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Alerta de lencinho.......

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Xiao Zhan


“ — Eles trancaram a porta pelo lado de fora — gritei para Wangji, que estava perto do canto da sala, brincando com uma tábua solta. 
— Nós não  podemos  escapar.  Não  tenho  certeza  do  que  diabos  eles  estão pensando. 
O canto era mais alto agora, cercando o celeiro por todos os lados.
Havia mais homens. Homens furiosos gritando. “Pecadores. Sodomitas.
Desviantes. Bichas.  “

Wangji  se  juntou  a  mim  perto  da  baia  de  Mirabelle.  Ela  estava relinchando  suavemente,  empurrando  minha  mão  enquanto  eu tentava acalmá-la. Seus olhos estavam tão assustados quanto os de Wangji, e eu mal podia conter o pânico dentro de mim. Eu precisava ser forte por eles enquanto desenvolvia um plano. 
Mas eu estava sem ideias. Tínhamos fugido para o celeiro para não sermos espancados. Mas agora que eles nos trancaram lá dentro, eu me  preparei  para  o  que  isso  significava.  Talvez  eles  estivessem esperando reforços. Mais homens para dar chutes e socos. Talvez eles pretendessem  nos  ensinar  uma  lição,  tornar  nossos  rostos irreconhecíveis.  Se  tudo  acontecesse,  eu  imploraria  para  que deixassem Wangji em paz e me machucassem. 
Meu batimento cardíaco trovejou nos meus ouvidos quando olhei em volta para as outras duas barracas, fardos de feno e calhas. Eu contei quatro  janelas.  Duas  inferiores  e  duas  superiores  de  cada  lado.
Escapar por qualquer uma delas significava ossos quebrados, quer de uma queda ou de punhos. 
Olhei na direção da casa. A mãe de Wangji sairia a qualquer momento e  afugentaria  todos  eles. Afinal, era  propriedade  privada.  Ou  talvez alguém  mandasse  chamar  o  xerife.  Ele  não  permitiria  que  isso acontecesse, deixaria? 
Estendi a mão para Wangji e o abracei enquanto ele tremia como uma folha.  — Talvez eles só pretendam nos assustar. Nós provavelmente ainda  temos  tempo  para  pegar  o  trem.  Vamos  apenas  esperar  eles saírem. 
A mentira caiu da minha língua facilmente. Eu queria tanto protegê-lo. 
Wangji limpou a bochecha e se afastou, subindo a escada para o sótão.
Para o nosso lugar sagrado que agora parecia invadido. 
  — Há mais deles agora, Wei Ying — disse ele em uma voz trêmula, enquanto estava na ponta dos pés para olhar pela janela ao lado do sótão.

—  Você  reconhece  algum  deles?  —  Eu  perguntei,  acariciando Mirabelle uma última vez antes de subir a escada para me juntar a ele. 
  — Talvez se seus rostos não estivessem cobertos. 

Eu coloquei minha mão sobre o ombro de Wangji para tentar acalmá-lo tanto quanto eu quando ele se inclinou mais perto da janela. 
  — Alguns estão carregando tochas. 
—   Tochas? —   Perguntei  com  uma  voz  vacilante  enquanto  meu estômago se afundava. Os gritos se tornaram mais altos em todas as direções, e os relinchos de Mirabelle ficaram mais pronunciados. 
  — Acham que vão sair desta cidade e espalhar sua doença em outro lugar? — Um deles gritou.
Quando olhei por cima do ombro de Wangji, o homem  levou  a  tocha  para  as  malas  que  deixamos  cair  quando corremos. Sem dúvida, eles encontraram nossas passagens de trem e sabiam de nossos planos. 
  — Porra — Wangji sussurrou em torno de uma garganta seca. 
  — Alguém precisa ensinar uma lição a esses sodomitas! — Berrou outra pessoa. 
—   Está  certo  —   juntou-se  outro,  e  então  pareceu  que  a  multidão havia fechado fileiras enquanto batiam nas paredes do celeiro. Meus dentes  bateram  juntos  enquanto  meu  pulso  deslizava  em  minhas veias. 
Houve um alto baque  no telhado do celeiro como se algo tivesse sido arremessado lá em cima. 

— Vamos fazer com que esses desviantes paguem pela propagação do pecado. 
Prendi a respiração, mas apenas um minuto depois percebi que uma tocha havia sido lançada quando a fumaça começou a flutuar do teto.
Mais pancadas no telhado. Mais  tochas sendo arremessadas acima de nossas cabeças no sótão. 

"DE LUZ SOLAR E POEIRA ESTELAROnde histórias criam vida. Descubra agora