20- Agatha

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Desde que conheci acidentalmente o paranormal fiquei fascinada e quando me ofereceram a oportunidade de trabalhar com isso não pensei duas vezes antes de aceitar.

Sempre fiquei apenas em uma área, não tinha o treinamento nem vontade de lutar em campo e a investigação nunca me atraiu muito, bem até agora. No momento em que li naquela ficha sobre o ataque em uma escola algo em mim mudou, era como se por um momento eu tivesse voltado no tempo para o exato dia em que, bem o dia que eu me matei.

  As memórias desse dia eram tão confusas e embaçadas , só podia sentir medo, tanto medo. Agora era como se tivesse uma chance de vingança, mesmo não sendo as mesmas pessoas, eles fizeram algo parecido. Concentrei todo o medo e sede de vingança na investigação dando o meu melhor para ligar os pontos ou pelo menos manter tudo organizado.

  Uma parte do paranormal que ninguém fala é como a curiosidade te consome aos poucos, só não sabia que para mim um só dia bastaria, tive sonhos a noite toda. Estava mais uma vez na escola Nostradamus vendo tudo se repetir sem poder impedir, via o Gonzales, o Daniel, Alex, Gabriel, cada um deles caia um depois do outro. Então vinha minha mãe e os ocultistas que tiraram ela de mim sem mais nem menos, podia ouvir sua voz me chamando para mais perto, me fazendo querer mais, querer saber mais. Saber tudo é perder tudo.

   Finalmente tudo acabava. A parte ruim dos pesadelos é que eles nunca acabam totalmente quando você acorda e ainda vem acompanhados de uma bela dor de cabeça.

  Para minha surpresa quando abri os olhos a primeira coisa que vi foi um pé bem na minha cara. demorei para raciocinar a situação até perceber que a dona de tal pé estava estatelada no chão babando enquanto dormia profundamente. Megan tinha esse incrível talento de se mover mais dormindo que acordada e frequentemente acordava no chão ou parcialmente nele como agora.  

   Fiquei alguns instantes encarando essa cena antes de tomar coragem para finalmente levantar. Com minha roupa trocada higiene feita me restava lidar com o corpo largado no chão do quarto. Diversas ideias me vieram à mente, jogar água, música alta, gritar, chacoalhar e muitas outras. Mas então uma coisa melhor me ocorreu, ela era oficialmente minha namorada e isso significava que éramos bem mais que amigas. Ou seja, posso ir bem mais longe do que quando éramos amigas, agora estávamos ligadas.

    Coloquei meu plano em ação o mais rápido e silenciosamente possível para que Megan não acordasse no processo. Muitos mas muitos confetes recortados depois eu estava pronta. Preparei uma caixinha de som e posicionei bem ao lado da cabeça de Megan, sair viva dessa seria difícil.

   Confetes de post-it posicionados, caxinha posicionada, música escolhida, tudo pronto.

1,2,3… BOM DIAAA O SOL JÁ NASCEU LÁ NA FAZENDINHA.

  Em questão de segundos Megan acordou em completo desespero e assim que seus olhos se abriram uma chuva de confetes foi assoprada por mim. Seu rosto estampava uma mistura de confusão, susto, raiva e sono. Mundo bita ainda tocava em um volume considerável enquanto eu me engasgava de tanto rir vendo minha namorada completamente coberta de confete sem saber como reagir.

   Pausei a música em uma tentativa de deixar a cena menos engraçada e conseguir me recompor, o que não funcionou já que Megan continuava estática.

      -Bom dia alecrim dourado- disse temendo pela minha vida.

    Sempre que fazia alguma pegadinha ela reagia quase que imediatamente com algum insulto ou agressão, esse silêncio era novo. Novo e assustador.

     Esperei pelos insultos e agressões, mas ela simplesmente desabou no meu ombro.

      -Vai pro inferno Volkomen.

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