25- Megan

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Eu tinha acabado de dar o último tiro quando algo me agarrou por trás e tapou minha boca, sufocando qualquer tentativa de gritar. 

       -Seja uma boa garota e fique quieta- A figura susurrou no meu ouvido com uma voz masculina e um bafo tão podre que chegava a queimar minhas narinas. 

  Com as pernas ainda livres tentei uma rasteira, por um segundo seu aperto afrouxou e investi de novo tentando sair. Em resposta ele apontou uma faca para o meu pescoço. Qualquer movimento agora resultaria em uma possível decapitação.

      -Você vai me obeder por bem ou por mal. 

   Ele subiu a faca até o meu rosto precionandoa contra minha pele. Uma lágrima de dor escorreu junto com a gota de sangue do corte recém aberto. Meu coração estava a mil, semanas antes eu teria lutado, esperneado e gritado até não poder mais, só que agora só conseguia sentir medo. Cada centímetro do meu corpo tremia, eu só queria sair de lá o mais rápido possível. 

   Uma luz de repente me cegou.

      -Finalmente podemos conversar- Falou o homem e mais uma vez seu bafo podre me intoxicou. 
      -Larga ela e talvez você saia vivo dessa- ameaça Olivia e todos apontaram suas armas em nossa direção.

  Fico feliz pela determinação e força da equipe Águia, mas as ameaças só fizeram com que o homem cravasse a faca no meu braço. Esperava que meu corpo tivesse sido anestesiado pelo medo até que a dor veio, e doía tanto, senti desde o sangue escorrendo até o músculo se contraindo em agonia. Diante disso eu só chorava silenciosamente sem forças para formar lágrimas e com um único desejo, sair daqui, viva ou morta. 

      -Coitadinha, não consegue mais manter a máscara de agente impecável agora né? O engraçado é que nenhum de vocês sequer duvidou de como um serzinho como esse descobriu um esquema grandioso como o meu.

   O bafo de estrume falante devia ser o ruivo multi personalidades. E sua fala só trouxe a tona meus mais profundos temores, tinha sido muito fácil e isso foi de propósito. 

      -Durante quase 5 anos eu me mantive nas sombras e nunca fui percebido por ninguém, nem os de mais alto escalão. Até que um dia duas garotas decidiram brincar de investigadoras e de repente desmascaram uma rede de ocultistas, estranho não acham? 
      -Cala a boca, você foi descoberto, agora solta ela!- Dessa vez foi Marcus quem gritou- Da próxima vez não vou pedir. 

   Mais uma vez a faca foi de encontro com a minha pele, agora cortando logo acima da minha sobrancelha. O sangue foi rapidamente escorrendo, cobrindo um de meus olhos e mais uma vez tudo o que pude fazer foi desejar desaparecer. 

      -Eu estou praticamente contando meu Grã finale e vocês não me deixam terminar- A ironia em sua voz era tanta que me revirava por dentro- E sobre sua garotinha aqui so tenho de agradecer a ela, afinal foi ela quem trouxe todos vocês aqui exatamente como eu precisava. Obrigado Megan, por ter sido tão ingênua assim, graças a você meus planos foram um sucesso. Uma pena que tenha tirado a tatuagem, fiz com o maior carinho na esperança de você mudar lado.

      -SEU DESGRAÇADO!

  A raiva que se acumulava dentro de mim chegou no limite. Reunindo todo o ódio das lembranças criadas por esse verme e do que eles fizeram em mim deferi um último golpe. Mordi seu braço e ao mesmo tempo chutei suas partes o mais forte possível, isso foi suficiente para seu aperto ao redor do meu pescoço afrouxar. Com essa abertura não exitei em me jogar escada abaixo. Segundos depois enquanto ainda caía pude ouvir dois tiros logo a cima. 

   O mundo todo girava ao meu redor enquanto pontos pretos dançavam pelos meus olhos como corvos, estava à beira da inconsciência quando alguém me segurou. 

      -Morgause olhos abertos, fica comigo- alguém falou. 

  Logo depois uma luz muito forte foi apontada bem nos meus olhos. Tentei protestar, mas saíram apenas alguns grunhidos. 

