se contorcer. Chamei seu nome várias vezes mas seus olhos não pareciam ter foco e apenas iam de um lado para o outro sem controle.

     -Raissa! Raissa eu preciso de ajuda urgente- gritei pelo rádio comunicador- acho que fizeram alguma coisa com com a Megan.

   -Agatha respira e me diz exatamente o que está acontecendo com calma.

Sua voz falhava pela distância entre os comunicadores mas entendi a mensagem e disse exatamente o que estava acontecendo.

     -Eu preciso que com uma mão você segure a cabeça dela e não deixe que se machuque, com a outra sinta o pulso eu chego aí em poucos instantes.

Eu estava paralisada mas segui exatamente o que Raissa havia pedido até que ela chegasse com um kit médico. Em questão de minutos todos estavam a caminho da van e eu levava Megan, que estava completamente apagada, junto com Raissa nos ombros. Foi tudo muito rápido ela só tirou uma seringa do kit e aplicou em Megan, seu corpo parou quase que de imediato e caiu em um sono profundo.

Do lado de fora, outras equipes chegavam para analisar o local e fazer a limpeza dos vestígios paranormais. A equipe Águia logo se organizou na van onde Eva já dirigia em direção a ordem, mesmo a investigação não tendo acabado a nossa missão tinha e como agente da ordem você logo aprende a fazer apenas o que é pedido. Fiquei separada da equipe no banco de trás com Megan dormindo profundamente no meu ombro de uma forma estranha fiquei feliz por ela já que em dias normais seu sono é sempre atormentado por pesadelos ou insônia. Ver seu rosto assim tão pacífico me fazia esquecer de tudo não só hoje mas também do passado, do nosso passado.

Fiquei aliviada por chegarmos rápido assim não tive chance de pensar sobre o passado, um tempo que não precisa mais ser lembrado, pelo menos não agora. As portas da van se abriram por fora e Veríssimo nos esperava com Marcela, médica da Ordem e Rafael, o cara dos arquivos. Marcela não esperou ser chamada e levou Megan com ela antes que eu pudesse perceber, mas sabia que ela não acordaria tão cedo então depois iria a sua procura. Por hora tudo que queria era minha cama e um bom chocolate quente.

Meu desejo foi logo destruído quando Veríssimo chamou todos para sua sala juntamente com Rafael para dar detalhes sobre a missão. Descemos as escadas e passamos por salas agora bem mais vazias com as equipes se retirando agora que a situação já havia se acalmado.

Não tinha muito a dizer sobre a missão então fiquei em silêncio e deixei que a equipe Águia passasse todos os detalhes, o que demorou quase duas horas já que os bonitos fizeram questão de dar cada mínimo detalhe sobre o lugar. Quando finalmente acabou, Veríssimo me pediu pra ficar e liberou o resto da equipe.

     -Você foi muito bem na missão, não morreu e conseguiu controlar toda a situação- ele disse olhando diretamente pra mim- Mas antes de te dar folga queria te pedir pra ter calma, ainda não sabemos como a Megan vai reagir e você se lembra da última vez.

Como não lembrar, foi logo depois de uma de nossas primeiras missões mais ou menos pra termos ficado na van, mas tudo deu errado e as chamas consumiram o que antes era uma floresta. Megan pensou ter visto seus pais e correu para o fogo, eu sentada na van fiquei olhando sem conseguir fazer nada.

Quando ela voltou pra Ordem e descobriu que eles tinham morrido ficou mais de um mês sem dizer uma palavra completamente paralisada. Até hoje ela acorda gritando com os pesadelos.

     -Eu lembro bem- disse desviando o olhar- Pode deixar que não vou virar noites, surtar ou coisa do tipo já sou grandinha Sr.Velocímetro.

Pensei que ele iria se incomodar com o apelido como sempre, mas ele sorriu e veio em minha direção me surpreendendo com uma espécie de abraço.

     -Sei que não é mais criança a tempos, mas enfrentar o paranormal é difícil pra todos- Segurei lágrimas de dores antigas que ameaçavam cair.

Quando o abraço acabou acenei me despedindo e fui para o quarto aproveitar minha folga merecida ainda temendo que as lágrimas voltassem. Mas era verdade o paranormal era difícil pra todos e conhecê-lo tão cedo trouxe muitas consequências, se a Ordem não tivesse me acolhido eu nem sei o que eu faria. Megan, Veríssimo, Mia, Ivete, Dante, Arthur e tantos outros agora eram uma família, uma família rodeada por perdas, mas ainda sim família.

Cheguei no quarto e me troquei o mais rápido que pude tentando não dormir, mesmo sendo apenas 20h eu estava exausta de toda a busca. Com roupas limpas e confortáveis, me joguei na cama e deixei o sono vir.

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