8- Agatha

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   As coisas ficavam cada vez mais estranhas, primeiro às brigas, depois daquele dia na sala de computadores e agora Megan estava no chão do quarto sufocando até a morte. Por sorte eu não faltei nos dias de treinamento de primeiros socorros na escola. Agora respirarando, Megan desabava em meus braços com lágrimas molhando seu rosto.

   Balbuciava algumas palavras impossíveis de se distinguir em meio aos soluços “ ataque, amanhã?ela deve tá alucinado”. Sua expressão era de medo, mas era um medo tão profundo que temi que a membrana estivesse enfraquecendo. Em meio a tantas coisas só consegui ficar ali tentando controlar seja lá o que isso foi.

   Não sei em que momento pegamos no sono, mas acordei no chão com Megan deitada em meu peito dormindo pacificamente. Naquele momento ela parecia a garota que eu conhecia, sem brilhos misteriosos nos olhos ou conversas com exoterroristas na prisão. Tudo o que eu mais queria era ela de volta, minha colega de quarto, agente da Ordem e o mais importante de tudo minha melhor amiga.

Já passava das 8h e como minha folga tinha acabado não pude ficar lá por muito mais tempo, então arrumei uns travesseiros e deixei Megan lá. Segui meu dia normalmente, tomei café com a Ivete, assumi o lugar do Dante na sala de rituais o de sempre.

Lá pra umas 9h vi Megan saindo mais estranha ainda, seus olhos pretos estavam rodeados por olheiras ainda mais escuras e ela passou quase correndo em direção a algum lugar. Repeti para mim mesma que era só ela sendo ela, mas aquilo de ontem “ataque amanhã” essas palavras não saiam da minha mente. A curiosidade venceu, antes de sair deixei um bilhete na mesa avisando possíveis clientes que já voltava e que era para esperarem.

  Sem surpresa alguma encontrei Megan na sala de computadores sozinha no mesmo monitor de sempre. Seus olhos mais uma vez pareciam ter aquele brilho estranho da última vez. Desobedecendo as ordens de Veríssimo, como sempre, entrei na sala como quem não quer nada e comecei a espiar.

  Estava tudo como da outra vez, pesquisas sem sentido misturadas com arquivos de casos e indicadores confidenciais. Fiquei lá por quase uma hora sem nada de extraordinário acontecer.

     -Como prender um idiota em uma sala?- Sua fala repentina me pegou de surpresa- acho que esse eu nem preciso pesquisar, é assim.

Em um movimento rápido ela ficou de pé e a porta da sala bateu nós trancando dentro dela.

     -Eu te avisei para ficar longe Volkomen- Sua voz era estranha, quase robótica- agora está por sua conta e risco- disse tirando uma faca do cinto de seu macacão verde.
     -Ei Megan, calma aí, não precisa disso eu já tava de saída- Levantei minhas mãos em rendição na esperança de sair dali ilesa.
     -Não, não, você é minha, esse era o acordo eu entregava à Ordem e em troca eles me deixavam matar você.

  Ela estava se aproximando mais rápido e o brilho em seus olhos que antes não passava de um vislumbre agora dominava quase todo o olho. Sem opção de fuga me preparei pra luta. Arranquei um dos monitores atrás de mim e o empunhei como se fosse um Machado.

     -Ai que fofa, vai jogar aguinha e foguinho é?- ironizou.

  Aproveitando a distração me aproximei e tentei acertar sua cabeça, ela desviou do golpe sem dificuldades.

Em uma manobra de contra-ataque, Megan acertou a faca em meu braço espalhando uma dor aguda por todos os meus nervos. Nesse momento entendi que não estava apenas brigando com uma amiga, ali era uma luta pela vida onde memórias de momentos bons juntas não iriam mudar nada.

  Me recompus depressa e já preparei o próximo ataque. Megan vinha pra cima tentando me acertar de todas as maneiras e eu a bloqueava usando o monitor de escudo. Até que em um dos ataques ela me surpreendeu com um chute no joelho que me fez desabar no chão.

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