   Eventualmente minha visão foi se normalizando e dando lugar a dores por todo o meu corpo, talvez não devesse ter me jogado com tanta força. Com a visão e a mente mais clara tudo o que aquele homem falou começou a fazer sentido. 

   Desde o sequestro até os arquivos antigos que eu e Agatha encontramos, tudo isso foi planejado por ele, as provas foram basicamente nos dadas à medida em que avançávamos. O objetivo nunca foi um ataque em massa pra provar poder ou enfraquecer a membrana como todos pensavam, todo esse tempo estávamos sendo manipulados para entregar de bandeja exatamente o que os exoterroristas mais queriam, a base da Ordo Realitas. 

      -Precisamos voltar agora, era uma armadilha eles estão invadindo a Ordem- falei me pondo de pé em um pulo e logo em seguida caindo de novo no chão. 
      -Vai com calma aí você tá ferida, e que história é essa de armadilha?- Olivia perguntou. 
      -Não tenho tempo pra explicações. 

   Me pus de pé mais uma vez e ainda cambaleando saí correndo em direção às vans do lado de fora. 

   Corri no escuro confiando completamente na sorte para não cair enquanto lutava para manter a consciência, pelo menos até chegar perto de algum ser ainda vivo. Quase no fim do caminho me lembrei do rádio em meu bolso e mandei um sinal para base, isso diminuiria o risco de ser acidentalmente confundida com um zumbi de sangue ou existido de morte, que devido minha situação era bem provável. 

  As luzes dos veículos foram ficando cada vez mais próximas e brilhantes, com sorte não desmaiaria até estar em segurança. Borrões do que deveriam ser pessoas começaram a ficar cada vez mais nítidos. Meu coração batia tão forte até quase explodir e todos os meus músculos se contraiam em protesto, mas precisava corrigir meus erros pelo menos uma vez na minha vida.

      -Ag-dem-fi-vafo- Uma sombra maior bem na minha frente tentava dizer algo. 

   Pela falta de um plano melhor ( e talvez, só talvez, eu estivesse exausta) simplesmente cai pra frente. A inconsciência me atingiu antes mesmo de sentir o impacto contra o chão. 

   A próxima coisa de que me lembro de estar sendo segurada e balançada como em um touro mecânico até ser praticamente obrigada a abrir os olhos. Não fiquei nenhum pouco surpresa ao me deparar com grandes olhos vermelhos me encarando, estava no chão do lado de fora de uma das vans . Queria poder apenas fechar meus olhos e deixar tudo isso se resolver pelas mãos de outras pessoas enquanto dormia nos braços da minha namorada, de preferência em lugar seguro e sem sangue. Infelizmente dessa vez tudo dependia de mim 

      -Agatha cadê o Verissimo?
      -Ei Meg, calma acabaram de te trazer aqui, deixe que limpem o sangue primeiro e depois pode voltar a ação- Agatha respondeu tentando parecer calma, mas o nervosismo era palpável em sua voz. 
      -Você não entende Agatha, eles correm perigo, era tudo uma distração e a gente precisa voltar AGORA!!!

Lutei contra Agatha e mais uns 2 paramédicos para tentar me levantar, fracassei antes mesmo de começar. Eram 3 contra 0,5, sem dificuldade nenhuma eles me seguraram. Ainda sim precisava chegar até Verissimo custe o que custasse, vidas de agentes literalmente dependiam disso.

      -O que seria tão urgente assim Agente Morgause?

 Por um segundo cogitei seriamente estar alucinando até ver Verissimo em carne e osso, mesmo que meio borrado na minha visão.

      -Era tudo uma armadilha, nunca teve nenhum ataque em massa muito menos uma grande conspiração ocultista, nada da nossa investigação é o que parece e cada detalhe foi armado- Olhei ao redor e mais pessoas haviam se aproximado, todos com olhares curiosos e confusos- Esse  "ataque em massa’’ era só uma desculpa para nos atrair aqui e deixar o verdadeiro alvo desprotegido. 

      -A base…- completou Veríssimo, e o resto parecia ter finalmente entendido.     
      -Precisamos voltar agora, do jeito que um dos caras lá dentro falou não temos muito tempo- Raissa falou surgindo das sombras com toda a equipe Aguia atrás dela. 

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