22- Agatha

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Dormi nas primeiras horas depois que Veríssimo chegou. Uma obcecada por teorias já era difícil de lidar, mas agora dois obcecados e um cachorro era demais 

  Mia desistiu depois de 30 minutos e por sorte ela deixou Lupi comigo, mais uma vez esse cachorro salvando o mundo. 

   Enfim, falaram muito e mais um pouco sobre cada detalhe do caso. Uma missão estava sendo organizada e começaria logo na manhã seguinte.

Pelo que ouvi entre os cochilos esperavam um ataque elaborado e de grande risco, mais da metade das equipes estavam sendo convocadas. O que era uma simples investigação para matar o tempo agora se tornou um dos maiores casos dos últimos 10 anos. 

   Todos estavam com os nervos à flor da pele, mas nem assim consegui escapar da conversa com Megan. Ela foi persuasiva, não desistiu até que eu tivesse falado tudo. E isso deve ter sido uma das melhores coisas que já fiz em toda a minha vida, pode parecer estúpido no começo mas logo se torna um alívio.

    Comecei falando sobre minha relação com a Liz, toda a culpa e saudade que sentia, aí chegamos nos acontecimentos da escola e sobre como o lance de troca de corpo me deixava extremamente confusa. Até hoje não sei explicar o que ocorreu no ritual, e quem eu realmente sou, Agatha ou Gabriel. Por fim chegamos no assunto pais, nunca falávamos disso, afinal minha mãe morreu a menos de três anos e os de Megan se foram pouco depois, nos conhecemos em meio ao luto. 

     Nenhuma de nós duas gosta de relembrar momentos parentais, ainda mais quando nossa memória mais marcante foi o dia de suas mortes. No meu caso o dia em que a polícia invadiu minha antiga casa e tirou minha mãe de mim, ainda lembro do rosto de cada um daqueles policiais. 

     O dia já havia sido cansativo demais, sem falar no trabalho iminente do dia seguinte. Então decidimos apenas encerrar a conversa por ali mesmo. O luto é uma das dores mais difíceis de se lidar, mas às vezes as pessoas simplesmente não estão prontas para falar sobre ele.

Um dia ainda tenho a esperança de podermos contar sobre como crescemos e como nossos pais foram amorosos, sem reviver todos os momentos de dor no processo. Podia sentir esse dia ficando cada vez mais próximo, mas ainda não era hoje. 

   Hoje era o dia de dormir e tentar me preparar para a operação de contra-ataque. Nada melhor do que dividir uma cama com minha namorada antes de uma guerra contra o paranormal, ter um momento onde só nossas respirações importam e as batidas dos corações se sincronizam.

    A agitação entre as equipes começou logo cedo e durou pelos últimos dois dias, equipes se reunindo por todas as partes montando estratégias e discutindo os planos.

Cada classe de agentes era responsável por uma parte do plano, os ocultistas se dividiam em dois grupos, ocultistas de campo e os de assistência. Na fábrica tinha sido minha primeira vez em campo e odiei com todas as minhas forças, por isso não exitei em me juntar aos ocultistas de assistência. 

  Eles se reuniram na sala de rituais e um cara mais velho com os olhos cor-de-rosa começou a distribuir ordens. Ajudei um grupo a selecionar os itens amaldiçoados e separar os melhores ingredientes ritualísticos. 

  Estava tudo uma correria. Depois que a notícia sobre nossa descoberta se espalhou, as pessoas foram percebendo a gravidade da situação e uniram forças para agir o quanto antes. Cada hora que passávamos sem fazer nada dava mais tempo para que esses exoterroristas se organizassem. 

  Agentes infiltrados passaram informações de dentro da escola, a situação era assustadora pra dizer o mínimo, estimavam que pelo menos 10 ocultistas de alto nível estariam envolvidos e cada um com sua própria equipe. Isso sem contar os carregamentos suspeitos de caminhões que chegaram lá pela noite. 

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