16- Agatha

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Viver com a Megan é tipo jogar um dado todo dia e dependendo do número algum evento extraordinário acontece, então não posso dizer que fiquei surpresa quando ela chegou parecendo um arbusto no Suvaco Seco, essa é uma terça feira até normal. Até depois da terapia as coisas ficaram um pouco melhores e com Megan afastada dos casos as coisas ficaram até normais. Nosso principal assunto era sobre qual bichinho seria melhor como seu suporte emocional e até agora o gato estava ganhando.

Estou feliz pela melhora das coisas é claro que entendo que as coisas demoram para se ajustar, mas minha relação com Megan está a ponto de me enlouquecer. Depois de ter a melhor noite da minha vida, nunca mais tocamos no assunto, não tanto quanto eu gostaria pelo menos, nos beijamos ainda, ela lança cantadas e eu também, nada muito além disso. É incrível, eu amo cada interação nossa e é por isso que queria ser mais, afinal não somos oficialmente nada. Minhas noites têm sido consumidas com milhares de ideias de como pedi-la em namoro, flores são bregas, Megan morre de medo de balão (longa história), carro de som nem pensar, picnic talvez?

Todas essas coisas não parecem certas, ainda falta alguma coisa que grite "NÓS" e não "vi no Instagram e decidi fazer". Ainda vou achar algo tão especial quanto ela, por hora o que me resta é pegar um kit médico e tratar meu arbusto.

Gastei todo meu charme tentando convencer Marcela a me dar um dos Kits médicos sem que ela dissesse uma palavra com Veríssimo. Depois de implorar de joelhos ela finalmente cedeu, essa mulher é um anjo na terra. Tranquei a porta do quarto e trouxe alguns componentes ritualísticos de cura caso a coisa ficasse feia.

Assim que arrumei tudo a porta do banheiro se abriu revelando uma Megan vestindo um pijama de unicórnio com direito a rabinho e asinhas, que assim como metade dos seus pijamas esse brilhava no escuro. Sua expressão era de cansaço ao passar pela porta desabou no chão mesmo.

     -Me ajuda- disse me estendendo uma escova de cabelo- por favor!

     -Se você me contar o que aconteceu porque pelo o que me lembro nunca ouvi falar de onça no Parque Municipal da Jabuticabinha -chantagiei.

     -Me pegou, eu falo.

Me sentei no chão atrás de Megan e a garota se aninhou entre as minhas pernas. Seus cabelos eram uma obra prima, os cachos cor caramelo desciam volumosos até sua cintura, uma pena que na maior parte do tempo ela os prendesse em um coque ou em tranças.

     -Então explique se.

     -Eu tava correndo na mesma trilha de sempre, acabei me distraindo e no lugar de parar na marca de 15 km eu fui até os 30 km.

     -Você o que?- interrompi a olhando incrédula.

     -É eu sei foi idiota, daí na hora de voltar o cansaço bateu e em um descuido eu- sua voz falhava- eu meio que cai morro a baixo.

     -MEGAN MORGAUSE PENA VOCÊ FEZ O QUE???- gritei ainda sem acreditar no ocorrido.

No lugar de responder ela caiu na risada, uma risada tão boa e contagiante que não pude deixar de rir também. Deixando a preocupação de lado aquilo era realmente uma cena para se dar risada, só de imaginar Megan rolando morro abaixo como nos desenhos uma gargalhada me escapa.

     -Você é inacreditável, sabia? Agora vê se fica quieta pra eu tirar essa floresta que tá grudada no seu cabelo.

     -Isso é desmatamento, vou chamar as girafas amazônicas pra te prender.

Essa resposta me pegou realmente desprevenida e ri até que me faltasse ar pela quinta vez.

O processo de desembaraçar o cabelo de Megan estava sendo complicado principalmente quando um graveto se embolava na escova. Olhando essa cena era inevitável não pensar em "Enrolados", Megan assistia esse filme todo fim de semana, então comecei a cantarolar "Brilha linda flor" bem baixinho.

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