26- Agatha

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Meus dedos corriam pelos cabelos de Megan enquanto ela se encostava em meu ombro. Tudo tremia enquanto Veríssimo acelerava a van fazendo curvas fechadas e avançando sinais vermelhos.

  Quando todos perceberam a grande armadilha na qual nos metemos, imediatamente começamos a voltar. A escola ia ficando cada vez menor atrás de nós e o dia quase clareava novamente, deviam ser quase 5 da manhã, mas sono era a última coisa que qualquer um ali sentia.

Na minha frente Raissa e Olivia tentavam de todas as formas fazer contato com os agentes na base, nada ainda. Cada segundo eu só conseguia pensar na Ivete, na Marcela, Samuel e todos os outros  que tinham ficado.

  Talvez tivéssemos descoberto a tempo de salvar pelo menos alguma coisa, ou alguém. Pensar nisso fez uma lágrima silenciosa escorrer. Olhei para Megan do meu lado, seus olhos também já úmidos.

      -Meg me promete uma coisa- disse quase em um sussurro enquanto segurava suas mãos- Me promete que essa vai ser a última vez que fazemos isso, que depois disso tudo nunca mais vai ficar se arriscando assim.

  Seus olhos encontraram os meus, e por trás eles transbordavam de cansaço e angústia. No fim tínhamos apenas 15 anos quando entramos em tudo isso, todos chegam ao seu limite uma hora.

      -Eu prometo Agápi.

  Puxei-a para um abraço, uma despedida antes de enfrentar o que quer que viesse pela frente.

  Mantendo a proximidade levei minha mão a sua mais nova cicatriz, um risco indo do meia da testa até quase a orelha. Devia ter doido sem dúvidas, mas ainda sim ela estava linda e não pude evitar de beijá-la.

  Talvez pela última vez.

      -Será que antes de entrarmos em uma próxima luta ou quase morte você pode finalmente me contar o que Agápi significa?- perguntei.

Megan estava de novo aninhada em meu ombro brincando com as tranças do próprio cabelo. Seu rosto ficou quase que instantaneamente vermelho.

      -É o que sinto toda vez que te vejo- respondeu ficando mais vermelha ainda.

  Eu por outro lado não entendi. Isso podia ser tantas coisas, felicidade, conforto, alegria, ódio, nojo. Era uma declaração ou seria só mais uma piada?

      -Significa amor em grego Agatha.

  Senti meu rosto corar na mesma hora. Todo esse tempo ela estava se declarando e eu nunca nem percebi.

  Nossos sorrisos bobos e declarações foram interrompidas por uma forte luz laranja assim que a van virou a última esquina. Toda aquela alegria fora imediatamente substituída por horror.

   Bem na nossa frente, chamas consumiam o interior do que um dia já foi o Suvaco Seco, enquanto a fumaça se espalhava com o vento. Ninguém além de nós estava ali, nenhum sinal de alguém ter escapado do fogo até agora.

   Em choque com a cena, todos descemos da van o mais rápido possível na esperança de ainda poder fazer algo.

      -O fogo está muito alto, entrar lá seria suicídio.- observou Marcus.

  Todos nós olhávamos para aquelas chamas em busca de respostas, esse lugar era praticamente minha casa, não podia deixar que queimasse. Sem falar nos que ainda podiam estar lá dentro. Veríssimo parecia tão arrasado quanto todo o resto e permanecia em silêncio.

   As chamas já estavam altas demais, qualquer coisa que fizéssemos seria muito arriscada. Fora a fumaça que mesmo à distância já fazia meus olhos queimarem.

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