Mais cedo neste mesmo dia...
O tal ataque que Megan falou não causou tantos estragos na Ordem em si, eu e ela fomos as únicas feridas na coisa toda. Dei sorte de sair só com uns arranhões que já foram devidamente costurados, Megan por outro lado ainda não acordou.
Durante o ataque máximo que os exoterroristas fizeram foi abrir as celas por alguns segundos, mas foi tão rápido que ninguém escapou. Pelo menos era isso que parecia até umas horas atrás.
Aparentemente um prisioneiro fugiu, mas não sem antes ter todos os seus registros apagados por alguém o que levou sua fuga a passar despercebida. Registros esses que só poderiam ter sido apagados por alguém de dentro da Ordem, alguém de alta patente que conhecia o prisioneiro e tinha acesso ilimitado aos registros, arquivos e dados da base. Alguém como Megan.
Por mais que acredite na sua inocência ( em partes) com aquele símbolo a controlando é impossível saber o que ela teria feito. Além disso, foi Megan quem visitou o fugitivo mais de uma vez nos últimos dias. Tudo apontava para ela, mas ainda depende do que ela vai dizer quando acordar.
A grande questão agora é que como foi detectado traição por parte de algum agente Veríssimo iniciou interrogatórios obrigatórios com todos os agentes, e o meu é em dois minutos. Estou ao lado da sala de Veríssimo esperando ser chamada para depor sobre o recente ataque. Até pensei em usar dos ferimentos como desculpa para adiar isso, mas teria que continuar na enfermaria e sinceramente acho que enlouqueceria se passasse mais um dia lá.
Quando deu a hora exata que haviam marcado, 15h, a porta da sala foi aberta por outro agente e Veríssimo sinalizou para que eu entrasse. O agente que não reconheci saiu e fechou a porta nos deixando a sós. "Que comece o pesadelo"
Me sentei em uma cadeira logo à frente de Veríssimo que terminava de anotar alguma coisa em um caderno. O medo corria por minhas veias, Megan era minha amiga mas também era culpada, bem mais ou menos culpada. O problema seria convencer os outros de que ela estava sendo controlada sem ter o símbolo para provar isso.
-Muito bem, Agatha Volkomen, agente de número 129 podemos começar- Veríssimo disse segurando o que parecia um gravador de voz e colocando na mesa a nossa frente.
-Sim, claro- respondi ainda incerta sobre o que fazer com as informações.
-Agatha no seu registro mostra um acesso aos computadores da Ordem dia 15 de maio às 16h, o que você estava fazendo esse dia?
A pergunta me pegou desprevenida, isso foi a uma semana atrás quando eu estava investigando Megan.
-Às câmeras- falei de repente- eu fui olhar as câmeras de segurança nesse dia, foi quando eu te chamei e o senhor sabe o resto- Não estava muito no clima de relembrar nossas brigas agora, especialmente quando estou ponderando sobre entregar ou não Megan.
-Me lembro disso, essa foi a única coisa que fez?
-Sim, foi.
-Tem algo mais que eu deva saber Agatha? Alguma coisa que possa ajudar?
A maneira como Veríssimo olha no fundo dos meus olhos enquanto fala me faz temer que ele saiba de algo. Ele não prenderia Megan prenderia? Sr.Veríssimo não é nosso pai, mas ele me aceitou na Ordem depois de tudo que fiz, será que faria o mesmo por ela?
-Eu..eu..não sei- minha voz sai mais trêmula do que queria deixando clara minha incerteza. E obviamente Veríssimo não deixa isso passar despercebido.
-Agatha pelo bem de todos na Ordo Realitas eu preciso que fale a verdade- seu tom é ao mesmo tempo firme e calmo, como se demonstrasse que não é uma ameaça.
Isso me faz tomar minha decisão. Mesmo sabendo que escondi algo Veríssimo não mudou seu tom nem tentou me ameaçar ou usar de rituais para extrair a verdade, não faria mal à ela. Respiro fundo organizando meus pensamentos e me preparo para explicar tudo.
-O senhor tá certo, vou contar tudo do começo, mas tem que prometer escutar tudo.
