7- Megan

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   Uma semana havia se passado desde o dia do sequestro e as vozes não param por um dia sequer. Decorei plantas, li arquivos, falei com prisioneiros, e isso é só o que eu me lembro. No começo eu tentei falar pra alguém, mas aí as ameaças começaram e eu não pude fazer nada além de obedecer cegamente.

  A voz dizia que iria machucar todos que eu amo, forjava memórias e trazia outras à tona.

  Estava deitada em minha cama agora tentando dormir. Minha cabeça latejava de dor depois de muitos gritos daquela maldita voz. Agatha dormia pacificamente do lado dela do quarto, não nos falamos a dias e eu não pretendia mudar isso. 

  Dor, essa é a única coisa que consigo me lembrar em relação a ela. Minhas memórias estão borradas, mas todas as vezes que ela se aproxima ou que apenas penso nela uma dor aguda atinge todo o meu corpo. 

  Não sei quando eu caí no sono mas acordei em sobressalto com Agatha quase me jogando da cama. 

     -CORRE!!- grita ela antes de disparar em direção a porta e sair.

  Cambaleando de sono eu a sigo, só que no lugar de um salão com mesas e bancos onde agentes conversavam eu me deparo com uma verdadeira cena de guerra. 

  Fogo se espalhava por todos os lados engolindo tudo, as paredes tremiam e ameaçavam desabar. Um grito de dor agonizante me fez voltar a realidade, era minha mãe. Corri em sua direção o mais rápido que pude.

     -MÃE- gritei- Mamãe cadê você?- Me senti como uma criança de novo, era como procurar minha mãe no supermercado só que no lugar de prateleiras eram chamas. 

   Finalmente avistei a origem da voz, mas era tarde demais e as chamas incontroláveis cobriam a última parte visível de seu corpo.

     -MÃE!!!- gritei enquanto corria em direção ao seu corpo- Me desculpa por tudo mãe, eu sinto muito.
     -Que patética, nem assume a culpa- A voz de Agatha ecoou atrás de mim- você falhou com todo mundo mais uma vez. 

   Lágrimas embaçaram meus olhos, era verdade eu tinha falhado de novo. Como alguém tão inútil como eu ainda estava viva? 

     -Agora fique aí e pelo menos tenha a dignidade de morrer- ela disse com desgosto explícito na sua voz.

  Um estrondo reverberou por todos os lados e as paredes, já danificadas, cederam. Eu nem pude pensar em correr quando um bloco me atingiu prendendo me embaixo dele. Busquei desesperadamente por um ar que não veio, meu pulmões não se expandiram. 

  Meus olhos se fecharam, só para instantes depois se abrirem de novo. Eu estava estirada no chão do quarto ainda sem conseguir respirar. Foi um sonho. 

  Agatha saiu de sua cama e acendeu um abajur. Ela deve ter dito alguma coisa já que sua boca se mexeu, mas não pude ouvi-lá. Só sei que instantes depois ela está no chão tentando me ajudar.

  Admiro sua iniciativa mesmo depois de tudo, se eu sobreviver certamente tenho que agradecê-la de joelhos por tudo. Uma pena que mesmo assim nada funcionou, ainda sem respirar e me contorcendo no chão pontinhos pretos começaram a aparecer nos cantos da minha visão já embaçada. 

  Em questão de segundos perdi a consciência. Era isso, esse era o meu fim. Megan Morgause, a garota que morreu por um pesadelo. 

   De Repente me deu uma vontade enorme de viver, de ao menos lutar por uma chance, sabe? Como se respondesse ao meu pedido uma rajada de ar inflou meus pulmões, logo em seguida veio outra e então meu coração foi impulsionado a bater. 

  Eu estava viva. Meus olhos foram aos poucos retomando o foco e vi como em sonho, dos bons, o rosto de Agatha iluminado pela fraca luz do abajur. Seu corpo estava em cima do meu e suas mãos faziam pressão sob meu peito. 
    
      -12, 13, 14, isso Meg vamo lá- Pude ouvi-lá dizer- Meg se estiver me escutando pisca duas vezes- Ela tinha parado com a ressuscitação e agora olhava diretamente para mim.

 Sem exitar pisquei em resposta. O alívio ficou visível em seu rosto.

     -Vai ficar tudo bem- Sua mão agora corria por meus cabelos- só respira tá? Foi tudo um pesadelo e já acabou. 

Queria acreditar que essa era a pior parte, mas eu sabia o que estava por vir. Isso era um sonho bom perto do que viria. Juntei toda a pouca força que tinha pra fazer pelo menos uma coisa útil.

     -Ataque, eles vão atacar amanhã- sussurrei o mais alto que pude- por favor me ajuda. 

  Quase que imediatamente uma onda de dor insuportável se espalhou pelo meu corpo. Fiz a única coisa racional possível, chorei igual criança enquanto Agatha passava a mão em meus cabelos enquanto sussurrava que foi apenas um sonho. Eu realmente tinha muito a agradecer a essa garota, daria a minha vida pela dela sem pensar duas vezes. Afinal a minha nem vale tanto assim. 

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