27- Megan

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Realidade e imaginação eram duas coisas que no momento não conseguia distinguir. Enquanto corria em meio ao tão familiar fogo, lembranças da noite do incêndio a quase 3 anos voltavam com tudo. Manter o controle e a noção da realidade não estava sendo nada fácil.

  Guiava minhas ações o mais rápido possível, os poucos sobreviventes estavam com os pés e pulsos amarrados, as chamas logo cobririam o único caminho de volta não deixando me muitas alternativas. Comecei a cortar as cordas e fitas que prendiam os pés das pessoas, assim pelo menos poderiam correr.

   Não reparei seus agradecimentos ou qualquer coisa além do fogo e da sensação do calor tão perogosamente perto.

   Fui interrompida por uma mão puxando firmemente meu braço chamando minha atenção. O rosto de Marcela era ofuscado pelo brilho das chamas, sua boca se movia formando palavras que não conseguia ouvir. Até a figura apontar para o lado, dois corpos já praticamente carbonizados jaziam no chão.

Milagrosamente seus pulmões ainda, com muito custo se enchiam de ar, mas sua pele era quase inexistente.

  Aquelas pobres criaturas não poderiam se salvar nem com um milagre. Em situações como essa a morte seja a ser um ato de piedade, mas não com tantos vivos ainda querendo lutar ao redor.

      -AGATHA LEVA ELES PRA FORA, EU VOU LEVAR ELES NAS COSTAS!- gritei.

   Os que ainda estavam vivos mereciam uma chance de sair desse inferno, quanto a nós mortos, restava esperar.

   Olhei para os dois corpos no chão, nem pude reconhecer quem eram pelo estado de suas queimaduras. Isso foi até bom porque talvez se eu soubesse quem eram não teria tido a coragem de atirar em suas cabeças. Eles estavam em paz agora.

   Queria poder dizer o mesmo sobre mim.

    Fitei meu braço com o olhar, o sangue escorria por baixo das minha roupas e ataduras improvisadas. Ao mesmo tempo o ar ficou áspero e pesado, não tinha salvação para mim eu estava morta no momento em que entrei nesse lugar. E talvez seja melhor assim mesmo, com minha morte talvez quem eu amo finalmente encontre paz.

    Respirei uma última vez antes de relaxar me deitando entre o manto quentinho das chamas. Aí tudo desabou e eu morri.

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  A brisa batia de leve contra o meu rosto enquanto pássaros cantavam animados ao fundo. O sol ia se pondo iluminando a colina e eu descansava na grama deitada a sombra de uma macieira.

      -Megan, filha preciso de você na cozinha- Era minha mãe, sua voz doce vinha de dentro da pequena casa amarela no topo da colina.

   Me pus de pé e corri em sua direção para ajudá-la. Tudo parecia tão leve aqui.
Tô aqui mãe.

   Ela logo apareceu segurando alguns vegetais. Minha mãe era uma típica mulher Taiwanesa criada em uma família muito tradicional, seus cabelos pretos e lisos iam até seus ombros, usava um vestido branco e chinelos assim como eu. Ela estava tão viva.

      -Ótimo Meg, precisamos fazer o jantar, vai cortando esses vegetais enquando eu cozinho o arroz.

   Obedeci pegando da sua mão algumas cenouras, abóboras e batatas.

Passamos um tempo sozinhas cozinhando em perfeita sintonia. O cheiro da comida estava absolutamente divino e logo meu pai apareceu na porta para experimentar. Sempre nos acharam muito parecidos, tinhamos o mesmo tom escuro e frio de pele, os mesmos cachos e ele era só uns centímetros mais alto. Ele usava um conjunto de camisa, shorts e chinelos brancos como os nossos.

      -O cheiro está ótimo, já posso por a mesa?- perguntou ele da porta.
      -Claro amor, já está tudo pronto.- Minha mãe respondeu doce como sempre.

  Eles foram levando as coisas para a sala de jantar enquanto eu colocava as louças na pia. Meu estômago roncava já implorando por um pouco daquela comida.

  Quado cheguei na sala os dois já estavam sentados em seus ligares na mesa comendo e não tinha nenhuma cadeira ou prato separado para mim.

      -Mãe, pai e o meu prato? E a cadeira?

  Perguntei nervosa. Eles apenas se levantaram em silêncio indo em direção a porta da frente da casa abrindo a. E do lado de fora uma luz branca muito brilhante quase queimava meus olhos.

      -Megan nós te amamos mais do que tudo nesse mundo e sempre vamos estar com você querida- As vozes dos dois repetiam ao mesmo tempo- mas ainda não é a sua hora, você ainda tem uma vida e alguém que te ama tanto quanto nós te esperando do outro lado.

  A porta começou a se aproximar cada vez mais mesmo eu não saindo do lugar.
Adeus filha! Nós veremos de novo quando for a hora.
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  A luz me atingiu com toda força desencadeando uma onda de dor, frio e memórias. Eu me lembrava de cada detalhe, os tiros, os sobreviventes, a missão fracassada, destruição, fogo, Agatha. Agatha, ela estava ali. Tentei chamar seu nome, mas tinha alguma coisa no rosto abafando minha voz.

Podia ver seu rosto molhado por lágrimas enquanto murmurava alguma coisa.

  Tinha perguntas a fazer, precisava saber o que tinha acontecido, quem eu tinha matado, que dia era hoje,? Por que meu corpo doia tanto? Por que ela estava chorando? Que dia era hoje? Onde eu estava? E meus pais?

   Perdi o controlhe do ritmo de minha respiração e meu peito subia e descia de forma descontrolada enquanto tentava inutilmente gritar. Minha movimentação atraiu o olhar de Agatha e mais lágrimas molharam seu rosto acompanhadas por um sorriso. Sem dizer nada ela só me abraçou em meio a soluços.

  Ergui meus braços, que estavam incrivelmente doloridos e fracos para abraçar ela de volta.

      -Você sobreviveu!

As coisas foram ficando mais claras. Tudo ao meu redor tinha tons claros, as paredes, o teto e os móveis, em uma mesinha no canto várias flores murchavam lemtamente pela falta de uma janela com luz do sol. Estava em um hospital e pela quantidade de flores e cartões naquela mesinha pode-se deduzir que estou aqui já faz um tempo.

Um bip-bip familiar sinalizando as batidas o meu coração eram quase como música, um lembrete de que sobrevivi mais uma vez e isso é tudo o que importa.

  Estou em segurança agora, Agatha está aqui e o resto do mundo pode todo se foder, eu sobrevivi a dois incêndios, um sequestro, zumbis, paranormal, facadas, manipulação e surto psicótico, eu tenho o direito de descansar e não pensar em nada.

   Finalmente em paz e nos braços da minha namorada só consigo pensar em uma coisa, nós destruímos aquele broxa.









  Já são mais da 00:00 e eu não consigo acreditar que finalmente escrevi a última palavra dessa fic. É tão bizarro saber que outras pessoas estão lendo as coisas que eu escrevo no surto da madrugada, enfim amo muito cada um de vcs ♡ e muito obrigada por lerem e minha primeira fic!

  Ps: desculpa pelo susto só queria colocar uma emoção 😃

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