-Eu prometo Agatha- responde sem hesitar.
-Então vamos nessa- respiro mais uma vez e começo a contar tudo- Quando estava nas câmeras da Ordem eu vi Megan conversar com o prisioneiro fugitivo, eles trocaram algumas algumas palavras antes de ela ir à sala de computadores onde fez diversas pesquisas envolvendo desde banalidades até arquivos confidenciais. Foi quando te chamei para vê-la- Veríssimo me olhava atentamente- Depois no dia do ataque a mesma coisa de repetiu na sala de computadores, pesquisas sem sentido no meio de registros, documentos e plantas da base. Agora é a parte que fica realmente estranha, os olhos de Megan estavam com um brilho muito estranho.
Achei o pesadelo meio íntimo demais para ser mencionado então deixei ele de lado.
-Ela disse que tinha feito um acordo, "eles" destruiriam a Ordem e ela me mataria. Foi quando lutamos- digo apontando para as bandagens em meu braço- a parte que não contei foi o que vi durante a luta. Nas costas da Megan onde a ataquei havia um símbolo marcado em sua pele, e veja pelos meus olhos era o ritual marcado.
-Agora os ferimentos dela fazem sentido, todos aqueles cortes foram para remover o símbolo?- Veríssimo pergunta me fitando com o olhar.
-Sim- Todo o meu corpo estremece com a lembrança do momento. Meu corpo sobre o dela, a faca empunhada em minha mão sendo cravada em sua pele enquanto o sangue molhava o chão.
-Eu sei que é uma história quase impossível, mas é o que tenho pra contar- Nem sei como disse tudo isso sem gaguejar- Então sim foi Megan, mas ao mesmo tempo não entende?
Veríssimo agora encara os papéis em sua mesa como se ligasse os pontos.
-Obrigado por seu depoimento Agatha, foi de grande ajuda, agora pode se retirar.
-Não, espera, por favor não prende ela, Megan estava sendo controlada...
-Vou analisar tudo, agora tenho outros assuntos para resolver então por favor- ele aponta para a porta.
Queria gritar, brigar, dizer que não era justo, mas me retirei. Outro agente esperava para ser interrogado, não que ainda importasse agora que havia entregue o culpado de bandeja. Fui para a única pessoa que sempre me ajudou em situações assim quando eu não sabia o que fazer, quando tudo parecia perdido, quando meu passado voltava à tona ou só queria alguém para conversar e me distrair.
Entrei na enfermaria e me sentei em uma cadeira ao lado da cama onde Megan ainda dormia. Tubos e fios estavam ligados por todo o seu corpo também era possível ouvir um bip–bip de seu coração batendo, fraco mais ainda sim batendo. Mesmo sem poder me responder ou ouvir, era com ela que queria estar agora. Segurei sua mão e liberei às lágrimas que a tanto tempo queriam cair.
A expressão de Megan era tão pacifica como a muito tempo não ficava, acho que essa deve ser a primeira vez em meses que essa garota dorme mais de quatro horas seguidas. Não sei o que o futuro guarda para nós, mas aqui agora tento não me importar com nada e apenas seguro sua mão.
Sei que posso me arrepender de minhas escolhas depois mesmo sabendo que contar a verdade foi o certo a se fazer.
Fico ali segurando sua mão e olhando para as linhas do monitor cardíaco subindo e descendo como se fosse o programa mais divertido do mundo. Bip—bip-bip-bip. As linhas sobem e descem cada vez mais rápido, por alguns instantes entro em pânico sem saber o que estava acontecendo.
Pensei em gritar Marcela quando senti um aperto em minha mão, Megan. A preocupação em meu rosto deu lugar a um sorriso de alívio, depois de três dias finalmente ela parecia acordar. Não demorou para que seus olhos se abrissem e se encontrassem com os meus.
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Transcender
ActionAgatha x oc!Megan Após transcender Megan aparece com uma aparência de luzídio, culpando a Agatha por isso elas têm uma briga feia e Megan vai dar uma volta, perdida em seus pensamentos acaba sendo sequestrada por exoterroristas. Megan e Agatha s...